A estreia de Edmundo Rivotti aqui no blog faz-se com uma leitura num formato especial, tendo música sua em pano de fundo, do poema "I Carry Your Heart With Me", escrito por E.E. Cummings.
"I Carry Your Heart With Me" faz parte da obra "Selected Poems 1923-1958". Nascido em Cambridge, Massassuchets, a 14 de outubro de 1894, Edward Estlin Cummings (costumava assinar com e.e. minúsculos...) inspirou-se no facto de ter sido preso durante três meses e meio na I Guerra Mundial sob suspeitas de espionagem (era um pacifista e, como parte da correspondência que tentava enviar de França para a família foi violada, assim o expondo à punição) para a publicação do seu primeiro livro, "The Enormous Room", em 1922. O primeiro dos livros de poesia sairia no ano seguinte sob o título "Tulips and Chimneys". Mas já escrevia poemas desde 1904, altura em que estudava Grego e Latim, tendo sido incluído na antologia "Eight Harvard Poets" em 1917. Além disso, três anos mais tarde The Dial publicou sete poemas da sua autoria, entre os quais se encontrava "Buffalo Bill's". Filho de um padre e professor, seria a mãe a encaminhá-lo para a paixão pela linguagem e pelo universo das Letras através de diferentes jogos em que Elizabeth, a irmã do futuro escritor, também participava.
"XLI Poems" é de 1925. No ano seguinte, o seu pai morreu num acidente de viação e a mãe ficou ferida. Cummings formara-se na Universidade de Harvard e registou influências de poetas vanguardistas como Ezra Pound ou Gertrude Stein. Seria um experimentalista a diversos níveis - forma, conteúdo, sintaxe, pontuação, estrutura - e conquistou inúmeros admiradores entre a juventude, fascinada pelo seu à-vontade com temáticas (guerra ou sexo) vistas como demasiado desconfortáveis. No entanto, apenas nos anos 50 teria o devido reconhecimento, tendo passado por momentos de fortes dificuldades financeiras até essa altura, sendo forçado a enveredar pelo caminho das publicações de autor. Viveu em Nova Iorque com frequentes incursões a Paris e viagens pela Europa, conhecendo o pintor Pablo Picasso, outra influência para o seu trabalho como artista visual. Na obra "EIMI" (1933) conta as suas peripécias de viagem à União Soviética em 1931, mas o México e vários países africanos também estiveram no seu percurso até ao final da década. "Collected Poems" (1938), "50 Poems" (1940), "1x1" (1944), "XAIPE - Seventy-One Poems" (1950) ou "i-six nonlecutres" (1953) são apenas alguns outros exemplos do seu trabalho.
Casou-se três vezes - com Elaine Orr, de quem teve uma filha (Nancy), durante nove meses em 1924; com Anne Minerly Barton, entre 1929 e 1932; e com Marion Morehouse, neste caso não de modo formal, entre 1934 e a altura da sua morte, em 1962 -, Cummings também foi autor de peças teatrais: "HIM" (1928), "Anthropos, or the Future of Art" (1930), "Tom, A Ballet" (1935) e "Santa Claus: A Morality" (1946).
E.E. Cummings foi distinguido com diversos galardões, incluindo o Bollingen Prize de Poesia em 1958. Morreu em 1962, a 3 de setembro, vítima de um derrame cerebral. "The Complete Poems: 1910-1962" só seria publicado em 1980.
Um dos seus poemas, "Somewhere I Have Never Travelled, Gladly Beyond", pode ser ouvido pela voz da atriz Barbara Hershey no filme "Ana e as Suas Irmãs", realizado por Woody Allen (1986).
Editora Faber
O poema aqui apresentado, "I Carry Your Heart With Me", foi escrito por E.E. Cummings em 1952.
Músico, jornalista, Edmundo Rivotti lança o álbum "The Truth's Lies" ao ritmo de uma canção e de um filme. O primeiro single, "Outer Space (I Don't Believe in)", foi finalista das First-Time Filmmakers Sessions dos Pinewood Studios. O poema, "I Carry your Heart with me", é de E. E. Cummings. A tradução é de Vasco Gato.
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