É com o poema "Saudades", publicado no livro "Soror Saudade", mas aqui apresentado a partir da coletânea "Sonetos", de Florbela Espanca, que José António de Carvalho volta às leituras aqui no blog.
Tinha apenas oito anos e já escrevia poesia. Flor Bela de Alma da Conceição Espanca nasceu em Vila Viçosa, a 8 de dezembro de 1894. Era filha ilegítima e o pai só a reconheceu depois de ela se suicidar com apenas 36 anos - para trás ficava uma curta vida recheada de peripécias de sofrimento como três casamentos, dois divórcios ou a morte violenta do irmão, Apeles Demóstenes da Rocha Espanca, num acidente de aviação em 1927. Apesar de viver pouco tempo, a escritora deixou marcas profundas na sociedade, não apenas através dos seus livros, mas também por causa do seu espírito de ser humano livre e sem receios de se mostrar pioneira. Por exemplo, seria uma das primeiras mulheres no curso liceal em Portugal. Ávida leitora, estudou Letras em Évora e foi uma de 14 mulheres, entre 347 alunos, a matricular-se no curso de Direito da Universidade de Lisboa. Antes, em 1913, casara-se com Alberto de Jesus Silva Moutinho, de quem fora colega na escola. Desenvolve as primeiras tentativas de publicar o seu trabalho literário em 1916 e trabalha como jornalista (Modas & Bordados, um suplemento do jornal O Século, mas também Notícias de Évora e A Voz Pública). Entretanto, o casamento não estava de acordo com o que sonhara e Florbela sofre mesmo um aborto que lhe causa danos. Começa o afastamento do marido, publica "Livro de Mágoas", obra de estreia em 1919, e passa a viver com António José Marques Guimarães, oficial da GNR, a partir de 1920. Do ano seguinte é a sua saída da Faculdade, o primeiro divórcio, o casamento com Marques Guimarães, a passagem para o Porto e, quando o marido se torna chefe de gabinete do ministro do Exército, o regresso à capital.
A qualidade do seu trabalho poético desperta atenções e a revista Seara Nova publica-lhe um soneto em 1922. No ano seguinte, com os custos suportados pelo pai, sai a segunda obra com a sua assinatura: "Livro de Sóror Saudade". Ensina Português para obter algum dinheiro e divorcia-se pela segunda vez em 1925, casando-se com Mário Pereira Lage, um médico com quem já vivia desde o ano anterior. Instalam-se no Porto, Florbela mantém colaborações com jornais, embora sinta enormes dificuldades para publicar novos livros. Faz traduções para duas editoras (Civilização e Figueirinhas), mas a sua vida regista novo abalo terrível com a morte do irmão, a 6 de junho de 1927. Dedica-lhe um livro de contos, "As Máscaras do Destino", que só irá sair um ano após a sua morte. Agravam-se os sintomas de neurose que já a apoquentavam e, em 1928, faz a primeira tentativa de suicídio que não produz resultados. Escreve "Diário do Último Ano", que se junta a "Charneca em Flor", ambos sem editora para publicação. Está muito à frente do seu tempo na linguagem de tom erótico que utiliza em vários poemas e nas atitudes de emancipação feminina. Mantém as colaborações com diferentes publicações - O Primeiro de Janeiro, revista Civilização e Portugal Feminino são apenas exemplos - mas, pouco antes da saída de "Charneca em Flor", repete por duas vezes a tentativa de se suicidar. É-lhe diagnosticado um edema pulmonar e Florbela decide que terá êxito na tentativa seguinte de suicídio: acontece no dia do seu aniversário, a 8 de dezembro de 1930, com uma overdose de barbitúricos. Mais prosa, poesia e várias coletâneas seriam publicadas depois da sua morte.
A sua vida inspirou um filme de Vicente do Ó com Dalila do Carmo, Ivo Canelas, Albano Jerónimo, Anabela Teixeira e António Fonseca, lançado em 2012 e que passou na RTP como minissérie. Antes, em 1978, já a RTP apresentara um programa sobre o seu percurso na série "As Palavras Herdadas". A poesia de Florbela Espanca está também disseminada pela música de nomes como Trovante, Mariza, Nicole Borguer ou Fagner.
A obra de Florbela Espanca foi assunto por duas vezes aqui no blog: primeiro, a 2 de abril, quando li "Ser Poeta", do livro "Charneca em Flor"; mais tarde, a 6 de agosto, pela voz de Alexandra Jacob, foi apresentado "O Meu Soneto".
Publicações Europa-América
A vida de Florbela Espanca inspirou um filme de Vicente do Ó lançado em 2012 que, mais tarde, passou na RTP como minissérie. Mas já em 1978 a televisão pública apresentar um programa sobre o seu trajeto na série "As Palavras Herdadas".
José António Ribeiro de Carvalho nasceu a 26 de janeiro de 1964, na freguesia de Vermoim, concelho de Vila Nova de Famalicão, onde reside. Cresceu num meio rural e de pessoas simples, numa família de seis irmãos. É casado e tem dois filhos. Sempre teve gosto pela escrita, todavia esse facto trouxe-lhe "alguns dissabores na disciplina de Português", pela "liberdade de escrita e interpretação" que reclamava.
Em outubro de 2018 editou o seu livro de poesia (e fotografia) "Sente, Logo Vives e Sonhas" através da Chiado Books. Depois disso, a sua obra e a sua presença estão associadas a uma diversidade de edições e momentos: X e XI antologia poética "Entre o Sono e o Sonho" (outubro de 2018 e 2019); na coletânea de micronarrativas "SMS" (janeiro de 2019); coletânea de cartas de amor "Três Quartos de um Amor" (fevereiro de 2019); na Antologia da Poesia Livre, tema: Liberdade (abril de 2019); coletânea de contos de natal, "Natal em Palavras" (dezembro de 2019); antologia "Quarentena - Memórias de um país confinado" (março de 2020); antologias "Poetas d’Hoje", do Grupo de Poesia da Beira Ria - Aveiro (novembro de 2019); "Mimos de março" (março de 2020, Edições Mimos e Livros); coletânea "Livro Aberto" da Rádio Voz de Alenquer (abril de 2020); coletânea Horizontes da Poesia XII (maio de 2020); Expoética-2019, em Braga, subordinada ao tema: "Mar", com o poema "Vida e Mar", entre muitas outras iniciativas de âmbito cultural.
Mais informações sobre o autor e a respetiva atividade podem encontrar-se no seu blog e também na sua página na rede social Facebook.
Esta é a outra participação de José António de Carvalho aqui no blog. Estreou-se a 1 de agosto de 2020 com o seu "Sente, Logo Vives e Sonhas", seguindo-se "Ficções do Interlúdio", de Fernando Pessoa, obra da qual escolheu "Ó Sino da Minha Aldeia", a 21 de agosto, e ainda "Vermoim, Minha Terra", um poema de homenagem à terra onde nasceu e reside, a 12 de setembro. No dia 24 desse mês leu "Pátria Minha", poema da sua autoria que entrou na coletânea "Alma Latina". A 29 de outubro apresentou "A Revolta da Aceitação", no dia 13 de novembro leu o seu poema "Os Fracos" e, dois dias depois, foi pela sua voz que ouvimos "O Poeta Enamorado", de Joaquim Pessoa.
José António de Carvalho escreveu artigos para os jornais locais Cidade Hoje e Repórter Local. Também teve comentários seus citados na RTP3.
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