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Paulo Jorge Pereira

Inês Henriques lê "A Disciplina do Amor", de Lygia Fagundes Telles

A 3 de abril de 2022 morria, aos 98 anos, a brasileira Lygia Fagundes Telles, considerada uma das mais marcantes escritoras do século XX, autora de uma vasta e multipremiada obra. Prémio Camões em 2005, os seus livros são de uma atualidade por vezes assustadora, conforme sucede com "A Disciplina do Amor", aqui apresentado em vários fragmentos por Inês Henriques quando, a 10 de maio de 2020, trouxe a autora ao livroslidos.pt.



"Eu descobri que este é o meu melhor livro", confessou a própria escritora numa entrevista ao Estadão, falando a propósito da reedição da obra "A Disciplina do Amor". Nascida em São Paulo a 19 de abril de 1923, filha do advogado, procurador e promotor público Durval de Azevedo Fagundes e da pianista Maria do Rosário (conhecida como Zazita), Lygia viveu parte da infância em localidades do interior do estado - Apiaí, Assis, Iatinga e Sertãozinho -, mas entre os oito e os 13 anos esteve no Rio de Janeiro com a mãe, uma vez que os pais passaram a viver separados, embora não se divorciassem. Em 1936 voltaram para São Paulo onde a futura escritora completaria os estudos. Amiga dos escritores Carlos Drummond de Andrade e Érico Veríssimo, foi encorajada a alimentar a paixão pela escrita e publicou aos 15 anos o seu primeiro livro, "Porão e Sobrado", com apoio do pai. Procurou integrar-se na cena literária e publicou em jornais ao mesmo tempo que continuava a estudar. Ao entrar na Faculdade, em 1941, numa altura em que já escrevia contos e afirmava cada vez mais a vontade de dedicar-se à escrita, uma profissão associada aos homens, enfrenta preconceitos por estar em minoria num universo masculino, como contou à Revista Brasileira de Psicanálise: "Éramos cinco ou seis mocinhas na turma de quase duzentos rapazes e que nos perguntavam com irónico espanto: 'O que vocês vieram fazer aqui? Casar?' No mesmo tom bem-humorado respondi: 'Casar também.'", lembrou. E acrescentou: "A solução era assumir a luta, sair da condição de mulher-goiabada, a mulher caseira, antiga 'rainha do lar' que sabe fazer a melhor goiabada no tacho de cobre", explicou, recordando como a mãe e as tias foram também vítimas dos preconceitos das suas épocas. Iria licenciar-se em Direito, além de passar pela Escola Superior de Educação Física da Universidade de São Paulo.

Romances e contos, contos e romances - Lygia Fagundes ia escrevendo e alternando entre os dois géneros, embora considerasse o conto "uma forma arrebatadora de sedução", no qual é imperioso "seduzir o leitor em tempo mínimo". Em 1947, já depois de publicar o segundo livro, "Praia Viva", casou-se com Gofredo Teles Júnior, que fora seu professor universitário, mudando-se para o Rio de Janeiro, onde a escritora colaborou com o jornal "A Manhã", depois de trabalhar para a Secretaria de Agricultura. Entre os anos 40 e o começo dos 70, período em que foi mãe e se separou de Gofredo, iria escrever e publicar meia dúzia de livros de contos e três romances, destacando-se neste caso "Ciranda de Pedra" (1954) e os contos de "Antes do Baile Verde" (1970) - "Ciranda de Pedra" seria telenovela no começo dos anos 80 e com uma nova produção em 2008. Ganhou prémios e notoriedade logo a partir de 1960, enquanto exercia advocacia no Instituto de Providência em São Paulo. Com o divórcio proibido, Lygia juntou-se em 1963 a Paulo Teles Sales Gomes (historiador, professor, crítico de cinema, ensaísta e ativista político com quem viveria até à sua morte em 1977), de imediato levando a uma onda de escândalo em seu redor. Ainda nesse ano, Lygia começaria também o romance "As Meninas", em que se aborda a opressão imposta pela ditadura militar no Brasil (e que só terá publicação em 1973), sendo distinguido com vários galardões. A escritora e o companheiro permaneceram indiferentes à polémica que se criara por estarem juntos e, em 1968, escreveram "Capitu" para o grande ecrã, inspirando-se na obra "Dom Casmurro", de Machado de Assis.

