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Paulo Jorge Pereira

"As Crónicas", de António Lobo Antunes

No 37.º livro de António Lobo Antunes, o que está em causa são, afinal, "As Crónicas" do escritor. Neste caso, trata-se de uma antologia que reúne aqueles que são considerados os melhores exemplares (e algumas estreias) dentro deste género com a sua assinatura.



O livro de António Lobo Antunes que aqui volta engloba mais de centena e meia de crónicas do escritor que, entre 1988 e 2013, foram ajudando a compor cinco edições com os textos que o autor foi publicando. Mas também há espaço para novidades e, entre as que compõem este "As Crónicas", há nove inéditas. Temas não faltam, como de costume, e os textos permitem um verdadeiro desfile de pontos sobre os quais é habitual a abordagem de Lobo Antunes. Hoje recupero um trecho da crónica "Qualquer Luz é Melhor que a Noite Escura".

Ninguém fica indiferente à escrita, personalidade e vasta obra de António Lobo Antunes que granjeou respeito e admiração além-fronteiras. Há quem ame e quem deteste, quem seja fiel leitor e quem se mantenha à margem. Nascido em Benfica a 1 de setembro de 1942 e filho de um neurologista/professor que foi assistente de Egas Moniz, Lobo Antunes licenciou-se em Medicina (iria especializar-se em Psiquiatria). É irmão do neurocirurgião João Lobo Antunes, falecido em 2016, e ainda do neuropediatra Nuno Lobo Antunes, de Miguel Lobo Antunes (programador na área da Cultura), de Manuel Lobo Antunes (jurista e embaixador português no Reino Unido) e do arquiteto Pedro Lobo Antunes.

O seu trabalho literário, traduzido e publicado em dezenas de países, é muito marcado pelas terríveis experiências como cirurgião militar na guerra colonial, onde esteve entre 1971 e 1973. As cartas que trocou com a mulher (Maria José Xavier da Fonseca e Costa) nesse período foram reunidas em livro pelas duas filhas (Maria José e Joana) desse primeiro de três casamentos (as outras companheiras são Maria João Espírito Santo Bustorff Silva, de quem teve uma filha, e Cristina Ferreira de Almeida) e passadas para o grande ecrã em 2016, neste filme realizado por Ivo M. Ferreira. Autor de dezenas de romances e de diversos livros de crónicas, o seu nome tem sido muitas vezes apontado como candidato ao Prémio Nobel, um dos poucos que lhe faltam: em 2007, por exemplo, recebeu o Prémio Pessoa.

"Memória de Elefante", do qual foi apresentado aqui um trecho por Duarte Baião em junho de 2021, data de 1979, o mesmo ano de lançamento do livro "Os Cus de Judas", seguindo-se "Conhecimento do Inferno" (1980), "Explicação dos Pássaros" (1981), "Fado Alexandrino" (1983), "Auto dos Danados" (1985), "As Naus" (1988), "Tratados das Paixões da Alma" (1990), "A Ordem Natural das Coisas" (1992), "A Morte de Carlos Gardel" (1994), "A História do Hidroavião" (ilustrado por Vitorino e também de 1994), "Manual dos Inquisidores" (1996), "O Esplendor de Portugal" (1997), o primeiro "Livro de Crónicas" (1998), "Exortação aos Crocodilos" (1999), "Não Entres Tão Depressa Nessa Noite Escura" (2000), "Que Farei Quando Tudo Arde?" (2001), o "Segundo Livro de Crónicas" (2002), "Letrinhas das Cantigas" (ainda de 2002), "Boa Tarde às Coisas Aqui em Baixo" (2003), "Eu Hei-de Amar uma Pedra" (2004), "D'Este Viver Aqui Neste Papel Descripto: Cartas da Guerra" (2005), "Terceiro Livro de Crónicas" (2006), "Ontem Não te Vi em Babilónia" (ainda de 2006), "O Meu Nome é Legião" (2007), "O Arquipélago da Insónia" (2008), "Que Cavalos São Aqueles Que Fazem Sombra no Mar?" (2009), "Sôbolos Rios que Vão" (2010), "Quarto Livro de Crónicas" e "Comissão das Lágrimas" (ambos de 2011), "Não É Meia-Noite Quem Quer" (2012), "Quinto Livro de Crónicas" (2013), "Caminho como Uma Casa em Chamas" (2014), "Da Natureza dos Deuses" (2015), "Para Aquela que Está Sentada no Escuro à Minha Espera" (2016), "Até Que as Pedras Se Tornem Mais Leves Que a Água" (2017), "A Última Porta antes da Noite" (2018), "A Outra Margem do Mar" (2019), "Diccionario da Linguagem das Flores" (2020) e "O Tamanho do Mundo" (2022).


Dom Quixote


"As Crónicas" foram um dos livros mais procurados na edição da Feira do Livro em 2022.

A 21 de abril de 2020, a obra de António Lobo Antunes já se estreara por aqui com a leitura do livro "Os Cus de Judas", apresentada pelo jornalista Rogério Azevedo. Mas tem sido presença regular, sobretudo através do livro que hoje regressa, pois já por diversas vezes foram aqui lidas crónicas.

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