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  • Paulo Jorge Pereira

"O Ano da Morte de Ricardo Reis", de José Saramago

Prémio Camões em 1995 e único português agraciado com o Nobel da Literatura (1998), o primeiro romance foi publicado em 1947 e chamava-se "Terra do Pecado". Hoje a proposta é de um trecho do livro "O Ano da Morte de Ricardo Reis".



José Saramago publicou "O Ano da Morte de Ricardo Reis" em 1984. A ação está situada entre dezembro de 1935 e setembro de 1936, período de consolidação do fascismo e da ditadura de Salazar em Portugal. Mas não só - esta é uma oportunidade para revisitar o que se passou em solo europeu por essa altura: a Guerra Civil em Espanha; a afirmação de Hitler no poder e a disseminação das propostas nazis na Alemanha; Mussolini, a brutalidade e os assassínios dos seus camisas negras em Itália. Entretanto, o heterónimo de Fernando Pessoa visita a campa do poeta, morto a 30 de novembro de 1935. Torna-se inevitável a viagem pelo complexo universo pessoano, bem como por essa Lisboa antiga e, em tantos casos, já desaparecida. E não faltam sequer histórias de amor para que o romance tenha uma amplitude ainda maior.

Com "Levantado do Chão", em 1980, Saramago traçara o retrato das enormes desigualdades e da exploração dos mais desfavorecidos pelos mais ricos no Alentejo durante a ditadura e até à Revolução do 25 de Abril. Sobre esta obra, o próprio autor escreveria: "Um escritor é um homem como os outros: sonha. E o meu sonho foi o de poder dizer deste livro, quando terminasse: 'Isto é um livro sobre o Alentejo'. Um livro, um simples romance, gentes, conflitos, alguns amores, muitos sacrifícios e grandes fomes, as vitórias e os desastres, a aprendizagem da transformação, e mortes. É portanto um livro que quis aproximar-se da vida, e essa seria a sua mais merecida explicação". De 1982 vem o seu primeiro grande sucesso com a publicação de "Memorial do Convento", mas outros livros seus foram merecendo elogios: "O Ano da Morte de Ricardo Reis" (1984), de que aqui apresento um excerto, "A Jangada de Pedra" (1986) e "História do Cerco de Lisboa" (1989) são só alguns exemplos.

Se já era objeto de admiração em Portugal e pelo mundo fora, os seus livros ganharam dimensão universal após o Nobel, recebido em 1998. Antes, porém, em abril de 1992, foi alvo de Sousa Lara, então subsecretário de Estado da Cultura no Governo de Cavaco Silva, que retirou "O Evangelho Segundo Jesus Cristo", muito atacado pela Igreja Católica, da lista de candidatos a um galardão literário europeu. No ano seguinte, o escritor, casado com a jornalista Pilar del Río desde 1988, cortou relações com o poder político e fixou residência na ilha espanhola de Lanzarote. Só em 2004, com Durão Barroso como chefe do Governo, o assunto foi superado. Três anos mais tarde, nasceu a Fundação José Saramago (desde 2012 tem sede na Casa dos Bicos, em Lisboa), dedicada à promoção da Literatura, mas também a defender valores como os Direitos Humanos e o ambiente. Controverso e muitas vezes criticado pelas posições assumidas, Saramago distribuiu o trabalho literário por romances, contos, crónicas, teatro, poesia, viagens, memórias e livros para crianças.

Serralheiro mecânico, desenhador, administrativo, tradutor, editor, jornalista, argumentista - bem pode dizer-se que José Saramago foi um homem dos sete ofícios. Desenvolveu o gosto pela leitura na Biblioteca do Palácio Galveias, mas só nos anos 80 passou a viver do trabalho como escritor. O cinema também se interessou pelos seus livros como o exemplificam as adaptações d'"A Jangada de Pedra (2002), "Ensaio sobre a Cegueira" (2008) ou "O Homem Duplicado" (2014). Nascido na Azinhaga a 16 de novembro de 1922, morreu a 18 de junho de 2010. Comunista até ao fim.


Editorial Caminho


"O Ano da Morte de Ricardo Reis" surge aqui pela segunda vez, depois da estreia com a leitura da estudante Jet Vos, a 29 de agosto do ano passado.

"O Ano da Morte de Ricardo Reis" já teve aqui uma presença quando a estudante Jet Vos, terceira classificada no Concurso Nacional de Leitura, apresentou um trecho, a 29 de agosto do ano passado. Quanto a leituras de outros excertos de obras de Saramago têm sido frequentes aqui no blog: a primeira aconteceu quando li um excerto do livro "Levantado do Chão", a 20 de abril; a 11 de junho, pela voz do jornalista Ricardo Figueira, surgiu "Caim"; "Cadernos de Lanzarote II" foi a obra escolhida por Elisabete Jesus para apresentar um trecho a 29 de setembro; a 30 de dezembro li uma passagem da obra "Memorial do Convento". Mais recente, de 20 de janeiro, foi a minha leitura de um pouco do livro "História do Cerco de Lisboa".

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