E se J.K. Rowling, autora da saga do Harry Potter, escrevesse policiais sob pseudónimo? Pois bem, é disso mesmo que se trata nesta escolha do escritor Nuno Nepomuceno que apresenta leitura de um excerto da estreia de Rowling sob pseudónimo.
Considerada a mais popular escritora à escala planetária, com milhões de exemplares vendidos da saga Harry Potter, centenas de milhões de espectadores das adaptações ao Cinema, milhares de milhões de receitas de bilheteira e uma fortuna a condizer, J.K. Rowling dedicou-se à escrita de outros livros e, em 2012, em pleno período de cinco anos sem voltar ao universo fantástico de Hogwarts, publicou "The Casual Vacancy". Em entrevista à ABC News, admitiu que tinha "sexo adolescente e morte", mas era "uma comédia", ou melhor, "uma tragicomédia". Certo é que a obra, que garantira um milhão de vendas ainda antes de chegar às livrarias, contém elementos da vida da própria Rowling, designadamente relacionados com uma fase depressiva. "Harry Potter devolveu-me autoestima, deu-me algo para fazer que eu adorava acima de tudo o resto e, para lá do dinheiro, fez com que valesse a pena continuar a escrever", confessou nessa entrevista. Em 2015, "The Casual Vacancy" tornou-se minissérie numa colaboração entre a BBC e a HBO.
Mas muito antes, em 2007, pouco depois de escrever o último livro de Harry Potter, surgiram rumores de que estaria a preparar um policial. Ao publicar "Quando o Cuco Chama", a editora Little Brown referiu-se a Robert Galbraith, o suposto autor estreante, como tratando-se de "um ex-militar da Polícia Real que abandonara o cargo em 2003 para trabalhar na indústria de segurança civil". No entanto, depressa surgiram elementos que levaram a duvidar de que se tratasse de uma estreia e houvesse algo mais por detrás da história de Cormoran Strike, detetive privado que investiga e descobre a verdade sobre um possível suicídio no mundo da moda. Uma mensagem no Twitter revelou que o livro fora, de facto, escrito por Rowling. Assim que o universo jornalístico confirmou que Robert Galbraith era um pseudónimo com que J.K. Rowling juntava a homenagem a Robert Kennedy, irmão do Presidente John F. Kennedy e antigo procurador-geral, senador e candidato à presidência norte-americana assassinado em 1968, e a um nome que escolhera para si na infância (Ella Galbraith), as vendas atingiram números incríveis. Mais tarde, Jude Callegari, que escrevera a mensagem na rede social, pediu desculpa pelo episódio e o escritório de advogados onde trabalhava o marido, que representava a escritora, não só foi admoestado por quebra de sigilo em relação a um cliente como enfrentou um processo em tribunal, resolvido com doação milionária a uma instituição de caráter social. Desde então, a escritora publicou outros livros com a personagem de Cormoran Strike como protagonista: "O Bicho da Seda" é de 2014; "Vocação para o Mal" surgiu no ano seguinte e "Branco Letal" foi publicado em 2017. E a BBC criou uma série intitulada "Strike", baseando-se nestes livros de J.K. Rowling.
