Especial Homenagem a Marina Colasanti: Ana Zorrinho lê "A Moça Tecelã"
- Paulo Jorge Pereira
- Jan 29
- 4 min read
Aqui se recorda o primeiro dos três momentos em que Ana Zorrinho apresentou "A Moça Tecelã", de Marina Colasanti, autora que morreu ontem, aos 87 anos.
Era ítalo-brasileira, mas nascera na cidade de Asmara, capital da Eritreia, então colónia sob domínio italiano, a 26 de setembro de 1937. Ainda viveria noutro país africano (Líbia), na cidade de Trípoli, antes de viajar com a família rumo ao Brasil, em 1948, radicando-se no Rio de Janeiro. Influenciada pela ascendência - um avô fora professor de artes e escritor, uma tia-avó cantara ópera, o pai era ator - iria dedicar uma vida inteira à Cultura sob as mais variadas formas. Começou a estudar pintura em 1952, um ano antes de perder a mãe, quando tinha apenas 16 anos. De 1956 é a sua entrada na Escola Nacional de Belas Artes, formação que iria revelar-se determinante para o seu trabalho futuro.
Antes, porém, entrou no universo do Jornalismo e, em 1962, iniciou funções no Jornal do Brasil. Iria equilibrar esse trabalho com a escrita, ilustração e publicação dos seus livros, estreando-se em 1968 com "Eu Sozinha", e acumulando até hoje mais de meia centena de obras. Contos, crónicas, ensaios, poesia e literatura infantojuvenil constituem o diversificado trabalho literário de uma escritora que nunca deixou de lado a abordagem do feminismo, os problemas sociais, entre outros. "A Moça Tecelã", de que aqui se apresenta um excerto hoje e outro amanhã por Ana Zorrinho, é apenas um desses exemplos. Seria ainda tradutora, além de trabalhar em televisão e publicidade.
Dos livros publicados, destaque para obras premiadas como "Uma Ideia Toda Azul", "Entre a Espada e a Rosa", "Ana Z. Onde Vai Você", "Rota de Colisão", "Eu Sei, Mas Não Devia", "Penélope Manda Lembranças", "A Casa das Palavras e Outras Crónicas", "As Aventuras de Pinóquio", "Bicos Quebrados", "Minha Ilha Maravilha", "Passageira em Trânsito", "Com Certeza Tenho Amor", "Antes de Virar Gigante e Outras Histórias", "Minha Guerra Alheia", "Breve História de um Pequeno Amor", "Como uma Carta de Amor", "Stefano", "Quando a Primavera Chegar", "O País de João" ou "O Anel Encantado".
É possível saber mais e acompanhar o trabalho feito pela autora aqui, no seu site. Casada com Affonso Romano de Sant'Anna, também escritor, Marina Colasanti era mãe de duas filhas (Fabiana e Alessandra).
Editorial Global
Colecionadora de prémios, Marina Colasanti repartiu o seu talento por contos, literatura infantojuvenil, poesia, crónicas e ensaios.
Natural de Santiago do Cacém e licenciada em Direito, Ana Zorrinho tem uma relação de intimidade com a escrita e, além de entregar poemas da sua autoria à música, também entrou no Cancioneiro Infanto-Juvenil da língua portuguesa com poesia: "Quem canta em água tão fria....". Paixão é também o teatro, área em que tem formação, tendo colaborado com o grupo GATO SA como atriz. Além disso,
orientou, ao longo de quase uma década, o grupo teatral da Sociedade Harmonia, com jovens em papel fulcral; produziu adaptações e até guiões originais. A leitura e os jovens continuam a fazer parte do seu dia a dia, no qual é responsável por sessões e por um projeto de poesia em curtas metragens, sob o título “Silêncios”.
Deixo aqui um exemplo de outro enorme talento da escritora: a declamação. "O Último Poema" integra "Súbito", o seu livro de poesia lançado a 8 de julho, numa sessão de que é exemplo esta leitura.
"Histórias de um Tempo Só", o belo e poderoso livro de contos escrito por Ana Zorrinho e com maravilhosas ilustrações de Raquel Ventura (que também ilustrou "Lá", uma obra da escritora dirigida a crianças), foi tema central do blog a 17 de julho de 2020. Uma semana mais tarde, no dia 24, um precioso projeto com direção artística da escritora, a Oficina do Teatro, apresentou a sua leitura em conjunto de "Lágrima de Preta", inesquecível poema de António Gedeão, tão apropriado para os tempos que correm, marcados pelo recrudescimento do racismo. É caso para dizer que, com a escritora Ana Zorrinho, ficamos sempre a ganhar. A começar pela aprendizagem que nos proporciona. E, já agora, pela forma inesquecível como lê e dramatiza os textos - por exemplo, guardem bem na memória aquela última frase do trecho do livro de Mia Couto, "Venenos de Deus, Remédios do Diabo", que aqui leu a 11 de agosto de 2020.
Além de outros exemplos de leituras que aqui trouxe, a 30 de maio de 2022 leu um poema do seu conterrâneo Manuel da Fonseca. No primeiro dia de 2023, a participação foi feita com o poema "Dá-me a tua Mão por Cima das Horas", inserido n'"O Livro dos Amantes" em "Poesia Completa - O Sol das Noites e o Luar dos Dias", editado em 1999 e da autoria de Natália Correia. De 27 de fevereiro é a leitura de "Stoner", de John Williams. A 8 de maio leu um excerto da obra "A Grande Imersão", na homenagem a Luís Carmelo. A 12 de junho de 2024 trouxe "A Última Ceia", de Maria do Rosário Pedreira. E outras se seguiram.
Não percam ainda a leitura de "Súbito", lançado a 8 de julho de 2023, e o trabalho de ourives que Jorge Ferreira, editor da Caleidoscópio, nos proporciona. É uma obra inesquecível, para ler muitas vezes e andar sempre connosco: no coração.
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