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Paulo Jorge Pereira

"Crónicas do Desassossego", de Duarte Baião

Duarte Baião foi jornalista em três jornais diferentes. Habituou-se à pressão da notícia e da atualidade inerente à profissão. Quando mudou de vida, a escrita nunca deixou de ser um amor verdadeiro, permanente e dedicado. Em maio de 2020, li aqui uma das suas crónicas, ilustrativas do talento que o distingue. Então, escrevi que bastaria uma editora "para que muitos mais leitores partilhassem este belo segredo. Nessa altura, deixará de ser segredo. Mas continuará belo". Deixou de ser segredo a 5 de junho de 2021, continuou belo e lá estive ao seu lado na apresentação de "Crónicas do Desassossego". Esteve na Feira do Livro. E eu lá estive. No domingo, a sessão "5 Anos, 5 Autores", da Cordel d' Prata, selecionou o seu livro para ter uma edição em capa dura ao lado de outros quatro. E aqui recupero a leitura que publiquei a 6 de junho.



Duarte Baião nasceu a 8 de maio de 1974 em Moçambique mas é lisboeta desde os dois meses. Trabalhou como jornalista nos jornais A Bola, 24 Horas e Diário de Notícias. Na primeira etapa, estivemos juntos numa redação hoje irrepetível por circunstâncias variadas, a primeira das quais as terríveis mudanças que a máquina trituradora da comunicação sofreu nos últimos anos. Agora a sua atividade situa-se numa empresa do ramo das tecnologias de informação. Mas o prazer e a necessidade de escrever não se perderam, pelo que foi passando para o papel uma série de impressões quotidianas no estilo que lhe é peculiar: apaixonado e apaixonante, atento, acutilante, com apurado sentido de humor e um olhar diferente sobre grandezas e misérias do ser humano.

Não há qualquer desejo de sofisticação ou falsa demonstração de intelectualidade no que escreve - passear pela sua prosa é uma delícia de simplicidade e lucidez, de cheiros e sabores, uma experiência com os cinco sentidos bem despertos em que o leitor caminha guiado pela imaginação do autor, desaguando em finais nem sempre felizes. Porque a vida não se faz só de felicidade, aqui estão também angústias e desilusões várias. E, acima de tudo, textos em que, na voz de um adulto, com a maturidade bem assente, parece que voltamos a ouvir o poema de O'Neill e, "como um adolescente", alguém "tropeça de ternura".


Cordel d' Prata


Ninguém sai ileso da leitura de "Crónicas do Desassossego" - e ainda bem, porque sentimos falta de autores que consigam escrever assim. Com o Duarte Baião podemos estar descansados: não há inquietação que nos falte. Agora, numa edição com capa dura.

Duarte Baião começou por ser referido aqui a 18 de maio do ano passado quando li a crónica que abre precisamente o seu livro de estreia e tem por título "Não Sei se Sabes ao que me Sabes". Mais tarde, ele próprio nos mostrou, por exemplo, como era excelente "ouver" a sua leitura de um poema inesquecível de Pablo Neruda: o Poema 14, inserido na obra "Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada".

Entretanto, a sua coleção de crónicas resultou num manuscrito com mais de uma centena de páginas e só faltava uma editora para que se transformasse num livro que terá leituras ávidas. Esse livro não só está à venda como, desde o passado domingo, tem uma edição em capa dura - chama-se "Crónicas do Desassossego", escrever o prefácio foi uma honra, estar ao lado do Duarte Baião na apresentação do seu primeiro livro um privilégio que não esquecerei, o mesmo acontecendo com a partilha da sua presença na Feira do Livro. Que venham o segundo, o terceiro, o quarto e assim sucessivamente... E, se um segundo livro de crónicas parece assegurado, não menos garantido estará um romance - é apenas uma questão de tempo. Esperemos, pois, pelas boas notícias.

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