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  • Paulo Jorge Pereira

"Istambul - Memórias de Uma Cidade", de Orhan Pamuk

Vencedor do Prémio Nobel da Literatura em 2006, o turco Orhan Pamuk estudou Arquitetura, licenciou-se em Jornalismo, mas nunca foi profissional da área. Aqui se apresenta um excerto do seu livro "Istambul - Memórias de Uma Cidade" que é a própria autobiografia de Pamuk.




É um escritor multifacetado e multipremiado que escolheu o ofício da escrita quando tinha apenas 23 anos. Nascido em Istambul a 7 de junho de 1952, Ferit Orhan Pamuk começou por interessar-se pela Arte (desenhava e pintava muito) e por Arquitetura, mas afastou-se desses estudos após três anos na Universidade e acabou por se formar em Jornalismo, mesmo que nunca tenha chegado a exercer. Escolheu, então, o caminho da escrita para a sua vida e, aproveitando o conhecimento da sua família numerosa, estreou-se com o romance "Cevdet Bei e os Seus Filhos", publicada em 1982. A 1 de março desse ano, o escritor casou-se com a historiadora Aylin Turegen, de quem teria uma filha (Rüya, ou seja, "Sonho", nascida em 1991).

Seguiram-se "A Casa do Silêncio" (1983) e "A Cidadela Branca" (1985), que lhe deu maior evidência à escala mundial, depois de ter sido traduzido para inglês e premiado. Nesse mesmo ano, o escritor foi para os Estados Unidos e aí permaneceu durante três anos como estudante na Universidade de Columbia, período em que escreveu a maior parte da obra "O Livro Negro". Em 1989, perante a fatwa (decisão jurídica pelo assassínio do escritor com base na lei islâmica) declarada pelo ayatollah Khomeini contra Salman Rushdie pelo livro "Versículos Satânicos", Pamuk foi o primeiro intelectual a erguer a sua voz para condenar um ato que forçou Rushdie a viver escondido e sob proteção policial pelo tempo fora. "Os Jardins da Memória" (1990) foi o último romance antes da primeira peça de teatro - "Secret Face" (1992). Continuando a escrever, Pamuk voltou aos romances com "Vida Nova" (1994) e "O Meu Nome é Vermelho" (1998). No ano seguinte publicou ensaios com "Outras Cores", mas, já após o divórcio de Aylin, em 2001, era no romance que mais se afirmava a sua voz e "Neve" (2002) devolveu-o ao território favorito.

Pamuk iria aproveitar a publicação de "Istambul - Memórias de Uma Cidade" (2003), ilustrado com fotos do arquivo pessoal e não só, para transformar o livro numa espécie de autobiografia. "My Father's Suitcase" (2007) e "O Museu da Inocência" (2008) foram os romances que publicou depois. Voltou aos ensaios em 2010 com "Pieces from the View: Life, Streets, Literature" e escreveu crítica literária através do livro "O romancista ingénuo e o Sentimental" (2011). De 2012 é "The Innocence of Objects" e o mais recente romance traduzido para português, "Uma Sensação Estranha", foi apresentado em 2014.

Entre as dezenas de galardões que recebeu, destaca-se o Nobel da Literatura, entregue em 2006. No discurso que proferiu então, Pamuk sublinhou: "O segredo do escritor não é a inspiração - pois nunca está claro de onde ela vem -, é a sua teimosia, a sua paciência. Aquele adorável ditado turco - cavar um poço com uma agulha - parece-me ter sido dito com escritores em mente."


Editorial Presença/Tradução de Filipe Guerra


Traduzido em dezenas de países, o trabalho de Orhan Pamuk é também um espelho do seu posicionamento crítico face ao regime de Erdogan.

Alvo dos nacionalistas turcos e de um processo que acabou por ser retirado devido a protestos internacionais, pouco antes da sua distinção com o Nobel da Literatura, quando denunciou a responsabilidade do país na morte de 30 mil curdos e o genocídio de 1,5 milhões de arménios durante a I Guerra Mundial, ao longo do tempo o escritor tem deixado bem claro aquilo que pensa acerca do regime do Presidente turco, Recep Erdogan. No verão de 2013, Pamuk acusou-o de oprimir o povo turco num artigo que assinou no jornal Hürriyet, durante uma onda de protestos contra o Governo. Em 2016, quando o escritor e jornalista Ahmet Altan e o seu irmão, o economista Mehmet Altan, foram presos, Pamuk escreveu, num artigo de opinião publicado em Itália pelo jornal La Repubblica: "Estou em cólera, exprimo a minha crítica mais virulenta contra estas detenções", lê-se no artigo.

E, considerando que deixara de haver liberdade de pensamento, foi ainda mais longe: "Estamos em vias de nos afastar rapidamente de um Estado de direito em direção a um regime de terror." Em 2019, Erdogan chamou-lhe "terrorista" e Pamuk congratulou-se com a vitória do opositor do Partido Justiça e Desenvolvimento (de Erdogan) nas eleições municipais em Istambul, o social-democrata Ekrem Imamoglu. No mês de julho de 2020, Pamuk fez parte de um grupo com mais de uma centena de intelectuais numa carta aberta à oposição para que reforçasse a sua união contra Erdogan e assim colocasse fim à opressão. E, poucos dias depois, acusou o Presidente de populismo depois de ser anunciada a reconversão da antiga basílica de Santa Sofia em mesquita (era um museu desde 1934).

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