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Paulo Jorge Pereira

Agostinho Costa Sousa lê "A Biblioteca à Noite", de Alberto Manguel

Leitor para Borges, apaixonado por livros, escritor, tradutor, viajante pelo mundo e ex-diretor da Biblioteca Nacional da Argentina, Alberto Manguel encontrou em Lisboa o espaço para a sua biblioteca com cerca de 40 mil exemplares. Hoje, Agostinho Costa Sousa propõe um trecho da sua obra "A Biblioteca à Noite".



Descendente de judeus, filho do casal formado por Pablo e Rosalía Manguel, Alberto nasceu a 13 de março de 1948 em Buenos Aires, tendo obtido mais tarde a nacionalidade canadiana. O pai foi embaixador em Israel, país onde a família passou alguns anos. De volta à Argentina, iria apaixonar-se por livros quando, ainda na adolescência, trabalhou na livraria Pygmalion - "um dos pontos de encontro na cidade por quem se interessava por literatura", segundo escreveu o próprio -, aqui conhecendo Jorge Luis Borges. Estando este à beira da cegueira, Alberto Manguel faria leituras para o famoso escritor, em casa de Borges, entre 1964 e 1968. Ainda tentou a licenciatura em Filosofia e Letras, mas deixou os estudos ao fim de um ano e voltou ao universo dos livros, neste caso trabalhando na Editorial Galerna. Decidiu, então, tornar a sair da Argentina e passou por Espanha, França, Itália e Inglaterra, desempenhando tarefas como leitor e tradutor em editoras. De 1971 é o seu primeiro trabalho premiado, no caso uma coletâena de contos. Regressa à Argentina no ano seguinte, trabalha como editor, e torna a viajar, em 1976, nessa altura com o Taiti como destino. Era já casado com Pauline Ann Brewer de quem, até 1986, duas filhas e um filho: Alice Emily, Rachel Claire e Rupert Tobias.

Sem nunca deixar a escrita, passa por Paris e por solo inglês antes de breve regresso ao Taiti. No começo dos anos 80 instala-se em Toronto, datando desta fase, que se prolongou até ao final dos anos 90, a sua aquisição da nacionalidade canadiana. Vai publicando livros e artigos em diferentes jornais, além do trabalho na Universidade de Calgary.

Em 2000, compra e reforma um mosteiro medieval francês, em conjunto com Craig Stephenson, seu parceiro após o divórcio da mulher. No entanto, esse não será o lugar definitivo para os seus cerca de 40 mil livros e tenta que as autoridades canadianas se interessem pelo seu projeto de criar uma biblioteca com esse conteúdo, mas a falta de financiamento inviabiliza a ideia. Prossegue as viagens e o trabalho literário, é diretor da Biblioteca Nacional da Argentina entre 2016 e 2018, recebe diversas propostas para instalar os seus livros e acaba por aceitar a de Lisboa.

A 12 de setembro de 2020, na Feira do Livro, assina com o então presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, o protocolo que estabelecia a bases para a instalação da biblioteca que criara, no palacete dos Marqueses de Pombal, na Rua das Janelas Verdes, em plena capital portuguesa. Passa, assim, a desempenhar o papel de diretor do Centro de Estudos de História da Leitura.

Além da presença do seu trabalho literário em inúmeras antologias, publicou os romances "News From a Foreign Country Came" (1991), "Stevenson Under the Palm Trees" (2003), "O Regresso" e "Um Amante Extremamente Minucioso" (ambos de 2005),

"Todos os Homens São Mentirosos" (2008) e "Embalando a Minha Biblioteca" (2017).

Em não-ficção já publicou cerca de duas dezenas de obras que vão do "Dicionário de Lugares Imaginários" (1980), com Gianni Guadalupi, a "Uma História da Curiosidade" (2015), passando por títulos como "Uma História da Leitura" (1996), "No Bosque do Espelho" (1998), "Com Borges" (2004), "A Biblioteca à Noite" (2006), de que hoje é apresentado aqui um trecho por Agostinho Costa Sousa, ou "A Reader on Reading" (2010).

Numa entrevista à Agência Lusa (2019), Manguel defendeu: "Na história da escrita, os leitores nunca foram a maioria, sempre foram a elite, mas é uma elite à qual todos podem pertencer, é como um clube elitista, mas com as portas abertas."

Para saber mais sobre o autor é possível consultar o seu site aqui.


Tinta da China/Tradução de Rita Almeida Simões


"Noites há em que sonho com uma biblioteca inteiramente anónima em que os livros não têm títulos, nem ostentam autores, formando uma corrente narrativa contínua", escreve Manguel. "Nessa biblioteca, o herói d'O Castelo embarcaria no Pequod, em busca do Santo Graal, acostaria numa ilha deserta e, usando fragmentos dados à costa, reconstruiria a sociedade a partir das suas ruínas, relataria o seu primeiro encontro centenário com o gelo e recordaria, em penoso pormenor, como se recolhia cedo à cama."

