Duarte Baião foi jornalista em três jornais diferentes. Habituou-se à pressão da notícia e da atualidade inerente à profissão. Quando mudou de vida, a escrita nunca deixou de ser um amor verdadeiro, permanente e dedicado. Em maio de 2020, li aqui uma das suas crónicas, ilustrativas do talento que o distingue. Na altura, escrevi que bastaria uma editora "para que muitos mais leitores partilhassem este belo segredo. Nessa altura, deixará de ser segredo. Mas continuará belo". A 5 de junho do ano passado, deixou de ser segredo, continuou belo e lá estive ao seu lado na apresentação de "Crónicas do Desassossego", livro que volta a ser proposta de Joana Barros. Hoje, dia do aniversário do autor.
Duarte Baião nasceu a 8 de maio de 1974 em Moçambique mas é lisboeta desde os dois meses. Trabalhou como jornalista nos jornais A Bola, 24 Horas e Diário de Notícias. Na primeira etapa, estivemos juntos numa redação hoje irrepetível por circunstâncias variadas, a primeira das quais as terríveis mudanças que a máquina trituradora da comunicação sofreu nos últimos anos. Agora a sua atividade situa-se numa empresa do ramo das tecnologias de informação. Mas o prazer e a necessidade de escrever não se perderam, pelo que foi passando para o papel uma série de impressões quotidianas no estilo que lhe é peculiar: apaixonado e apaixonante, atento, acutilante, com apurado sentido de humor e um olhar diferente sobre grandezas e misérias do ser humano. Não há qualquer desejo de sofisticação ou falsa demonstração de intelectualidade no que escreve - passear pela sua prosa é uma delícia de simplicidade e lucidez, de cheiros e sabores, uma experiência com os cinco sentidos bem despertos em que o leitor caminha guiado pela imaginação do autor, desaguando em finais nem sempre felizes. Porque a vida não se faz só de felicidade, aqui estão também angústias e desilusões várias. E, acima de tudo, textos em que, na voz de um adulto, com a maturidade bem assente, parece que voltamos a ouvir o poema de O'Neill e, "como um adolescente", alguém "tropeça de ternura".
Cordel D' Prata
"Crónicas do Desassossego" é uma coleção maravilhosa de momentos em que Duarte Baião vê com o coração e, como só ele sabe, traduz sentimentos para o papel.
Duarte Baião começou por ser referido aqui a 18 de maio de 2020 quando li a crónica que abre precisamente o seu livro de estreia e tem por título "Não Sei se Sabes ao que me Sabes". Mais tarde, ele próprio nos mostrou como era excelente "ouver" a sua leitura de um poema inesquecível de Pablo Neruda: o Poema 14, inserido na obra "Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada". E pude contar com diversas vozes a lerem diferentes crónicas do seu livro, incluindo o próprio autor. Que aqui regressou a 2 de maio com "The Storyteller", a autobiografia de Dave Grohl, vocalista/guitarrista dos Foo Fighters.
Entretanto, a sua coleção de crónicas resultou num manuscrito com mais de uma centena de páginas e só faltava uma editora para que se transformasse num livro que teria leituras ávidas. Desde 5 de junho de 2021, esse livro está à venda - chama-se "Crónicas do Desassossego", escrever o prefácio foi uma honra, estar ao lado do Duarte Baião na apresentação do seu primeiro livro um privilégio que não esquecerei. Que venham o segundo, o terceiro, o quarto e assim sucessivamente...
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