Sexta e última leitura da obra do sueco Stig Dagerman: pela voz de Inês Henriques, esta semana aqui estiveram excertos do livro "A Nossa Necessidade de Consolo é Impossível de Satisfazer".
Sem a notoriedade internacional de nomes como Selma Lagerlöf, Harry Martinson, Eyvind Johnson ou Pär Lagerkvist, todos distinguidos com o Nobel da Literatura, mas tendo conquistado êxito interno durante um curto período de enorme produtividade e divulgação, Dagerman nasceu a 5 de outubro de 1923 em Älvkarleby, passou a infância com os avós paternos e iria construir uma obra diversificada, espalhando-se por romances, contos e peças de teatro. Além de escritor, Stig Dagerman foi jornalista na publicação anarquista intitulada Arbetet. A partir do pai tomou contacto com as ideias anarquistas e o sindicalismo, com um interesse que iria intensificar após o primeiro casamento, tornando-se editor do jornal Storm com apenas 19 anos e, mais tarde, editor de Cultura no Arbetaren (O Operário), publicação que era a voz do movimento sindicalista.
Em 1943, Dagerman casou-se com Annemarie Götze, uma refugiada germânica que escapara ao nazismo, depois de um percurso que a levou com os pais, dirigentes anarco-sindicalistas, a sucessivos movimentos de fuga de Barcelona, perseguidos pelo franquismo, França e Noruega. O êxito alcançado logo com o primeiro livro, "Ormen", ou seja, "A Serpente" (1945), levou-o a dedicar-se apenas à escrita literária. Assim, entre a obra que deixou encontram-se ainda os seguinte exemplos: "A Ilha dos Condenados" ("De Dömdas ö"), de 1946; "O Outono Alemão" ("Tysk Höst") e "Os Jogos da Noite" ("Nattens Lekar"), neste caso uma coleção de contos, ambos de 1947; "O Vestido Vermelho" ("Bränt Barn"), de 1948; teatro com "Dramer om Dömda: Den dödsdömde" e "Skuggan av Mart", publicadas ainda nesse ano de 1948, e "Judas Dramer: Streber" e "Ingen går fri", do ano seguinte; "As Sete Pragas do Casamento" ("Bröllopsbesvär"), de 1949. Porém, acometido por uma depressão e com problemas para escrever que se transformaram numa espécie de bloqueio, fixou-se no teatro e afastou-se da família. De tal forma que conheceu a atriz Anita Björk e, algum tempo depois de começarem um relacionamento, casaram-se, da união resultando uma filha. Acumulando dívidas e problemas de foro psicológico, Dagermat entraria numa fase de deespero que iria terminar de forma trágica. A sua morte súbita aos 31 anos, a 4 de novembro de 1954, surpreendeu o país: foi encontrado no interior do carro, na sua garagem. Fechara-se no interior do veículo, ligara o motor e dirigira para o interior os gases do tubo de escape.
Obras póstumas são a que reúne prosa e poemas e hoje começa a ser apresentada aqui por Inês Henriques, "Vårt Behov av Tröst", isto é, "A Nossa Necessidade de Consolo é Impossível de Satisfazer", publicada em 1955, ou "A Política do Impossível", um conjunto de textos que fora publicando ao longo da vida em revistas e jornais. O seu trabalho continua a suscitar paixão e interesse, tendo já sido realizados vários filmes a partir de contos que publicou. Além disso, a Sociedade Stig Dagerman atribui um galardão anual que já distinguiu, por exemplo, Le Clézio (2008), autor depois premiado com o Nobel da Literatura.
Editora VS
"Dagerman foi casado com Annemarie Götze, uma anarquista germânica que fugira do nazismo, e também com a atriz Anita Björk.