A escritora nasceu a 31 de julho de 1965, perto de Bristol, em Inglaterra, quase dois anos antes da irmã, Diana. Era ainda uma criança e já escrevia pequenas histórias que gostava de contar à irmã mais nova. Passou por dificuldades na adolescência, foi rejeitada ao tentar a entrada na Universidade de Oxford e acabaria por obter formação em Francês e Estudos Clássicos na Universidade de Exeter. Seguiram-se estudos em Paris, o trabalho em Londres como secretária na Amnistia Internacional e a mudança para Manchester, cidade em que se dedicou a um emprego na Câmara de Comércio. Harry Potter nasceria, segundo a própria contou mais tarde, numa viagem de comboio entre Manchester e a capital inglesa. No final de 1990, Rowling perdeu a mãe, vítima de esclerose múltipla. A sua vida sofreu nova alteração importante quando se mudou para o Porto, onde ensinou Inglês e foi escrevendo aventuras do mundo mágico que criara. Aqui conheceu e casou-se com o jornalista Jorge Arantes, passou por um aborto e foi mãe de Jessica a 27 de julho de 1993. Pouco tempo mais tarde, porém, Rowling separou-se do marido - iria queixar-se de violência doméstica e de abuso sexual, enquanto o ex-marido admite que lhe deu "um estalo", mas negou violência continuada e qualquer abuso sexual - e viajou com a filha para junto da irmã, em Edimburgo. Nesta fase passou por forte depressão, refugiando-se na escrita e na dedicação à filha para não ceder. "Harry Potter e a Pedra Filosofal" foi concluído em 1995, mas a agência que passou a representar Rowling viu o manuscrito rejeitado na primeira dúzia de tentativas para o publicar. Só em 1997 a Bloomsbury publicou o livro que seria distinguido com vários prémios e mereceu da parte do Scottish Arts Council um apoio para que Rowling escrevesse nova obra. Em 1998, uma editora norte-americana pagou mais de 100 mil dólares pelos direitos de publicação nos Estados Unidos e a vida da escritora começou a mudar. Até porque, perto do final do ano, a Warner Brothers decidiu apostar na adaptação dos livros ao grande ecrã por uma quantia fabulosa e, deste modo, em 2001 e 2002 foram lançados os filmes dos dois primeiros livros. Um fenómeno de popularidade à escala planetária foi criado de imediato, nunca deixando de aumentar o entusiasmo e o estado quase febril com que eram acompanhados os lançamentos de livros (com dezenas de traduções) e filmes (neste último caso com episódios da saga em 2004, 2005, 2007, 2009, 2010 e 2011).
Pelo caminho, novos galardões foram atribuídos aos episódios seguintes da saga - "Harry Potter e a Câmara Secreta" e "Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban". Em 2000, com "Harry Potter e o Cálice de Fogo", lançado em simultâneo no Reino Unido e nos EUA, as vendas tornaram-se extraordinárias - mais de 300 mil exemplares num só dia (quase tanto como as vendas anuais do livro anterior) no Reino Unido e três milhões em solo norte-americano nos primeiros dois dias. Em 2001, a escritora conheceu Neil Murray, com quem se casaria dois anos mais tarde, altura da publicação de "Harry Potter e a Ordem da Fénix" e do nascimento do segundo filho, David. "Harry Potter e o Enigma do Príncipe" é de julho de 2005, seguindo-se "Harry Potter e as Relíquias da Morte" (2006) do qual se venderiam 11 milhões de exemplares no primeiro dia nas livrarias só no Reino Unido e nos EUA. E assim encerrava a série, mas não as receitas avultadas em redor de algo que se transformou num fenómeno multiplataformas à escala planetária.
Editora Cultura
"Don Filippo foi surpreendido pelo tom agressivo das palavras que saíram da boca do aluno. Sentado numa cadeira velha de madeira, no interior da capela, alisou duas vezes a batina preta que lhe cobria os joelhos e abriu e fechou o catecismo. Era um tique": assim começa "A Morte do Papa", de Nuno Nepomuceno.
Nuno Nepomuceno nasceu em 1978, tem escrito livros do género thriller, ganhou evidência a partir de 2012 quando ganhou a 1ª edição do concurso literário organizado pelos grupos Sonae e LeYa, e pela revista Lux Woman. Chegou ao topo do top nacional de vendas com "A Morte do Papa", livro editado em 2020. Para trás ficavam obras como "O Espião Português", "A Espia do Oriente", "A Hora Solene", "A Célula Adormecida", "Pecados Santos" e "A Última Ceia" (com esta obra foi finalista no Prémio Bertrand Livro de Ficção do Ano). Outros resultados do seu trabalho literário são, por exemplo, "O Cardeal" (2021) ou "A Noiva Judia" (2022).
Para saber mais sobre o autor e a respetiva obra pode consultar o seu site aqui.
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