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Paulo Jorge Pereira

Eliana Miranda de Sousa lê "O Leitor do Comboio", de Jean-Paul Didierlaurent

Falar-nos do poder de que dispõe a leitura, sobretudo pela forma como consegue alterar vidas para sempre, é a proposta subjacente ao livro que Eliana Miranda de Sousa, alguém que lida todos os dias com esse universo mágico, nos propõe hoje: "O Leitor do Comboio", do francês Jean-Paul Didierlaurent.



"Pois é, pois é/Há quem viva escondido a vida intei-ei-ra/Domingo sabe de cor o que vai dizer... Segunda-fei-ei-ra." Jorge Palma canta assim no refrão de "Deixa-me Rir" e poderia ter-se inspirado em alguém como Guylain Vignolles, personagem do livro "O Leitor do Comboio", no original "Le Liseur du 6:27", de que Eliana Sousa aqui apresenta um excerto. À partida, como a figura da canção de Palma, Vignolles também nunca terá lambido uma lágrima e desconhecerá os cambiantes do seu sabor. A sua ideia de existência é, sobretudo, não existir, ser invisível. É um solitário de 36 anos, que todos os dias lê em voz alta no comboio das 6:27 a caminho de um trabalho executado de modo mecânico e rotineiro em sofrimento - a tarefa nada invejável de, em nome da reciclagem, mover a máquina que esmaga livros. Tudo parece conjugar-se para a monotonia sem fim de dias iguais após dias iguais. Ainda assim, numa espécie de assomo de rebeldia, Vignolles vai salvando algumas páginas da destruição a cada dia e são essas que lê durante as viagens de ida e volta. E o acaso vai impor-se quando encontra no comboio uma pen com o diário de Julie, uma leitora solitária que adora escrever. A descoberta do seu mundo passado para a escrita confere um ânimo e uma centelha de vida ao leitor do comboio, daqui partindo o livro para uma história com momentos de humor, ternura e, acima de tudo, um enorme elogio a tudo o que fazem por nós os livros e as leituras. Porque ler é vida, também neste caso Guylain Vignolles irá mergulhar num mar de descobertas e aprendizagem que acabam, no fundo, por resumir-se ao que há de mais fundamental para todos nós.

Nascido a 2 de março de 1962 em França, na localidade de La Bresse, região montanhosa das Vosges na Lorena, Jean-Paul Didierlaurent realizou estudos de Publicidade em Nancy, escrevendo contos com os quais foi ganhando mais de uma dezena de prémios ao longo de 15 anos e treinando para maiores ousadias (contos com títulos como "Le Jardin des Étoiles", "Procession", "Miroir d'Encre", "L'Autre", "Marée Noire", "Reflets", "L'Envol", "Le Liseur", "Puntilla", "Confession Intime", "Canicule", "Sanctuaire", "Brume" ou "Mosquito"). Também por este percurso conheceu sucesso logo ao seu primeiro romance, publicado em 2014 e com vendas acima dos 300 mil exemplares, também por ação da tradução para mais de três dezenas de idiomas - entre França e uma série de outros países, a obra já conheceu 65 edições! Entretanto, outros títulos que publicou são a coleção de contos "Macadam" (2015), mas também os romances "Le Reste de Leur Vie (2016)" e "La Fissure" (2018).

Fora do mundo literário, o trabalho de Didierlaurent tem sido desenvolvido no serviço de clientes da operadora de telecomunicações Orange.


Clube do Autor/Tradução de Inês Castro


Um dia destes, depois de já ter sido transformado em peça de teatro, a história de Guylain Vignolles também vai chegar ao grande ecrã, até porque o pulo das páginas para as salas de cinema está já em marcha: a produtora de filmes como "Mulher-Maravilha" ou "Liga da Justiça" mostrou interesse em cuidar do assunto.

Eliana Sousa é livreira no maravilhoso espaço literário que é a Livraria Lello, no Porto.

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