Um Nobel da Literatura, Boris Pasternak, e uma obra imortalizada pela 7.ª Arte, "Doutor Jivago", é a proposta de leitura para hoje. O livro é de 1957, a atribuição do galardão é de 1958; a adaptação cinematográfica surgiu em 1965. Mas o autor foi impedido de receber o prémio e morreria em 1960, numa altura em que o romance estava proibido na então União Soviética - foi preciso esperar durante décadas por Mikhail Gorbachev para a publicação ser autorizada.
Nascido no então Império Russo dos czares, a 10 de fevereiro de 1890, Boris Leonidovitch Pasternak tinha as artes a correr-lhe nas veias: a mãe, Rosa Kaufman, era pianista e o pai, Leonid, um pintor e professor de pintura. Tendo a família posses económicas sem limitações, o jovem, com um irmão (Alex) e duas irmãs (Lydia e Josephine), começou por ambicionar uma carreira musical e estudou no Conservatório de Moscovo. Mas, depois, pôde estudar Filosofia na Alemanha e de lá regressar no ano do começo da I Guerra Mundial (1914), dedicando-se logo a publicar poesia. Seguiu-se um período em que desenvolveu atividade numa fábrica de químicos na região dos Urais, conhecimentos que seriam determinantes para uma parte da escrita do seu romance "Doutor Jivago". Porém, a vida tranquila e serena que Boris Pasternak conhecia depressa se desvaneceu, pois as autoridades russas passaram a vê-lo com desconfiança e, colocando-o sob vigilância, transformaram-no numa sombra de si próprio. Foi por muito pouco que não o remeteram para o degredo do gulag.
Em 1957, o manuscrito de "Doutor Jivago" sairia às escondidas de território soviético e seria entregue ao italiano Giangiacomo Feltrinelli para que este o publicasse. Proibido na União Soviética, onde autor e livro eram perseguidos, acabou por ser um sucesso fora da esfera de influência comunista. Em 1958, quando surgiu a notícia de que Pasternak fora o escolhido para receber o Prémio Nobel da Literatura, a política russa foi mais forte e, vendo o ato como uma hostilidade contra o país, obrigou-o a recusar o galardão.
Doente, votado ao ostracismo no seu país, apesar de defendido em campanhas internacionais, Boris Pasternak morreria de cancro nos pulmões a 30 de maio de 1960 em Peredelkino.
Coleção Público/Tradução de Augusto Abelaira
Pasternak publicou mais de uma dezena de livros entre poesia e prosa.
Muitos não terão lido o livro, outros tantos nem sequer viram o filme. Porém, é muito difícil desconhecer que "Doutor Jivago", além de ser a obra de maior sucesso do escritor russo Boris Pasternak, acabaria por ser um grande êxito de bilheteira no cinema dos anos 60. Ou que, no elenco do épico realizado por David Lean em 1965, se destacaram nomes como Omar Sharif, Julie Christie, Rod Steiger, Alec Guiness e Geraldine Chaplin. Mais: que a música composta por Maurice Jarre, pai de Jean-Michel Jarre, intitulada "Lara's Theme", é uma das mais famosas da História da 7.ª Arte. Associadas à maravilhosa película que receberia cinco Óscares em 1966, numa cerimónia em que teve "Música no Coração" como grande rival, estão curiosidades menos conhecidas: sem autorização para filmar na União Soviética, Lean deslocou a rodagem para outro país sobre ditadura, a Espanha franquista, e a cena da revolução levou mesmo forças policiais ao local, pois as autoridades temeram que se tratasse de uma revolta verdadeira; Sharif não foi primeira, nem segunda, nem terceira escolha para o principal papel masculino - Peter O'Toole, que já trabalhara com David Lean noutro épico, "Lawrence da Arábia", recusou, tendo ainda sido avaliadas possibilidades como Michael Caine, Burt Lancaster, Dirk Bogarde, Sean Connery ou Max von Sydow; Jane Fonda não aceitou ser Lara porque não quis filmar num país sob ditadura.
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