Duarte Baião foi jornalista em três jornais diferentes. Habituou-se à pressão da notícia e da atualidade inerente à profissão. Quando mudou de vida, a escrita nunca deixou de ser um amor verdadeiro, permanente e dedicado. Em maio do ano passado, li aqui uma das suas crónicas, ilustrativas do talento que o distingue. Na altura, escrevi que bastaria uma editora "para que muitos mais leitores partilhassem este belo segredo. Nessa altura, deixará de ser segredo. Mas continuará belo". No passado dia 5, deixou de ser segredo, continuou belo e lá estive ao seu lado na apresentação de "Crónicas do Desassossego", livro que é a proposta de hoje com Joana Barros.
Duarte Baião nasceu a 8 de maio de 1974 em Moçambique mas é lisboeta desde os dois meses. Trabalhou como jornalista nos jornais A Bola, 24 Horas e Diário de Notícias. Na primeira etapa, estivemos juntos numa redação hoje irrepetível por circunstâncias variadas, a primeira das quais as terríveis mudanças que a máquina trituradora da comunicação sofreu nos últimos anos. Agora a sua atividade situa-se numa empresa do ramo das tecnologias de informação. Mas o prazer e a necessidade de escrever não se perderam, pelo que foi passando para o papel uma série de impressões quotidianas no estilo que lhe é peculiar: apaixonado e apaixonante, atento, acutilante, com apurado sentido de humor e um olhar diferente sobre grandezas e misérias do ser humano. Não há qualquer desejo de sofisticação ou falsa demonstração de intelectualidade no que escreve - passear pela sua prosa é uma delícia de simplicidade e lucidez, de cheiros e sabores, uma experiência com os cinco sentidos bem despertos em que o leitor caminha guiado pela imaginação do autor, desaguando em finais nem sempre felizes. Porque a vida não se faz só de felicidade, aqui estão também angústias e desilusões várias. E, acima de tudo, textos em que, na voz de um adulto, com a maturidade bem assente, parece que voltamos a ouvir o poema de O'Neill e, "como um adolescente", alguém "tropeça de ternura".
Cordel D' Prata
"Crónicas do Desassossego" está à venda nas livrarias (e não só) desde o passado dia 5.
Duarte Baião começou por ser referido aqui a 18 de maio do ano passado quando li a crónica que abre precisamente o seu livro de estreia e tem por título "Não Sei se Sabes ao que me Sabes". Mais tarde, ele próprio nos mostrou como era excelente "ouver" a sua leitura de um poema inesquecível de Pablo Neruda: o Poema 14, inserido na obra "Vinte Poemas de Amor e uma Canção Desesperada". "Memória de Elefante", de António Lobo Antunes", foi a sua proposta de dia 13.
No passado dia 6 apresentei a leitura de um dos textos que integram o seu livro "Crónicas do Desassossego", ao qual voltamos hoje e voltaremos noutras ocasiões. Aliás, o próprio autor leu uma das crónicas no dia 16, "Não É Um Texto, É Um Textinho". Hoje, a leitura pertence a Joana Barros, depois de Beatriz Baião, irmã gémea do autor, aqui apresentar uma outra crónica, "A Loucura que se me Pega", no dia 24.
Entretanto, a sua coleção de crónicas já resultou num manuscrito com mais de uma centena de páginas e só faltava uma editora para que se transformasse num livro que terá leituras ávidas. Desde dia 5, esse livro está à venda - chama-se "Crónicas do Desassossego", escrever o prefácio foi uma honra, estar ao lado do Duarte Baião na apresentação do seu primeiro livro um privilégio que não esquecerei. Que venham o segundo, o terceiro, o quarto e assim sucessivamente...
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