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Paulo Jorge Pereira

Especial Feira do Livro: "O Processo", de Franz Kafka

No dia em que se assinala o centenário da morte do autor, aqui se recorda uma das obras mais famosas de Franz Kafka, embora tenha sido publicada apenas depois da sua morte. Sufocante, claustrofóbico e sinistro, o livro "O Processo" conta a história de Josef K. e da forma como é detido sem sequer saber qual o crime de que está acusado.



Quando, a 3 de julho de 1883, Kafka nasceu em Praga, capital da futura Checoslováquia e atual República Checa/Chéquia, era ainda do Império Austro-Húngaro que a cidade fazia parte. Os seus pais, Hermann e Julie, eram judeus e Kafka, o mais velho de seis irmãos (Georg e Heinrich morreram quando Franz era ainda menino; Gabriele, Valerie e Ottilie seriam todas assassinadas pelos nazis durante o Holocausto), foi educado a expressar-se preferencialmente em alemão (por vezes também em iídiche). Estudou Química, mas mudou de rumo para Direito e começou a participar em tertúlias literárias, tornando-se grande amigo de Max Brod, a quem iria caber a responsabilidade de editar, de forma póstuma, várias obras de Kafka, entre as quais "O Processo", de que aqui se apresenta um excerto.

Ao mesmo tempo que enriquecia os seus conhecimentos livrescos, Franz progredia em Direito e completou os estudos em 1906. Iria trabalhar durante um ano numa seguradora italiana e, mais tarde, entrou no Instituto de Seguros por Acidentes de Trabalho. Publica os primeiros contos na revista Hyperion em 1908 e irá publicando com regularidade em diferentes periódicos. Apesar de odiar o que fazia no emprego, a sua eficiência garantiu-lhe promoção e permitiu-lhe não só dedicar mais tempo à escrita, mas também à atração pelas mulheres - foi visitante frequente de casas de prostituição, além de ter uma série de relações que chegaram a ter data de casamento sem que isso se concretizasse. Escreve "A Metamorfose" em 1912. Dois anos mais tarde, sob influência de obras de Dostoievski como "Crime e Castigo" ou "Os Irmãos Karamazov", é iniciado "O Processo", que não chegará a concluir, embora o último capítulo fique escrito. Projeta "O Castelo", cuja escrita só irá começar em 1922. Em 1915 é chamado para a I Guerra Mundial, mas as influências movidas pelo Instituto asseguram um adiamento e, a partir de agosto de 1917, a sua mobilização é colocada de parte, uma vez que lhe foi diagnosticada tuberculose. No ano seguinte, o Instituto passou a pagar-lhe uma verba pelo seu trabalho, mas deixou de lhe permitir acesso às instalações, uma vez que sofria de uma doença altamente contagiosa e para a qual não existia cura.

Foi viver para a vila de Zürau, ficando próximo da irmã Ottilie e escrevendo com frequência. Conheceu a jornalista e escritora Milena Jesenská e as suas "Cartas a Milena" serão mais tarde alvo de publicação. A doença não deixa de o apoquentar, sendo forçado a passar temporadas em sanatórios. No verão de 1923, ensaia umas férias que lhe permitam respirar um pouco e ser feliz numa estância do Mar Báltico. É nesta fase que trava conhecimento com Dora Diamant por quem se apaixona e com quem vai viver para Berlim. Dora irá ajudá-lo a queimar grande parte da obra que produzira até então.


Editora Leya/Tradução de João Costa e Delfim de Brito


Será o amigo Max Brod, apesar das instruções em contrário, o responsável por grande parte da publicação da obra de Kafka após a morte deste.

Mas o agravamento do estado de saúde obriga-o a voltar a Praga para junto da irmã Ottilie em março de 1924. Volta aos sanatórios pouco depois, sendo internado em Klosterneuburg, perto de Viena. A doença progride enquanto o escritor trabalha no conto "Um Artista da Fome". Vítima de tuberculose, Franz Kafka morreria a 3 de junho de 1924. Mas a sua obra, que será amplamente divulgada e adaptada a diferentes géneros (teatro, cinema, ópera, entre outros), irá influenciar muitos escritores, de Jorge Luis Borges a García Márquez, passando por Camus, Ionesco, Sartre, Coetzee, Salinger, Saramago, entre outros.

Apesar das indicações deixadas no sentido de que destruísse tudo o que ficara escrito, o amigo Max Brod irá publicar mesmo as obras que deixou inacabadas até 1935 - "O Desaparecido", por exemplo, foi publicado em 1927 com o título "Amerika" e, em 1931, uma coleção de contos surgiu sob a designação "A Grande Muralha da China", título de um dos contos da obra. Quando foge da loucura nazi para a Palestina sob domínio britânico, em 1939, Brod leva consigo numerosos trabalhos de Kafka. Não publica tudo e, ao morrer em 1968, deixa a informação ao cuidado de Esther Hoffe, sua secretária. Esta não chega a divulgar na íntegra o que Brod deixara, mas, em 1988, vende o manuscrito original da obra "O Processo" a um museu germânico por dois milhões de dólares, entregando às filhas Eva e Ruth o restante. Porém, o legado torna-se um peso insuportável para o duo que desencadeia um confronto em tribunal. Uma decisão judicial em 2010 atribui a posse de tudo o que restou do trabalho de Kafka à Biblioteca Nacional de Israel. A família Hoffe reage e nova decisão judicial em 2012 insiste na decisão da primeira instância.

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