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Paulo Jorge Pereira

"Tanta Gente, Mariana", de Maria Judite de Carvalho

Com vasta obra multipremiada, mas à qual faltou maior divulgação junto do público em vida da autora, Maria Judite de Carvalho é um talento sui generis da Literatura portuguesa. Aqui fica, de novo, um excerto do seu livro de estreia, intitulado "Tanta Gente, Mariana".



A infância e a adolescência de Maria Judite de Carvalho foram acidentadas e ficariam marcas desse período turbulento. Nascida em Lisboa, a 18 de setembro de 1921, embora os pais morassem na Bélgica, a pequena ficaria a cargo de tias pelo lado do pai. As perdas começaram quando tinha apenas quatro anos, pois morreu uma tia; volvidos outros quatro anos, ficou sem a mãe, vítima de tuberculose; seguiu-se o meio irmão, também vitimado pela tuberculose, aos 10 anos ficou sem outra das tias e aos 15 deixou de conhecer o paradeiro do pai, a quem foi atribuído o estatuto de desaparecido.

Aluna do Colégio Feminino Francês e do Liceu Maria Amália, iria licenciar-se em Filologia Germânica. O ano de 1944 tornou-se marcante para a sua vida, pois foi nessa altura que conheceu o professor universitário, escritor e político Urbano Tavares Rodrigues, seu marido a partir de 1949 e com quem foi viver para a cidade francesa de Montpellier, onde Urbano iria trabalhar como docente. Nesse mesmo ano teve oportunidade de publicar o primeiro conto na revista Eva (a partir de 1953, a publicação também aceitou as suas "Crónicas de Paris", cidade onde passara a viver). No ano seguinte voltou por alguns meses à capital portuguesa para ser mãe, deixando a filha a cargo dos avós paternos - a perseguição política de que era alvo o marido por parte da ditadura não permitia que o casal vivesse em Portugal sem sobressaltos.

Seria a revista Eva a acolhê-la profissionalmente no regresso a Portugal, em 1955, e aqui Maria Judite de Carvalho evoluiria de secretária até chefe de redação. Com a falência da publicação, a jornalista passou a trabalhar no Diário de Lisboa em 1968 e aqui foi publicando crónicas até 1986. Com início em 1978, escreveu crónicas para O Jornal e um dos galardões atribuídos ficou a dever-se à coleção desses textos, reunidos na obra "Este Tempo".

A sua obra, distinguida por diversos prémios, inclui contos como "Tanta Gente, Mariana" (1959), de que hoje aqui se apresenta um trecho; "As Palavras Poupadas" (1961); "A Paisagem sem Barcos" (1963); "Flores ao Telefone" (1968); "Os Idólatras" (1969); "Tempo de Mercês" (1973); "Além do Quadro" (1983) ou "Seta Despedida" (1995). Pelo meio publicou o romance "Os Armários Vazios" (1966), a novela "O Seu Amor por Etel" (1967), livros de crónicas intitulados "A Janela Fingida" (1975) e "Este Tempo" (1991), mas também "Mulher" (1976) e uma coletânea de textos que publicou no Diário de Lisboa de 1970 a 1975 sob o título "O Homem no Arame" (1979).

Morreu a 18 de janeiro de 1998, na cidade de Lisboa.


Minotauro


"Era uma pessoa muito secreta", contou o marido, Urbano Tavares Rodrigues, em entrevista ao programa Ler+, Ler Melhor da RTP.

Já depois da sua morte saíram "A Flor que Havia na Água Parada" e Havemos de Rir!"(poesia e peça de teatro, ambos de 1998) e outro livro de crónicas com o título "Diários de Emília Bravo" (2002). O seu trabalho literário tem sido reeditado pela Minotauro.

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