A paixão e o carinho pelos livros têm acompanhado a vida de Inês Henriques. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas (Estudos Portugueses e Franceses), escolheu o Jornalismo como profissão e o Desporto como área de atuação. Realizado o curso profissional no CENJOR, foi estagiária na Agência Lusa, à qual voltaria mais tarde, e trabalhou no jornal A Bola antes de entrar na redação do Portal Sapo. Neste contexto, a proximidade do desporto adaptado levou-a a escrever "Trazer o Ouro ao Peito - a fantástica história dos atletas paralímpicos portugueses", publicado em 2016. Agora, apesar de já não estar no universo profissional do Jornalismo, continua atenta a essa realidade ao mesmo tempo que tem sempre um livro para ler. E vários autores perto do coração. Inês Henriques tem presença regular e já está na casa das dezenas em participações aqui no blog. Estreou-se a 27 de abril de 2020 com "Perto do Coração Selvagem", de Clarice Lispector; voltou a 10 de maio e leu um excerto de "A Disciplina do Amor", de Lygia Fagundes Telles; no último dia de maio apresentou parte de "351 Tisanas", obra de Ana Hatherly; a 28 de junho, propôs literatura de cordel, com um trecho do livro "Clarisvânia, a Aluna que Sabia Demais", escrito por Luís Emanuel Cavalcanti; a 22 de agosto apresentou um excerto da obra "Contos de Amor, Loucura e Morte", escrita por Horacio Quiroga; a 15 de setembro leu um trecho de "Em Açúcar de Melancia", de Richard Brautigan; a 18 de novembro voltou com "Saudades de Nova Iorque", de Pedro Paixão, e na quinta-feira, 10 de dezembro, prestou a sua homenagem a Clarice Lispector no dia em que a escritora faria 100 anos, lendo um conto do livro "Felicidade Clandestina". Três dias mais tarde apresentava "Os Sete Loucos", de Roberto Arlt. A 3 de janeiro leu um trecho de "Platero e Eu", de Juan Ramón Jiménez. No dia 8 foi a vez de ter o seu livro em destaque por aqui, quando li um excerto de "Trazer o Ouro ao Peito". A 23, a Inês voltou e leu um trecho do livro "O Torcicologologista, Excelência", de Gonçalo M. Tavares e no dia 1 de fevereiro foi uma das participantes no Especial dedicado ao Dia Mundial da Leitura em Voz Alta com "Papéis Inesperados", de Julio Cortázar. A 13 de fevereiro apresentou um excerto do livro "Girl, Woman, Other", de Bernardine Evaristo, participando a 8 de março no Especial dedicado ao Dia Internacional da Mulher com a leitura de um trecho do livro "A Ilha de Circe", de Natália Correia.
A 5 de maio participou, com Armando Liguori Junior, no Especial dedicado ao Dia Mundial da Língua Portuguesa. No dia 22 de maio, ao lado de Raquel Laranjeira Pais e Rui Guedes, contribuiu para o Especial dedicado ao Dia do Autor Português. A 1 de junho interveio no Especial do Dia Mundial da Criança com "Ulisses", de Maria Alberta Menéres. No passado dia 7 de agosto, Inês Henriques leu um pouco da obra de estreia de Duarte Baião, "Crónicas do Desassossego". Chico Buarque e "Essa Gente" estiveram na sua leitura a 17 deste mês e, no dia 20, foi a vez de um pedaço do livro "À Noite Logo se Vê", de Mário Zambujal. "Sobre o Amor", de Charles Bukowski, foi a sua leitura de 7 de setembro, seguindo-se "Na América, Disse Jonathan", dois dias mais tarde. No domingo, dia 12, foi "Dom Casmurro", de Machado de Assis, a sua escolha para ler. Dia 15 foi o escolhido para apresentar "Coração, Cabeça e Estômago", de Camilo Castelo Branco. "Flores", de Afonso Cruz, foi a sua proposta no passado dia 17. A 21 de setembro apresentou "Normal People", de Sally Rooney. A 30 de setembro revelara a mais recente leitura: "Sartre e Beauvoir: A História de uma Vida em Comum", de Hazel Rowley. "Desamor", de Nuno Ferrão, surgiu a 20 de novembro, seguindo-se, além da já mencionada em cima leitura de "Amor Portátil", também a obra "Niketche: Uma História de Poligamia", de Paulina Chiziane, no dia 13, e ainda "Olhos Azuis, Cabelo Preto", de Marguerite Duras, no dia 22. Na véspera de Natal, Pedro Paixão e "A Noiva Judia" foram os convidados na leitura de Inês Henriques. A 1 de fevereiro, Dia Mundial da Leitura em Voz Alta, apresentou um trecho de "Todas as Crónicas", de Clarice Lispector. "Platero e Eu", de Juan Ramón Jiménez, que aqui estivera em janeiro de 2021, regressou no sábado, dia 12 de fevereiro. Dois dias depois começava a leitura de excertos do livro "A Nossa Necessidade de Consolo é Impossível de Satisfazer", do sueco Stig Dagerman, que hoje se conclui.
Comments