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Paulo Jorge Pereira

"A Insustentável Leveza do Ser", de Milan Kundera

Falando sobre a Primavera de Praga, da forma como foi esmagada pelas tropas soviéticas e do regime do Pacto de Varsóvia e das vidas de alguns dos que passaram por tudo isto, "A Insustentável Leveza do Ser", de Milan Kundera, foi escrito em 1982 e publicado dois anos mais tarde.


Para quem possa pensar que Literatura foi o primeiro interesse de Milan Kundera, nada melhor do que lembrar que, de facto, música e, em particular, a aprendizagem de piano é a resposta certa. Afinal, o futuro escritor aproveitava a tendência paterna para travar profundo conhecimento das melhores formas de tocar piano: Ludvik Kundera fora um dos melhores alunos do compositor Leos Janacek, um dos noems mais famosos da Academia de Música da cidade de Brno. Aqui nasceu Milan, a 1 de abril de 1929, estudando música antes da Literatura na Universidade de Praga. Mas também não se ficou por aqui, dedicando-se ao Cinema na Academia de Artes Performativas da capital da então Checoslováquia. Mas a política iria conferir um novo rumo à sua vida...

No começo dos anos 50 seria expulso do Partido Comunista, mas pôde regressar em 1956 e usaria aquela expulsão para a escrita do livro "A Brincadeira", publicado em 1967. Mas as suas primeiras obras foram de poesia: "Homem Jardim Claro" (1953), "Maio Passado" (1955) e "Monólogos" (1957). Os desentendimentos com os comunistas prolongaram-se e, depois da esperança vivida ao lado de nomes tão importantes como Vaclav Havel e Alexander Dubcek na Primavera de Praga, a invasão das tropas soviéticas e de países do Pacto de Varsóvia esmagou o movimento reformista, devolvendo o poder ao regime totalitário e tutelado por Moscovo. Sob vigilância e perseguido pela polícia política, Kundera iria remeter-se ao exílio, passando a viver em França em 1975, já depois de ter voltado a ser expulso do Partido Comunista em 1970 (as suas obras foram afastadas de circulação e o regime retirou-lhe a nacionalidade, apenas restituída em 2019 e com direito a pedido de desculpa por parte do embaixador checo em Paris).

Ao mesmo tempo, a sua escrita evoluía e, já depois do primeiro romance, "A Brincadeira", publicaria "Risíveis Amores", um livro de contos (1969), seguindo-se "A Vida Não É Aqui" (1973), "A Valsa do Adeus" (1976) e "O Livro do Riso e do Esquecimento" (1978). Mas só em 1984 surgiria a obra de que hoje é aqui apresentado um excerto, "A Insustentável Leveza do Ser", na qual é abordada a vida do trio Tomas, Tereza e Sabina durante a Primavera de Praga. Seria o único livro do autor a ter adaptação cinematográfica, em 1987, num filme de Philip Kaufman que contou no elenco com nomes como Juliette Binoche, Lena Olin e Daniel Day-Lewis. Para trás ficava uma peça de teatro, "Jacques e o seu Amo" (1981), e o ensaio "A Arte do Romance" (1986). A este último ramo da escrita regressaria em diferentes ocasiões: "Os Testamentos Traídos" (1993), "A Cortina" (2005) e "Um Encontro" (2009).


Dom Quixote/Tradução de Joana Varela


Aos 92 anos, apesar de lhe ter sido restituída a nacionalidade checa e com direito a pedido de desculpa pela retirada decidida pelo regime comunista ao serviço de Moscovo após o esmagamento da Primavera de Praga, Kundera prefere continuar a viver em Paris.

Mas os anos 90 começariam com a publicação do romance "A Imortalidade" ao qual iria acrescentar outros quatro: "A Lentidão" (1995), "A Identidade" (1997), "A Ignorância" (2000) e "A Festa da Insignificância" (2014).

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