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Paulo Jorge Pereira

"Volto de Novo ao Princípio", de Manuel António Pina

Regressa o trabalho literário de Manuel António Pina para nos deliciar, depois de já aqui termos abordado essa realidade e também a de como brincar com as palavras se torna um prazer enorme - para quem faz a brincadeira, para quem lê e, sobretudo, para quem ouve. Desta vez é o poema "Volto de Novo ao Princípio".



Foi a poesia que tornou Manuel António Pina mais conhecido de uma parte dos leitores, mas a sua obra que começou por conquistar mais seguidores é a literatura infantil, como é o caso de "O Têpluquê e Outras Histórias" (1976), de que aqui já se apresentou um excerto, ou das "Histórias com Pés e Cabeça" (que foram a base de uma série infantil para TV no final dos anos 70), ensaios, novelas ou textos para teatro. Num caso que já aqui se apresentou, com o poema "It's Alright, Ma", podia até ser uma canção de Bob Dylan, por exemplo...

Nascido a 18 de novembro de 1943, no Sabugal, filho de um funcionário das Finanças, mudava de localidade de dois em dois anos, algo que o foi impedindo de fazer amigos com facilidade. Iria licenciar-se em Direito na Universidade de Coimbra - "fiz o curso todo sem assistir a uma aula de Direito, ia assistir às aulas de Literatura, do Paulo Quintela", confessou, em entrevista concedida a Anabela Mota Ribeiro -, exercendo advocacia antes de entrar na área da publicidade. No entanto, a atração pela comunicação conduziu-o mesmo ao jornalismo, tornando-se editor do Jornal de Notícias, além de participações na rádio e na televisão.

O seu trabalho literário deixou marcas indeléveis pela sensibilidade revelada na linguagem, mas também pelo modo como sempre fez parecer fácil a arte de jogar com as palavras e o ofício da escrita. Distribuídos por diferentes géneros publicou livros como "O País das Pessoas de Penas para o Ar" (1973), "Ainda Não É o Fim nem o Princípio do Mundo Calma É Apenas um Pouco Tarde" (1974), "O Têpluquê" (1976), "Gigões e Anantes" (1978), "O Pássaro da Cabeça" (1983), "Nenhum Sítio" (1984), "História com Reis, Rainhas, Bobos, Bombeiros e Galinhas" (também em 1984), "A Guerra do Tabuleiro de Xadrez" (1985), "Os Dois Ladrões" (1986), "Os Piratas" (também de 1986), "O Inventão" (1987), "O Caminho de Casa" (1988), "Um Sítio Onde Pousar a Cabeça" (1991), "Algo Parecido com Isto da Mesma Substância" (1992), "Farewell Happy Fields" (1993), "O Tesouro" (também em 1993), "Cuidados Intensivos" (1994), "O Anacronista" (ainda em 1994), "O Meu Rio é de Ouro" (1995), "Uma Viagem Fantástica" (1996), "O Escuro" (1997), "Anikki Bóbó" (também em 1997), "Aquilo que os Olhos Veem ou O Adamastor" (1998), "Nenhuma Palavra e Nenhuma Lembrança" (1999), "Morket" (ainda em 1999), "Le Noir" (2000), "Os Livros" (2003), "Pequeno Livro de Desmatemática" (2001), "A Noite" (também de 2001 e levado à cena pela Companhia de Teatro Pé de Vento), "Perguntem aos Vossos Gatos e aos Vossos Cães" (2002), "A Caneta Preta" (2007), "História do Sábio Fechado na sua Biblioteca" (2009) e, ainda em 2009, "O Cavalinho de Pau do Menino Jesus e outros Contos de Natal".

Fernanda Silva foi a primeira a abordar um trabalho de Manuel António Pina por aqui: leu, a 27 de outubro de 2020, um pouco de "Histórias que me Contaste Tu". Mais tarde, a dia 8 de abril de 2021, surgiu a minha leitura do poema "4 de julho de 1965". A 18 de junho, esteve aqui "It's Alright, Ma" e, três dias depois, a escolha recaiu em "O Têpluquê e Outras Histórias". A 6 de outubro foi a vez de um regresso a "Todas as Palavras". O poema "Atropelamento e Fuga" proporcionou outro regresso no dia 24. "Imorais e Puros" teve presença a 3 de novembro. E voltarei noutras ocasiões à criação literária do jornalista e escritor.


Porto Editora


O Prémio Camões foi atribuído a Manuel António Pina no ano de 2011.

Em 2011 foi agraciado com o Prémio Camões, o qual se juntou a galardões como o Prémio Literário da Casa da Imprensa (1978), por "Aquele Que Quer Morrer"; o Grande Prémio Gulbenkian de Literatura para Crianças e Jovens e a Menção do Júri do Prémio Europeu Pier Paolo Vergerio da Universidade de Pádua por "O Inventão" (1988, ano em que também foi distinguido com o Prémio do Centro Português de Teatro para a Infância e Juventude pelo conjunto da obra); o Prémio Nacional de Crónica Press Clube/Clube de Jornalistas, em função das suas crónicas (1993); o Prémio da Crítica da Associação Portuguesa de Críticos Literários por "Atropelamento e Fuga" (2001); o Prémio de Poesia Luís Miguel Nava e o Grande Prémio de Poesia da APE/CTT, ambos por "Os Livros" (2005).

Morreu a 19 de outubro de 2012, vítima de cancro, no Hospital de Santo António (Porto). A título póstumo seria editado "Todas as Palavras", no qual se reúne toda a poesia do autor.

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