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  • Paulo Jorge Pereira

"As Ondas", de Virginia Woolf


Considerada uma das mais marcantes escritoras modernistas do século XX, além de se bater pelos direitos das mulheres e contra o desmesurado poder dos homens, Virginia Woolf começou a escrever em termos profissionais aos 18 anos. O excerto do livro "As Ondas" que aqui se apresenta é apenas um exemplo do seu trabalho.



A sua voz nunca se cansou de erguer-se a favor dos direitos das mulheres e contestar o excesso de poder dos homens, abordando ainda outras questões sociais e políticas do seu tempo. Adeline Virginia Stephen, que passaria a ser Virginia Woolf a partir do casamento com o historiador Leonard Woolf, nasceu em Kensington, Londres, a 25 de janeiro de 1882. A mãe, Julia Stephen, dedicava-se à filantropia, enquanto o pai, Leslie Stephen, era escritor. Eram frequentes as presenças de grandes vultos do meio literário em sua casa, casos de Henry James, Alfred Tennyson, Thomas Hardy ou Edward Burne-Jones. Com este ambiente à sua volta, a pequena Virginia não foi à escola e a sua educação decorreu em casa - os irmãos, porém, estudavam em Cambridge. Há suspeitas de que dois dos seus meios-irmãos, George e Gerald Duckworth, lhe teriam provocado sérios danos psicológicos, que lhe originaram uma perturbação afetiva bipolar, não diagnosticada nem tratada na altura, fator decisivo para o seu suicídio, devido aos abusos que sofreu. A mãe morreria em 1895 e Virginia, com apenas 13 anos, passou pela primeira vez por problemas mentais. Vítima de cancro, o pai faleceu em 1904, e a futura escritora tornou a sofrer de dificuldades do foro mental. Tudo isto sucedia pouco depois de a jovem se estrear na escrita de ensaios e até a publicar um artigo no suplemento feminino do jornal The Guardian. Nessa altura, Virginia foi morar com os irmãos no bairro de Bloomsbury, no qual viviam, por exemplo, John Keynes, E.M. Forster, T.S. Eliot ou Bertrand Russell. Em novembro de 1904, Virginia conheceu o amigo do seu irmão Thoby e futuro marido Leonard Woolf num jantar e, no ano seguinte, criariam o chamado Grupo de Bloomsbury, tertúlia literária que integrava, além de Virginia e Leonard, vários escritores, pintores, críticos, filósofos, economistas, entre outros. Desprezavam as convenções da era vitoriana e queriam inovar, libertar-se das amarras sociais vigentes. No círculo literário aconteceram diversas relações amorosas, entre as quais a que ligou Virginia à escritora Vita Sackville-West. O ano de 1906 fica marcado por novo golpe contundente na vida de Virginia: após uma viagem à Grécia, Thoby adoece com gravidade devido a febre tifóide e acaba por morrer. Apesar do intenso sofrimento a que foi submetida, Virginia prosseguiu a escrita e a participação nos encontros literários que chegaram a incluir Winston Churchill e D.H. Lawrence. O casamento com Leonard seria realizado em 1912 e, em 1915, Virginia publicou o primeiro romance com o nome de "A Viagem". De 1918 a 1939, a escritora e o marido dedicaram-se a imprimir livros à mão, depois de fundarem, em 1917, a editora Hogarth Press, com funcionamento na sua própria sala de estar e apresentando ao mundo autores como T.S. Eliot ou Katherine Mansfield. Entretanto, foi escrevendo e publicando: "Noite e Dia" (1919), "O Quarto de Jacob" (1922), "Mrs Dalloway" (1925, um dos seus livros que tiveram adaptação cinematográfica), "To the Lighthouse" (1927), "Orlando" (1928), "Um Quarto que Seja Seu" (1929), "As Ondas" (1931), "Os Anos" (1937) ou "Entre os Atos" (1941) são apenas alguns exemplos. Entre romances, ensaios, teatro, diários, contos e biografias, somou dezenas de publicações.


Coleção Mil Folhas (Público)/Tradução de Lucília Rodrigues


A vida de Woolf foi objeto de tratamento em livro por diversas biografias, uma das quais publicada em 1972 por Quentin Bell, seu sobrinho.

Perturbada, triste, profundamente deprimida com a destruição da sua casa devido aos bombardeamentos da aviação nazi e com as críticas negativas à biografia de Roger Fry que escrevera, a 28 de março de 1941 a escritora vestiu um casaco, encheu os bolsos com pedras, dirigiu-se ao rio Ouse, mergulhou e suicidou-se. Na nota de suicídio que deixou ao marido escreveu: "Querido, tenho a certeza de que enlouquecerei novamente. Sinto que não podemos passar por outro daqueles tempos terríveis. E, desta vez, não vou recuperar. Começo a escutar vozes e não consigo concentrar-me. Por isso faço o que me parece ser a melhor coisa a fazer. Tenho recebido de si a maior felicidade possível. Tem sido, em todos os aspetos, tudo o que alguém poderia ser. Não acho que duas pessoas pudessem ter sido mais felizes até à chegada desta terrível doença. Não consigo mais lutar. Sei que estou a estragar a sua vida, que sem mim poderia trabalhar. E vai trabalhar, eu sei que sim. Repare que nem sequer consigo escrever isto apropriadamente. Não consigo ler. O que quero dizer é que lhe devo toda a felicidade da minha vida. Tem sido inteiramente paciente comigo e incrivelmente bom. Quero dizer que – todos sabem disso. Se havia alguém que pudesse salvar-me era o querido. Tudo se foi para mim, menos a certeza da sua bondade. Não posso continuar a estragar a sua vida. Não creio que duas pessoas pudessem ter sido mais felizes do que nós."

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