Tem conquistado leitores com o seu estilo desassombrado ao mesmo tempo que leva a crítica a render-se e acumula distinções. De origem marroquina, mas tendo estudado em França e agora a viver parte da sua vida em Portugal, Leïla Slimani tem falado sobre o seu trabalho literário. E aqui fica um trecho da sua obra "No Jardim do Ogre".
O primeiro romance, em 2014, foi precisamente "No Jardim do Ogre", que logo suscitou elogios generalizados e o Prémio Mamounia, e do qual hoje aqui apresento um trecho; depois, "Canção Doce" foi o melhor seguimento possível, não apenas como sucessor ideal da obra de estreia, mas também na multiplicação dos tons elogiosos e no aumento formidável das audiências. Sinal mais entusiasmante: a atribuição do Prémio Goncourt (2016), o de maior prestígio no meio literário francês. Ter sido adaptado ao grande ecrã, editado em cerca de meia centena de países e escolhido como uma das obras do ano pelo New York Times Book Review fez de Leïla Slimani mais do que um acontecimento - levou a que as atenções se concentrassem na sua escrita e não só, permitindo perceber que se trata de uma empenhada defensora dos Direitos Humanos, designadamente no que diz respeito aos direitos das mulheres marroquinas.
Entretanto, perante a admiração geral, Leïla prosseguiu o seu trabalho literário, voltando-se para o seu país de origem e a vida das mulheres por lá com "O País dos Outros", uma trilogia que está em construção. "O Perfume das Flores à Noite", já aqui apresentado, é um outro tipo de experiência em que a escritora foi convidada para passar uma noite num museu em Veneza e escrever sobre isso. O resultado final é muito mais do que a passagem das horas e aquilo que Leïla Slimani vive naquele espaço - é uma viagem pela sua própria vida e pela Cultura, convidando à leitura ávida.
Leïla nasceu na capital marroquina, Rabat, a 3 de outubro de 1981, filha de um responsável da banca que se tornou Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros entre 1977 e 1979, e de uma médica, a primeira a integrar uma especialidade em Marrocos. Estudaria em solo marroquino até viajar rumo a Paris em 1999, aqui se aplicando na área de Ciências Políticas ao mesmo tempo que manifestava atração pelo teatro, inscrevendo-se mesmo no Cours Florent com a intenção de se dedicar à comédia. Contudo, seguiria a atividade jornalística, integrando a equipa da revista Jeune Afrique até apostar na escrita literária. Em 2008 casou-se com um banqueiro e o casal tem dois filhos.
Não esquece, por outro lado, que o seu primeiro manuscrito foi recusado nas editoras a que se dirigiu e, em 2013, resolveu participar, durante dois meses, num estágio de escrita organizado pelo escritor e editor Jean-Marie Laclavetine. O seu livro de estreia seria "La Baie de Dakhla: Itinérance enchantée entre Mer et Désert".
Nas intervenções públicas gosta de recordar a sua vontade de contar histórias desde criança. Em novembro de 2017, a escritora foi indigitada pelo Presidente francês Emmanuel Macron, como representante na Organização Internacional da Francofonia. Nos últimos tempos, parte da sua vida decorre em Lisboa e as solicitações para falar em público têm sido constantes: depois de marcar presença no Teatro São Luiz, durante o festival 5L, numa conversa com Dulce Maria Cardoso moderada pela também escritora e tradutora Tânia Ganho, marcou presença na Fundação Calouste Gulbenkian, falando com Margarida Calafate Ribeiro. E voltou a lembrar a importância da arte de mentir para se construir uma Literatura verdadeira...
Alfaguara/Tradução de Isabel Castro Silva
"A Literatura é o espaço da liberdade absoluta", defende Leïla Slimani. "Podemos fazer tudo, falar de tudo, abordar tudo. Não existe moral na Literatura. E, citando Georges Bataille, diria que é justamente porque existe essa liberdade absoluta que há uma espécie de exigência que também é absoluta. A Literatura pode aceitar tudo, exceto a mediocridade", acrescenta.
Leïla Slimani também tem escrito ensaios e erguido a voz em nome dos direitos das comunidades LGBT. Publicou "Sexe et Mensonges: La Vie Sexuelle au Maroc", "Paroles d'Honneur" ou "Simone Veil, Mon Héroïne".
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