Aqui se recorda o momento em que a professora Isabela Cristina escolheu um trecho de "Vidas Secas", uma das principais obras de Graciliano Ramos, como proposta de leitura.
Mais velho de 16 filhos do casal formado por Sebastião Ramos de Oliveira e Maria Amélia Ferro Ramos, Graciliano Ramos, um dos grandes romancistas brasileiros, nasceu a 27 de outubro de 1892 na localidade de Quebrangulo, no Estado brasileiro de Alagoas, em pleno sertão. Parte da infância foi passada entre as cidades de Viçosa, Palmeira dos Índios e Buíque, ficando também esse período assinalado pelos maus-tratos de que foi vítima por parte do pai - no livro e memórias que irá escrever alguns anos mais tarde, intitulado "Infância", deixa uma descrição dos pais: ele era "um homem sério, de testa larga (...), dentes fortes, queixo rijo, fala tremenda"; ela era "uma senhora enfezada, agressiva, ranzinza (...), olhos maus que em momentos de cólera se inflamavam com um brilho de loucura". Em 1904 já o pequeno Graciliano criava um jornal para crianças em Viçosa, intitulado Dilúculo ao qual se seguiu o Echo Viçosense. Dois anos mais tarde está, sob o pseudónimo de Feliciano de Olivença, a publicar sonetos na revista O Malho, do Rio de Janeiro, na qual irá participar até 1915. Segue-se colaboração com o Jornal de Alagoas, em Maceió, que irá durar até 1913 com recurso a diversos pseudónimos como Soares de Almeida Cunha, Lambda ou Soeiro Lobato. Pelo meio, em 1911, desenvolve colaboração com o Correio de Maceió.
É o barco a vapor Itassoê que o transporta rumo ao Rio de Janeiro em 1914. Ali será revisor de provas de tipografia nos jornais Correio da Manhã, A Tarde ou O Século. Não deixa, no entanto, colaborações com outras publicações e escreve, sob o pseudónimo de Ramos de Oliveira, assinando apenas com as iniciais, no Jornal de Alagoas e no Paraíba do Sul. Quando regressa a Palmeira dos Índios, em 1915, é por motivos funestos, uma vez que perde três irmãos e um sobrinho por ação da peste bubónica. Mais tarde, casa-se com Maria Augusta Ramos. Terão quatro filhos, mas a mulher acaba por morrer de forma prematura em 1920.
Será eleito prefeito em Palmeira dos Índios e, a partir de 1928, ano em que volta a casar-se, desta vez com Heloísa Medeiros, exerce as funções durante dois anos. Depois de renunciar ao cargo, muda-se para Maceió e é indigitado diretor da Imprensa Oficial, regressando às colaborações nos jornais com o pseudónimo Lúcio Guedes. A demissão das funções exercidas liberta-o para se dedicar mais à escrita, a fundar uma escola e, em 1933, publica o romance de estreia, cuja elaboração iniciara em 1925: "Caetés".
O livro "São Bernardo" é de 1934, ano que assinala também a morte do seu pai. No início de 1936, em plena ditadura de Getúlio Vargas e com o coronel Filinto Müller como líder da temida polícia política, é preso sem acusação formada por, como militante do partido, ter alegado envolvimento na tentativa de golpe comunista do ano anterior. Vai para o Recife de onde, ao lado de mais de uma centena de detidos, viaja de barco para o Rio de Janeiro e fica detido até janeiro de 1937. Escreve "Angústia" e o texto "Baleia", do qual partirá a escrita do romance "Vidas Secas" que aqui é apresentado pela voz de Isabela Azevedo. O romance "Angústia" evidencia-se e recebe o prémio Lima Barreto, atribuído pela Revista Académica.
Quando é colocado em liberdade, regressa ao trabalho nos jornais, agora no Rio de Janeiro, e "A Terra dos Meninos Pelados" assegura-lhe nova distinção, desta vez dedicada a literatura infantil e vinda do próprio Ministério da Educação. "Vidas Secas" é publicado em 1938 (será também um filme de Nelson Pereira dos Santos em 1963), pouco antes da sua nomeação para Inspetor Federal do ensino secundário. Vigiado pela polícia política, em 1945 irá filiar-se no Partido Comunista Brasileiro, frequentando meios ligados à organização. Antes disso, faz trabalhos de tradução "Memórias de um Negro", de Booker T. Washington), publica crónicas e, em 1942, chega nova distinção: desta vez é o prémio Felipe de Oliveira com a justificação de que o merece pela obra publicada. Numa experiência inovadora, participa na escrita do romance "Brandão Entre o Mar e o Amor" com escritores como Jorge Amado, Rachel de Queiroz, José Lins do Rego e Aníbal Machado. A mãe morre em 1943 e Graciliano volta aos livros infantis com "Histórias de Alexandre" (1944). Do ano seguinte são "Dois Dedos" e "Infância" e em 1947 nascem "Histórias Incompletas" e "Insónia". Regressa à tradução em 1950 com o livro "A Peste", de Albert Camus. Presidente da Associação Brasileira de Escritores a partir de 1951 - voltará a ser eleito em 1962 -, publica "Sete Histórias Verdadeiras".
Abril de 1952 marca uma série de viagens ao lado da mulher: à então Checoslováquia, União Soviética, França e Portugal. O regresso é atribulado, porque a doença se revela e leva-o a procurar tratamento aos pulmões na Argentina. Apesar da intervenção cirúrgica de que é alvo, o prognóstico mostra-se preocupante, pois os médicos estão convictos de que não viverá por muito mais tempo. O tempo dará razão aos clínicos - em janeiro de 1953, a debilidade do seu estado obriga a um internamento na Casa de Saúde e Maternidade São Vítor. Decorrem dois meses. Na madrugada de 20 de março, o cancro vence a batalha e mata o escritor. Após a sua morte são publicados livros como "Memórias do Cárcere" (o autor não chegou a escrever o derradeiro capítulo, mas a obra também foi adaptada ao cinema por Nelson Pereira dos Santos, em 1983), "Viagem" (1954), "Linhas Tortas", Viventes das Alagoas" e "Alexandre e Outros Heróis" (todos em 1962) ou "Cartas" (1980). Mais recentes são "O Estribo de Prata" (1984), "Cartas de Amor à Heloísa" (1992) e "Garranchos" (2012).
Editorial Record
Graciliano Ramos foi prefeito na localidade de Palmeira dos Índios, mas renunciou ao cargo dois anos depois de começar a exercê-lo.
Eis como se descreve a leitora de hoje: "Eu me chamo Isabela Cristina Rodrigues Azevedo, sou mulher negra, cristã e amante dos livros, filha de Natalina e Jorge.
Sou formada em Letras Português/Literaturas pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e faço mestrado em Estudos Literários pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) com pesquisa na obra 'Vidas Secas', de Graciliano Ramos. Sou também professora concursada de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental."
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