Entre hoje e o próximo dia 16, data em que José Saramago completaria 100 anos, vamos ter leituras de obra suas por aqui. Professora e investigadora de História, Elisabete Jesus participa com "Cadernos de Lanzarote II", neste caso lendo aquilo que escreveu o autor a propósito do dia 7 de janeiro de 1994.
Prémio Camões em 1995 e único português agraciado com o Nobel da Literatura (1998), o primeiro romance de José Saramago foi publicado em 1947 e chamava-se "Terra do Pecado". E foi deste livro que Sandra Escudeiro escolheu ler, no dia em que o escritor completaria 99 anos e em que começaram os sinais exteriores de Cultura destinados a assinalar, a 16 de novembro próximo, o seu centenário. Hoje, porém, volta o livro que Elisabete Jeus escolheu: "Cadernos de Lanzarote II".
Com "Levantado do Chão", em 1980, Saramago traçaria o retrato das enormes desigualdades e da exploração dos mais desfavorecidos pelos mais ricos no Alentejo durante a ditadura e até à Revolução do 25 de Abril. Sobre esta obra, o próprio autor escreveria: "Um escritor é um homem como os outros: sonha. E o meu sonho foi o de poder dizer deste livro, quando terminasse: 'Isto é um livro sobre o Alentejo'. Um livro, um simples romance, gentes, conflitos, alguns amores, muitos sacrifícios e grandes fomes, as vitórias e os desastres, a aprendizagem da transformação, e mortes. É, portanto, um livro que quis aproximar-se da vida, e essa seria a sua mais merecida explicação". De 1982 vem o seu primeiro grande sucesso com a publicação de "Memorial do Convento", mas outros livros seus foram merecendo elogios: "O Ano da Morte de Ricardo Reis" (1984), "A Jangada de Pedra" (1986) e "História do Cerco de Lisboa" (1989) são só alguns exemplos.
Serralheiro mecânico, desenhador, administrativo, tradutor, editor, jornalista, argumentista - bem pode dizer-se que José Saramago foi um homem dos sete ofícios. Desenvolveu o gosto pela leitura na Biblioteca do Palácio Galveias, mas só nos anos 80 passou a viver do trabalho como escritor. O cinema também se interessou pelos seus livros como o exemplificam as adaptações d'"A Jangada de Pedra (2002), "Ensaio sobre a Cegueira" (2008) ou "O Homem Duplicado" (2014). Nascido na Azinhaga a 16 de novembro de 1922, morreu a 18 de junho de 2010. Comunista até ao fim.
Por outro lado, "Deste Mundo e do Outro" reúne as crónicas que José Saramago escreveu para o jornal A Capital entre 1968 e 1969 e cuja edição de estreia aconteceu em 1971. Uma obra essencial para compreender todo o trabalho literário do Nobel português, conforme o próprio explicou: "De todo o modo, os factos estão à vista: entre a primeira linha da primeira crónica e a última linha do último romance, parece ser discernível um fio contínuo ligando tudo, ao mesmo tempo que se identifica uma lógica condutora que em tudo reconhece um sentido", referiu.
Se já era objeto de admiração em Portugal e pelo mundo fora, os seus livros ganharam dimensão universal após o Nobel, recebido em 1998. Antes, porém, em abril de 1992, foi alvo de Sousa Lara, então subsecretário de Estado da Cultura no Governo de Cavaco Silva, que retirou "O Evangelho Segundo Jesus Cristo", muito atacado pela Igreja Católica, da lista de candidatos a um galardão literário europeu. No ano seguinte, o escritor, casado com a jornalista Pilar del Río desde 1988, cortou relações com o poder político e fixou residência na ilha espanhola de Lanzarote. Só em 2004, com Durão Barroso como chefe do Governo, o assunto foi superado. Três anos mais tarde, nasceu a Fundação José Saramago (desde 2012 tem sede na Casa dos Bicos, em Lisboa), dedicada à promoção da Literatura, mas também a defender valores como os Direitos Humanos e o ambiente. Controverso e muitas vezes criticado pelas posições assumidas, Saramago distribuiu o trabalho literário por romances, contos, crónicas, teatro, poesia, viagens, memórias e livros para crianças.
Editorial Caminho
Os "Cadernos de Lanzarote" são seis volumes de diários escritos por Saramago, o último dos quais lançado em outubro de 2018 e dedicado ao ano de 1998, aquele em que o escritor foi agraciado com o Prémio Nobel da Literatura.
Nascida em Vila Nova de Gaia, Elisabete Jesus é licenciada em História pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, aqui se tornando ainda Mestre de História Moderna. Professora e investigadora de História desde 2002, realiza colaboração com a Porto Editora desde essa altura, desempenhando papel como coautora de manuais escolares para estudantes em patamares variados das respetivas aprendizagens. Começou a escrever para um público infantojuvenil a partir de 2014 com a publicação d'"A Minha História de Portugal". Seguiram-se "A Minha História dos Descobrimentos (2015) e "A Minha História da Europa" (2019). A sua estreia em leituras aqui no blog aconteceu a 21 de junho de 2020 quando apresentou um excerto da obra "O Cão que Comia a Chuva", de Richard Zimler.
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