Não deixa de escrever contos e, em 1976, integra o grupo que dá a cara em Brasília pelo "Manifesto dos Intelectuais", documento de contestação e denúncia da dureza da repressão e censura exercidas pela ditadura. Perde Paulo Teles devido a ataque cardíaco e assume a direção da Cinemateca Brasileira que ele ajudara a fundar. Continua a escrever e a colecionar distinções: "Seminário dos Ratos", "A Disciplina do Amor" e "As Horas Nuas" são apenas alguns exemplos. Em 1985 é escolhida para a Academia Brasileira de Letras, entrando nas décadas seguintes com mais obras e galardões: "A Noite Escura e Mais Eu" (1995), "Invenção e Memória" (2000), "Durante Aquele Estranho Chá" (2002) e "Conspiração de Nuvens" (2007). Face à dimensão e importância do seu trabalho literário, Lygia é agraciada com o Prémio Camões em 2005. Quatro anos mais tarde, a editora Companhia das Letras procede à reedição das obras completas de Lygia Fagundes Telles, as quais estão traduzidas em inúmeros idiomas. A 3 de abril de 2022, aos 98 anos, morreu uma das autoras com mais prestígio dentro e fora do universo lusófono.


Companhia das Letras


"O escritor pode ser louco, mas não enlouquece o leitor, ao contrário, pode até desviá-lo da loucura. O escritor pode ser corrompido, mas não corrompe. Pode ser solitário e triste e ainda assim vai alimentar o sonho daquele que está na solidão", escreve Lygia Fagundes Telles em "A Disciplina do Amor".

Inês Henriques é presença regular aqui no blog. A paixão e o carinho pelos livros têm acompanhado a sua vida. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas (Estudos Portugueses e Franaceses), escolheu o Jornalismo como profissão e o Desporto como área de atuação. Realizado o curso profissional no CENJOR, foi estagiária na Agência Lusa, à qual voltaria mais tarde, e trabalhou no jornal A Bola antes de entrar na redação do Portal Sapo. Neste contexto, a proximidade do desporto adaptado levou-a a escrever "Trazer o Ouro ao Peito - a fantástica história dos atletas paralímpicos portugueses", publicado em 2016. Agora, apesar de já não estar no universo profissional do Jornalismo, continua atenta a essa realidade ao mesmo tempo que tem sempre um livro para ler. E vários autores perto do coração. Aqui no blog, estreou-se a 27 de abril de 2020 com "Perto do Coração Selvagem", de Clarice Lispector; voltou a 10 de maio e leu um excerto de "A Disciplina do Amor", de Lygia Fagundes Telles; no último dia de maio apresentou parte de "351 Tisanas", obra de Ana Hatherly; a 28 de junho, propôs literatura de cordel, com um trecho do livro "Clarisvânia, a Aluna que Sabia Demais", escrito por Luís Emanuel Cavalcanti; a 22 de agosto apresentou um excerto da obra "Contos de Amor, Loucura e Morte", escrita por Horacio Quiroga; a 15 de setembro leu um trecho de "Em Açúcar de Melancia", de Richard Brautigan; a 18 de novembro voltou com "Saudades de Nova Iorque", de Pedro Paixão, e na quinta-feira, 10 de dezembro, prestou a sua homenagem a Clarice Lispector no dia em que a escritora faria 100 anos, lendo um conto do livro "Felicidade Clandestina". Três dias mais tarde apresentava "Os Sete Loucos", de Roberto Arlt.

A 3 de janeiro leu um trecho de "Platero e Eu", de Juan Ramón Jiménez. No dia 8 foi a vez de ter o seu livro em destaque por aqui, quando li um excerto de "Trazer o Ouro ao Peito". A 23, a Inês voltou e leu um trecho do livro "O Torcicologologista, Excelência", de Gonçalo M. Tavares e no dia 1 de fevereiro foi uma das participantes no Especial dedicado ao Dia Mundial da Leitura em Voz Alta com "Papéis Inesperados", de Julio Cortázar.

A 13 de fevereiro apresentou um excerto do livro "Girl, Woman, Other", de Bernardine Evaristo, participando a 8 de março no Especial dedicado ao Dia Internacional da Mulher com a leitura de um trecho do livro "A Ilha de Circe", de Natália Correia. A 5 de maio participou, com Armando Liguori Junior, no Especial dedicado ao Dia Mundial da Língua Portuguesa. No dia 22 de maio, ao lado de Raquel Laranjeira Pais e Rui Guedes, contribuiu para o Especial dedicado ao Dia do Autor Português. A 1 de junho interveio no Especial do Dia Mundial da Criança com "Ulisses", de Maria Alberta Menéres.

