Docente universitário, poeta, dramaturgo, romancista, ensaísta, novelista, cronista, contista, tradutor e crítico literário, David Mourão-Ferreira e o poema "Ternura" são a proposta de Rui Rocha para leitura de hoje.
Nascido em Lisboa, a 24 de fevereiro de 1927, David de Jesus Mourão-Ferreira foi o primeiro filho do casal formado por David José da Silva Ferreira e Teresa de Jesus Mourão-Ferreira. Dois anos mais tarde nasceria o irmão, Jaime Alberto. Estudante no Colégio Moderno de João Soares, irá licenciar-se em Filologia Românica e, entre outros papéis, será professor catedrático, com particular relevo na área de Teoria da Literatura.
A atração pelo trabalho literário surge cedo na vida do futuro escritor multipremiado: em 1945, os primeiros poemas são publicados na revista Seara Nova e a obra vai ganhando dimensão. Codiretor, com António Manuel Couto Viana e Luís de Macedo, da revista Távola Redonda (1950-1954), escreve fados para Amália Rodrigues (Sombra, Maria Lisboa, Anda o Sol na Minha Rua, Nome de Rua, Fado Peniche e Barco Negro) e não só, num contexto em que não falta quem considere impróprio que seja musicada poesia de Camões e de outros escritores por parte de um dos maiores nomes da música, do fado e da Cultura. Mas nem o escritor, nem Amália, a quem conhecera por iniciativa do cunhado, Rui Valentim de Carvalho, levam em conta as críticas e mantêm a colaboração.
Intervém na vida literária, gerando admiração e ódios com represálias, neste último caso da ditadura. A meio dos anos 60, é forçado o fim da sua apresentação do programa "Música e Poesia", na então Emissora Nacional, perante a sua opinião contrária ao fecho da Sociedade Portuguesa de Escritores. Ao mesmo tempo, deixa de ter presença na RTP, na qual era o apresentador de Hospital das Letras. Mais: ao apoiar Natália Correia pela apresentação de "Antologia da Poesia Portuguesa Erótica e Satírica" e também por ser o autor do prefácio e da tradução da obra "A Filosofia de Alcova", de Sade, acaba mesmo por sofrer perseguição judicial.
Terminado o casamento com Maria Eulália Barbosa de Carvalho, de quem tem o filho David Ferreira e a filha Adelaide Constança, em 1966 contrai um segundo matrimónio, agora com Maria do Pilar de Jesus Barata. Tem uma presença mais ativa no Jornalismo, no Diário de Lisboa, e volta também à RTP, e ainda à Faculdade de Letras de Lisboa como professor de Teoria da Literatura e Literatura Francesa no começo da década de 70. Depois da Revolução, será secretário de Estado da Cultura (1976-79); diretor do diário A Capital e subdiretor em O Dia; diretor do Boletim Cultural do Serviço de Bibliotecas Itinerantes e Fixas da Fundação Calouste Gulbenkian (1984-96); diretor da revista Colóquio/Letras; presidente da Associação Portuguesa de Escritores (1984-86) e vice-Presidente da Association Internationale des Critiques Littéraires.
Ao longo do tempo, a poesia ocupa a maior parte da sua obra: "A Viagem" (1950); "Tempestade de Verão" (1954); "Os Quatro Cantos do Tempo" (1958); "Maria Lisboa" (1961); "In Meae" e "Infinito Pessoal ou a Arte de Amar" (ambos de 1962); "Do Tempo ao Coração" (1966); "Lira de Bolso" (1969); "Cancioneiro de Natal" (1971); "Matura Idade" (1973); "Sonetos do Cativo" (1974); "As Lições do Fogo" (1976); "Obra Poética" (1980); "Os Ramos e os Remos" (1985); "Obra Poética, 1948-1988" (1988); "Música de Cama" (1994). Vai recebendo prémios que também distinguem a sua arte novelística ("Gaivotas em Terra", 1959), contos ("Os Amantes", 1968, e "As Quatro Estações", 1980) ou romance ("Um Amor Feliz", 1986, Prémio APE). Publica ainda "Duas Histórias de Lisboa", em 1987.
Morreu na capital, aos 69 anos, vítima de cancro, a 16 de junho de 1996.
Guimarães
David Mourão-Ferreira foi um dos principais nomes da poesia portuguesa na segunda metade do século XX.
Na estreia em leituras aqui no blog, Rui Rocha apresentou, a 11 de abril, a poesia de Alexandre O'Neill com "Um Adeus Português". E já então se autodefinia em poucas palavras: "Moro no Porto, tenho muitas paixões, mas as primeiras foram ler e jogar à bola. Num mundo perfeito acrescentaria a palavra poeta. Mas não me atrevo." O poema "A Flor", que leu a 17 de abril, está inserido na obra "A Invenção do Dia Claro", na III parte, intitulada "O Regresso ou o Homem Sentado", de Almada Negreiros.
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