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Paulo Jorge Pereira

Luma Garbin lê "Catálogo de Sombras", de José Eduardo Agualusa

Aqui se regressa ao momento em que o conto "Se Nada Mais Der Certo, Leia Clarice", parte integrante da obra "Catálogo de Sombras", escrita por José Eduardo Agualusa, foi proposto por Luma Garbin. O livro do multipremiado escritor angolano foi publicado em 2003 e faz parte de uma vasta obra iniciada em 1989.



Começou por um romance logo premiado - "A Conjura", publicado em 1989 - o percurso literário de José Eduardo Agualusa Alves da Cunha, mas a sua obra cresceu muito ao longo dos anos, assim como o seu prestígio e a lista de galardões. Nascido a 13 de dezembro de 1960 no Huambo, quando Angola estava ainda sob domínio de Portugal, com mãe portuguesa e pai brasileiro (brincou a propósito disso numa entrevista à revista Fórum, em outubro de 2011: "Tenho descendência angolana. Sou um afro-ascendente. Tenho família de muitas cores, graças a Deus. Odeio a uniformidade. Vivi toda a minha infância e boa parte da adolescência na cidade de Huambo, no planalto central de Angola), Agualusa iria estudar Agronomia e Silvicultura em Lisboa no Instituto Superior de Agronomia. No entanto, seria na área das Letras que iria exercer atividade profissional - como jornalista, escritor e editor. Na imprensa foi escrevendo para o Público, mas também na revista LER, n'O Globo e no portal Rede Angola; na rádio ganhou estatuto de realizador com o programa "A Hora das Cigarras" da RDP África. Além de romances, a extensa obra inclui contos, novelas, literatura infantil, teatro e poesia, mas o autor também apostou na edição: em 2006, ao lado de Conceição Lopes e Fátima Otero, criou a editora Língua Geral, no Brasil, para uma aposta somente em escritores lusófonos.

Entre outros, publicou "Estação das Chuvas" (1996), "Nação Crioula: Correspondência Secreta de Fradique Mendes" (1997), "Um Estranho em Goa" (2000), "Catálogo de Sombras" (2003), "O Vendedor de Passados" (2004), "Manual Prático de Levitação" (2005), "O Filho do Vento" (2006), "As Mulheres do meu Pai" (2006), "Barroco Tropical" (2009), "Milagrário Pessoal" (2010), "Teoria Geral do Esquecimento" e "A Educação Sentimental dos Pássaros" (ambos em 2012), "A Rainha Ginga" (2014), "O Livro dos Camaleões" (2015), "A Sociedade dos Sonhadores Involuntários" (2017) ou "O Paraíso e Outros Infernos" (2018). Além disso, também escreveu, com o moçambicano Mia Couto, a peça "Chovem Amores na Rua do Matador".

Nas distinções recebidas incluem-se o Prémio Revelação Sonangol (1989), o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco (1999), o Grande Prémio Gulbenkian de Literatura para Crianças e Jovens (2002), o Prémio Fernando Namora (2013) ou o Prémio Literário Internacional IMPAC de Dublin (2018).


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"O meu pescador não tinha televisão. Às vezes acontecia demorar-se num bar, ou na praça (havia uma televisão na praça), e o fragor das guerras alheias roubava-lhe o sono. Ele sofria com os erros dos outros. Andava pela ilha com 'A Hora da Estrela' debaixo do braço, tentando, sem sucesso, converter os demais. Só eu lhe dava atenção", escreve Agualusa em "Se Nada Mais Der Certo, Leia Clarice", no livro "Catálogo de Sombras".

Em síntese, Luma Garbin foi durante muitos anos livreira em Lisboa e, em 2019, publicou uma coletânea sobre a maternidade. Alargando um pouco mais a informação, a autora costuma apresentar-se desta forma: "Luma Garbin viveu sempre com a cabeça enfiada nos livros e, apesar de ter nascido longe, encontrou nas colinas de Lisboa o lugar a que chama casa. Durante quase uma década foi livreira empenhada em contagiar mais e mais leitores; depois de ir para casa viver a maternidade em pleno, pariu o livro 'Mães como nós' (Arena, 2019), um passeio pelas histórias de mães reais e imaginárias, de Marie Curie a Proust. Acredita que os livros nos salvarão nesta quarentena, lembrando-se sempre do que dizia Manoel de Barros: 'Só as palavras não foram castigadas com a ordem natural das coisas. As palavras continuam com os seus deslimites.'"




No "Aviso à Navegação" que serve como espécie de nota de autora da sua obra, Luma Garbin escreve: "Aqui reunimos histórias de mães da vida real, da literatura, da poesia, da música, do cinema e das artes visuais. São apenas algumas das que povoam o nosso imaginário, que nos inspiram, que nos impelem a sermos melhores e que são também um pretexto para olharmos para as mães à nossa volta com curiosidade pela história que elas encerram. Este é, pois, um livro com mães dentro. É favor manusear com cuidado."

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