A 7 de agosto, Inês Henriques leu um pouco da obra de estreia de Duarte Baião, "Crónicas do Desassossego". Chico Buarque e "Essa Gente" estiveram na sua leitura a 17 deste mês e, no dia 20, foi a vez de um pedaço do livro "À Noite Logo se Vê", de Mário Zambujal. "Sobre o Amor", de Charles Bukowski, foi a sua leitura de 7 de setembro, seguindo-se "Na América, Disse Jonathan", dois dias mais tarde. No domingo, dia 12, foi "Dom Casmurro", de Machado de Assis, a sua escolha para ler. Dia 15 foi o escolhido para apresentar "Coração, Cabeça e Estômago", de Camilo Castelo Branco. "Flores", de Afonso Cruz, foi a sua proposta no passado dia 17. A 21 de setembro apresentou "Normal People", de Sally Rooney. A 30 de setembro revelara a mais recente leitura: "Sartre e Beauvoir: A História de uma Vida em Comum", de Hazel Rowley. "Desamor", de Nuno Ferrão, surgiu a 20 de novembro, seguindo-se, além da já mencionada em cima leitura de "Amor Portátil", também a obra "Niketche: Uma História de Poligamia", de Paulina Chiziane, no dia 13, e ainda "Olhos Azuis, Cabelo Preto", de Marguerite Duras, no dia 22. Na véspera de Natal, Pedro Paixão e "A Noiva Judia" foram os convidados na leitura de Inês Henriques. A 1 de fevereiro, Dia Mundial da Leitura em Voz Alta, apresentou um trecho de "Todas as Crónicas", de Clarice Lispector. "Platero e Eu", de Juan Ramón Jiménez, que aqui estivera em janeiro de 2021, regressou no sábado, dia 12 de fevereiro. Dois dias depois começava a leitura de excertos do livro "A Nossa Necessidade de Consolo é Impossível de Satisfazer", do sueco Stig Dagerman, que se concluiu a 19 de fevereiro. A 28, o regresso às leituras por aqui fez-se com um excerto de "Pedro Lembrando Inês", de Nuno Júdice. "Um, Ninguém e Cem Mil", de Luigi Pirandello, foi a leitura proposta no dia 4 de março. "Putas Assassinas", de Roberto Bolaño, surgiu a 10 de março. Herberto Helder e "A Menstruação Quando na Cidade Passava", do livro "Poemas "Completos", foram a leitura seguinte. No dia 19, a proposta recaiu sobre "A Noite e o Riso", de Nuno Bragança.

A 2 de abril, aqui se recuperara a sua leitura de um trecho da obra "Em Açúcar de Melancia", de Richard Brautigan. No dia seguinte homenageou a falecida Lygia Fagundes Telles com um trecho da obra "A Disciplina do Amor" e a 23 aqui recuperei a sua leitura de "Novas Cartas Portuguesas", de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa. No Especial dedicado ao 25 de Abril, Inês Henriques apresentou um excerto da obra "Os Filhos da Madrugada", de Anabela Mota Ribeiro. A 5 de maio, no Especial dedicado ao Dia Mundial da Língua Portuguesa, propôs "Manual de Pintura e Caligrafia", de José Saramago. A 6 de junho leu "A Sangrada Família", de Sandro William Junqueira. No dia 1 de agosto, a escolha recaiu no japonês Junichiro Tanizaki com um excerto da obra "A Confissão Impudica". De 10 de outubro é a homenagem à nova Nobel da Literatura, Annie Ernaux, com um excerto do livro "Uma Paixão Simples". De 10 de outubro é a homenagem à nova Nobel da Literatura, Annie Ernaux, com um excerto do livro "Uma Paixão Simples". A 21 de outubro leu "Para Onde Vão os Guarda-Chuvas", de Afonso Cruz. De 14 de novembro, no Especial Centenário de José Saramago, é a recuperação da sua leitura de um excerto da obra "Manual de Pintura e Caligrafia". No Especial 1.000 Leituras de dia 23, "A História de Roma", de Joana Bértholo, foi a sua escolha. No dia 28 trouxe um pouco do livro "A Carne", cuja autora é Rosa Montero. O último dia de 2022 mostrou-a a ler um trecho da obra "Lavoura Arcaica", de Raduan Nassar. Voltou a 10 de fevereiro e leu um pouco do livro "Um Bom Homem É Difícil de Encontrar", de Flannery O'Connor. No dia 14 de fevereiro, a leitura proposta foi "Falha", de Sarah Kane. A 8 de março, no Especial sobre o Dia Internacional da Mulher, leu "Os Anos", de Annie Ernaux. E, a 21, quando aqui surgiu o Especial dedicado ao Dia Mundial da Poesia, cá esteve a ler "What's in a Name", de Ana Luísa Amaral. "A Cerimónia do Adeus", de Simone de Beauvoir, foi a sua proposta de 31 de março. A 26 de abril leu um excerto de "Sopro", de Tiago Rodrigues. De 9 de maio é o regresso de "351 Tisanas", de Ana Hatherly. "Na América, Disse Jonathan", de Gonçalo M. Tavares, voltou a 26 de maio. "A Solidão dos Inconstantes", de Raquel Serejo Martins, foi a proposta de 12 de junho. Camilo Castelo Branco e o seu "Coração, Cabeça e Estômago" voltaram a 26 de junho.