Agostinho Costa Sousa reside em Espinho e socorre-se da frase de Antón Tchekhov: "A medicina é a minha mulher legítima, a literatura é ilegítima" para se apresentar. Estreou-se a ler por aqui a 9 de maio com "A Neve Caindo sobre os Cedros", de David Guterson, seguindo-se "As Cidades Invisíveis", de Italo Calvino, a 16 do mesmo mês, mas também leituras de obras de Manuel de Lima e Alexandra Lucas Coelho a 31 de maio. "Histórias para Uma Noite de Calmaria", de Tonino Guerra, foi a sua escolha no dia 4 de junho. No passado dia 25 de julho, a sua escolha recaiu em "Veneno e Sombra e Adeus", de Javier Marías, seguindo-se "Zadig ou o Destino", de Voltaire, a 28. O regresso processou-se a 6 de setembro, com "As Velas Ardem Até ao Fim", de Sándor Márai. Seguiram-se "Histórias de Cronópios e de Famas", de Julio Cortázar, no dia 8; "As Palavras Andantes", de Eduardo Galeano, a 11; "Um Copo de Cólera", de Raduan Nassar, a 14; e "Um Amor", de Sara Mesa, no dia 16. A 19 de setembro, a leitura escolhida foi "Ajudar a Estender Pontes", de Julio Cortázar. A 17 de outubro, a proposta centrou-se na poesia de José Carlos Barros com três poemas do livro "Penélope Escreve a Ulisses". Três dias mais tarde leu três poemas inseridos na obra "A Axila de Egon Schiele", de André Tecedeiro.

A 29 de novembro apresentou "Inquérito à Arquitetura Popular Angolana", de José Tolentino de Mendonça. De dia 1 do mês seguinte é a leitura de "Trieste", escrito pela croata Dasa Drndic e, no dia 3, a proposta foi um trecho do livro "Civilizações", escrito por Laurent Binet. No dia 5, Agostinho Costa Sousa dedicou atenção a "Viagens", de Olga Tokarczuk. A 7, a obra "Húmus", de Raul Brandão, foi a proposta apresentada. Dois dias mais tarde, a leitura foi dedicada a um trecho do livro "Duas Solidões - O Romance na América Latina", com Gabriel García Márquez e Mario Vargas Llosa. Seguiu-se "O Filho", de Eduardo Galeano, no dia 20. A 23, Agostinho Costa Sousa trouxe "O Vício dos Livros", de Afonso Cruz. Voltou um mês mais tarde com "Esta Gente/Essa Gente", poema de Ana Hatherly. No dia 26 de janeiro, apresentou "Escrever", de Stephen King. Quatro dias mais tarde foi a vez de Maria Gabriela Llansol com "O Azul Imperfeito". "Poemas e Fragmentos", de Safo, e "O Poema Pouco Original do Medo", de Alexandre O'Neill, foram outras recentes participações. Seguiram-se "Se Isto É Um Homem", de Primo Levi, e "Se Isto É Uma Mulher", de Sarah Helm. No dia 18 de março, a leitura proposta foi de um excerto de "Augustus", de John Williams. A 24, Agostinho Costa Sousa leu "Silêncio na Era do Ruído", de Erling Kagge; a 13 de abril, foi a vez do poema "Guernica", de Rui Caeiro e, no dia 20, apresentou um pouco de "Great Jones Street", de Don DeLillo.

No Especial dedicado ao 25 de Abril, a sua escolha foi para "O Sangue a Ranger nas Curvas Apertadas do Coração", escrito por Rui Caeiro, seguindo-se "Ararat", de Louise Glück, no Dia da Mãe e do Trabalhador, a 1 de maio. "Ver: Amor", de David Grossman, foi a proposta de dia 17. No dia 23, a leitura proposta trouxe Elias Canetti com um pouco da obra "O Archote no Ouvido".

A 31 de maio surgiu com "A Borboleta", de Tonino Guerra. A 5 de junho trouxe um excerto do livro "Primeiro Amor, Últimos Ritos", de Ian McEwan. A 17, a escolha recaiu sobre "Hamnet", de Maggie O'Farrell. A 10 de julho, o trecho selecionado saiu da obra "Ofuscante - A Asa Esquerda", do romeno Mircea Cartarescu. No dia 19 de julho apresentou "Uma Caneca de Tinta Irlandesa", de Flann O'Brien. A 31 de julho leu um trecho da obra "Por Cuenta Propia - Leer y Escribir", de Rafael Chirbes. No dia 8 de agosto foi a vez de "No Entres Docilmente en Esa Noche Quieta", de Ricardo Menéndez Salmón. A 15 de agosto apresentou "Julio Cortázar y Cris", de Cristina Peri Rossi. Uma semana mais tarde, a leitura foi de um trecho da obra "Música, Só Música", de Haruki Murakami e Seiji Ozawa. De 12 de setembro é a sua leitura de um poema do livro "Do Mundo", cujo autor é Herberto Helder. "Instruções para Engolir a Fúria", de João Luís Barreto Guimarães, foi a leitura a 16 de setembro e já aqui regressou.

A 6 de outubro leu um trecho da obra "Jakob, O Mentiroso", de Jurek Becker. "Rebeldes", de Sándor Márai, foi a leitura do dia 11. Mircea Cartarescu e "Duas Formas de Felicidade" surgiram dois dias mais tarde. Seguiu-se "Diários", do poeta Al Berto, a 17 de outubro. Três dias mais tarde propôs "A Herança de Eszter", de Sándor Márai. A 2 de novembro apresentou "Os Irmãos Karamazov", de Fiódor Dostoiévski. Data de 22 de novembro a leitura de "Nicanor Parra: Rey y Mendigo", de Rafael Gumucio. A 30 de novembro leu "Schiu", de Tonino Guerra. No passado dia 12 trouxe "Montaigne", de Stefan Zweig. Recuperei a sua leitura do poema "Instruções para Engolir a Fúria" no dia 16 quando o autor, João Luís Barreto Guimarães, foi distinguido com o Prémio Pessoa. A 23 apresentou um excerto de "Silêncio na Era do Ruído", de Erling Kagge. No dia 6 de janeiro a escolha recaiu sobre "Lições", de Ian McEwan. A 16 de janeiro apresentou "Stalinegrado", de Vasily Grossman.

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