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Paulo Jorge Pereira

Especial Feira do Livro: "Os Versos do Capitão", de Pablo Neruda

O Nobel chileno está de regresso ao blog: mais uma vez, Pablo Neruda marca presença, de novo com a obra "Os Versos do Capitão", agora com o poema "Sempre".



Nascido a 12 de julho de 1904, na localidade chilena de Parral, o seu nome de batismo foi Ricardo Eliecer Neftalí Reyes Basoalto (só mais tarde, no começo dos anos 20, adotará o pseudónimo e, a partir de 1945, nome legal de Pablo Neruda, numa homenagem ao poeta checo Jan Neruda). O pai, José del Carmen Reyes, foi operário e trabalhou com maquinaria, enquanto a mãe, Rosa Neftalí Basoalto Opazo, era professora num liceu feminino e morreria de tuberculose poucas semanas depois do nascimento do único filho - em "El Río Invisible", obra que teve publicação apenas em 1980, sete anos após a morte do escritor, Neruda homenageia a mãe com dois poemas: "Luna" e "Humildes Versos para que Descanse mi Madre". Órfão de mãe, vive dois anos com os avós até se juntar ao pai em Temuco quando este já voltara a casar-se: a madrasta era Trinidad Candia Marverde e Neruda terá uma irmã e um irmão (Laurita e Rodrigo). Foi através de um tio, Orlando Mason, que o jovem teve o primeiro contacto com a poesia, embora o pai detestasse a ideia de ver o filho entrar nesse universo, pois pretendia que entrasse na universidade para ter uma profissão "séria". Mas o tempo seria inimigo de José del Carmen e, ironia suprema, a universidade daria as primeiras oportunidades ao génio criativo do poeta. Em 1921, "Canción de Fiesta" é o seu primeiro poema distinguido num concurso literário.

Viajando para Santiago aos 16 anos, Neruda dedica-se a estudar Pedagogia em Francês, mas o seu futuro não estava ali. Conhece Albertina Azócar, sua primeira paixão, a quem dedicará mais tarde os poemas iniciais de "Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada". Anarquista militante, participa em tertúlias literárias e políticas com amigos e colegas universitários. Para publicar a obra de estreia em 1923, "Crepusculário", vê-se forçado a vender o relógio que o pai lhe oferecera. No ano seguinte publica "Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada", ganha notoriedade, deixa a universidade para se dedicar só à escrita e é nomeado cônsul em Rangoon, na Birmânia. Ao longo dos cinco anos seguintes é o representante chileno no continente asiático e, em 1929, durante um congresso em Calcutá, conhece Gandhi. De 1930 é a sua nomeação para cônsul em Colombo, no então Ceilão (atual Sri Lanka), seguindo-se Java e a Indonésia. Aqui acaba por casar-se com a holandesa María Antonieta Hagenaar, de quem terá uma filha (Malva Marina). Quatro anos depois viaja para Madrid, em plena efervescência que dará origem à Guerra Civil, e conhece o poeta Federico García Lorca que será fuzilado pelas tropas franquistas. Em 1936 deflagra a Guerra Civil e, por causa da sua oposição a Franco, o poeta é expulso do país, dirigindo-se para Paris. O seu posicionamento político comunista define-se em função do que viveu durante o conflito, como reconheceu mais tarde, e publica em 1937 uma obra sobre a sua experiência espanhola, intitulada "España en el Corazón". No final desse ano está de regresso ao Chile, onde irá sofrer duas perdas duríssimas em 1938: o pai morre a 7 de maio e, três meses depois, é a vez de falecer a madrasta. Ainda afetado pelo desgosto, Neruda empenha na campanha presidencial de Pedro Aguirre Cerda, candidato da Frente Popular, e com a vitória deste torna-se cônsul em Paris. Nesse papel consegue, em 1939, salvar dois mil espanhóis da guerra, abrindo caminho para que viajem de barco rumo a Valparaíso, no Chile. No ano seguinte é o próprio Neruda quem volta ao seu país.

Cônsul no México em 1941, o ano de 1942 reserva-lhe nova perda, uma vez que morre a filha, numa fase em que está já separado de María Antonieta Hagenaar. Vai viver na Isla Negra com a nova mulher, Delia del Carril, entre 1943 e 1945, ano em que é eleito senador e filia-se no Partido Comunista. Apesar de ter apoiado Gonzalo Gabriel para a Presidência, torna-se vítima de legislação que este aprova após a eleição, pois a Lei da Defesa da Democracia, de 1947, ilegaliza o Partido Comunista. Neruda é destituído do cargo de senador, passa à clandestinidade e aproveitar para escrever a maior parte do "Canto Geral". Segue-se um exílio que o levará ao México, mas também à Polónia e à União Soviética, só voltando para o Chile a 12 de agosto de 1952. Deixa Delia del Carril em 1954 e passa a viver com Matilde Urrutia, ligação que dura até à morte do poeta. Constrói amizade com personalidades como Rafael Alberti, Volodia Teitelboim, Gabriela Mistral, Miguel de Unamuno, Alberto Rojas Giménez, Miguel Hernández e Salvador Allende. De 1957 é a publicação de "Odes Elementares" e a década de 60 é marcada por intensa atividade política. Em 1970, o Partido Comunista apresenta-o como candidato presidencial, mas Neruda abdica a favor do projeto de Salvador Allende. Quando este ganha o ato eleitoral, o poeta é nomeado embaixador em França e, nesse mesmo ano de 1971, recebe o Prémio Nobel da Literatura. O seu discurso de aceitação do galardão é concluído assim: "Devo dizer aos homens de boa vontade, aos trabalhadores, aos poetas, que todo o futuro foi expressado nesta frase de Rimbaud: só com uma ardente paciência conquistaremos a esplêndida cidade que dará luz, justiça e dignidade a todos os homens. E assim a poesia não terá cantado em vão."

É em solo francês que inicia a escrita das suas memórias, "Confesso que Vivi" (livro que só será editado em 1974, já depois da sua morte), mas afasta-se do cargo de embaixador e volta ao Chile logo em 1972.


Publicações D. Quixote/Tradução de Fernando Assis Pacheco


"Confesso que Vivi", memórias de Neruda, só foram publicadas já depois da sua morte.

Entretanto, o ano de 1973 vai a meio quando a situação política se agrava e Neruda, com apoio de intelectuais europeus e latino-americanos, intervém para evitar um confronto armado no Chile. Mas é apenas um adiamento, porque a 11 de setembro um grupo de generais, comandado por Augusto Pinochet, desencadeia um golpe militar que derruba e assassina Allende, instaurando uma das mais sangrentas e duradouras ditaduras da América Latina. Doente, Neruda vê com amargura o país amado mergulhar no caos, na violência, na tortura, nos assassínios, na barbárie. Morre 11 dias depois do golpe de Estado liderado por Pinochet. Uma investigação recente concluiu que não fora vítima de cancro da próstata, mas sim assassinado por envenenamento.

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