A 30 de junho leu "Garden Party", de Katherine Mansfield. A 5 de julho voltou "Sobre o Amor", de Charles Bukowski. "Karen", de Ana Teresa Pereira, é de 28 de julho. A 7 de agosto chegou "Um Crime Delicado", de Sérgio Sant'Anna. "Neverness", uma vez mais de Ana Teresa Pereira, foi a sugestão de 20 de agosto. Maria Gabriela Llansol foi a autora selecionada para as leituras seguintes: "Cantileno", a 25 de agosto, e "O Sonho é um Grande Escritor", a 1 de setembro. "Pedro Lembrando Inês", de Nuno Júdice, voltou a 8 de setembro. De 13 de setembro é a sua homenagem no centenário de Natália Correia com a "Poesia Reunida". "A Casa do Incesto", de Anaïs Nin, foi a leitura de 2 de outubro. A 16 de outubro trouxe uma primeira leitura da obra de Ana Cássia Rebelo com "Babilónia". A segunda apresentou um trecho da obra "Ana de Amsterdam", no dia 23. De 6 de novembro é a leitura de um trecho de "Dano e Virtude", cuja autora é Ivone Mendes da Silva. A 24 leu "Todos os Dias uma Carta", de Maria Gabriela Llansol. De 9 de dezembro é a sua leitura de um trecho do meu segundo romance, intitulado "Filho da PIDE". A 26 de dezembro trouxe "Desassossego das Crónicas", de Duarte Baião.

De 18 de janeiro é o regresso de "Em Açúcar de Melancia", de Richard Brautigan. A 2 de fevereiro voltou "Todas as Crónicas", de Clarice Lispector. "Os Anos", de Annie Ernaux, foi a leitura que voltou a 14 de fevereiro. De 24 de fevereiro é a recuperação de "Filho da PIDE". A 1 de março trouxe "No Jardim do Ogre", de Leïla Slimani. O Especial de dia 17 homenageou o poeta Nuno Júdice com "Pedro Lembrando Inês". A 21 de março, no Especial dedicado ao Dia Mundial da Poesia, voltou "What's in a Name", de Ana Luísa Amaral.

"A Pessoa Deslocada", de Flannery O'Connor, foi de novo leitura a 9 de março. "As Longas Tardes de Chuva em Nova Orleães", de Ana Teresa Pereira, veio a 5 de abril. "Cantileno", de Maria Gabriela Llansol, foi a leitura a 9 de abril. A 23 de abril, no Especial dedicado ao Dia Mundial do Livro, leu "Manifestos", de Almada Negreiros. A 30 de abril trouxe "A Identidade", de Milan Kundera. A 8 de maio voltou "Desassossego das Crónicas", de Duarte Baião. "Babilónia", de Ana Cássia Rebelo, foi o regresso promovido a 21 de maio. A 29 de maio, primeiro dia da Feira do Livro que terminou a 16 de junho, voltou "A Solidão dos Inconstantes", de Raquel Serejo Martins. Precisamente do último dia da Feira é o regresso da leitura da obra "No Jardim do Ogre", de Leïla Slimani. A 21 de junho voltou "Filho da PIDE". A 30 de junho foi a vez do excerto da obra "Um Crime Delicado", de Sérgio Sant'Anna. De 17 de julho é o regresso da leitura de um trecho do livro "Coração, Cabeça e Estômago", de Camilo Castelo Branco. A 29 de julho voltou "Neverness", de Ana Teresa Pereira. "Dano e Virtude", de Ivone Mendes da Silva, voltou a 10 de agosto. "A Casa do Incesto", de Anaïs Nin, voltou a 23 de agosto.

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