Duarte Baião foi jornalista em três jornais diferentes. Habituou-se à pressão da notícia e da atualidade inerente à profissão. Quando mudou de vida, a escrita nunca deixou de ser um amor verdadeiro, permanente e dedicado. A crónica que aqui se apresenta é apenas um dos inúmeros exemplos do seu talento. Basta uma editora para que muitos mais leitores partilhem este belo segredo. Nessa altura, deixará de ser segredo. Mas continuará belo.
Duarte Baião tem 46 anos, nasceu em Moçambique mas é lisboeta desde os dois meses de idade. Trabalhou como jornalista nos jornais A Bola, 24 Horas e Diário de Notícias. Na primeira etapa, estivemos juntos numa redação hoje irrepetível por circunstâncias variadas, a primeira das quais as terríveis mudanças que a máquina trituradora da comunicação sofreu nos últimos anos. Agora a sua atividade situa-se numa empresa do ramo das tecnologias de informação. Mas o prazer e a necessidade de escrever não se perderam, pelo que foi passando para o papel uma série de impressões quotidianas no estilo que lhe é peculiar: apaixonado e apaixonante, atento, acutilante, com apurado sentido de humor e um olhar diferente sobre grandezas e misérias do ser humano. Não há qualquer desejo de sofisticação ou falsa demonstração de intelectualidade no que escreve - passear pela sua prosa é uma delícia de simplicidade e lucidez, de cheiros e sabores, uma experiência com os cinco sentidos bem despertos em que o leitor caminha guiado pela imaginação do autor, desaguando em finais nem sempre felizes. Porque a vida não se faz só de felicidade, aqui estão também angústias e desilusões várias. E, acima de tudo, textos em que, na voz de um adulto, com a maturidade bem assente, parece que voltamos a ouvir o poema de O'Neill e, "como um adolescente", alguém "tropeça de ternura".
"Não sei se sabes que a largura do teu sorriso só encontra par no voo elíptico das andorinhas que passavam rasantes e estridentes à janela da minha sala - e nele cheira-me a árvores com frutos e ao empadão que era curto para todos mas que nos fazia felizes", lê-se em "Não Sei se Sabes ao que me Sabes".
A coleção de crónicas resultou num manuscrito com mais de uma centena de páginas e só falta uma editora para que se transforme num livro que terá leituras ávidas. Estou certo de que não falta muito para essa obra se materializar em realidade.
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