Muito antes de ser um épico recordista no Cinema, "O Senhor dos Anéis" foi um épico escrito por John Ronald Reuel Tolkien. Laís Pazzetti Machado propõe aqui "O Retorno do Rei", último de três capítulos da fantástica aventura imaginada pelo escritor. Mas o seu poder criativo não se ficou por aqui...
Não é apenas o épico que o Cinema transformou num fenómeno de massas contado em três filmes, recordista de Óscares e fenómeno à escala planetária que catapultou o realizador Peter Jackson para o estrelato. Filmados de uma só vez na Nova Zelândia, "O Senhor dos Anéis: A Irmandade do Anel", "O Senhor dos Anéis: As Duas Torres" e "O Senhor dos Anéis: O Regresso do Rei" (no Brasil intitulado "O Retorno do Rei", como o livro de que aqui se apresenta um excerto) foram saindo nas épocas natalícias de 2001, 2002 e 2003. Ao todo receberam nomeações para 30 Óscares e conquistaram 17 (o terceiro filme igualou o recorde de "Ben-Hur" e de "Titanic" com 11 estatuetas), além da fabulosa fortuna que significaram quanto a receitas de bilheteira: quase três biliões de dólares. Do elenco constaram nomes como Elijah Wood, Ian McKellen, Liv Tyler, Viggo Mortensen, Sean Astin, Cate Blanchett, John Rhys-Davies, Bernard Hill, Christopher Lee, Billy Boyd, Dominic Monaghan, Orlando Bloom, Hugo Weaving, Miranda Otto, David Wenham, Brad Dourif, Karl Urban, John Noble, Andy Serkis
Ian Holm, entre muitos outros.
A saga "O Senhor dos Anéis" criada por John Ronald Reuel Tolkien, popularizado como J.R.R. Tolkien, é um notável trabalho imaginativo e não só, quer pelo universo fantástico, quer pela invenção de línguas para diferentes povos que pululam ao longo das incríveis aventuras. Agora, milhões de pessoas em todo o mundo atribuem rostos e vozes a heróis e vilões depois de tudo o que se viu no grande ecrã, mas tudo começou na criatividade de um escritor invulgar.
Tolkien nasceu em Bloemfontein, na então designada República do Estado Livre de Orange (depois parte da África do Sul), a 3 de janeiro de 1892. Viria a ser docente universitário e um especialista em Filologia, capacidade que lhe assegurou os conhecimentos para criar línguas presentes nos seus livros de fantásticas aventuras. Viveu pouco tempo no local de origem, pois, sendo filho de ingleses, aos três anos já rumava à Europa com a mãe, Mabel Suffield, e o irmão, Hilary Arthur, fixando-se em Inglaterra - o pai, Arthur Tolkien, morreu em 1896, quando o resto da família ainda estava na Europa. Em solo inglês desenvolveria a sua paixão pela linguística, mas ainda criança perdeu a mãe, vítima de diabetes em 1900. Seria o padre Francis Xavier Morgan a cuidar do futuro escritor e do seu irmão e, apesar da interferência negativa que exerceu no seu namoro com Edith Bratt - ao descobrir o namoro dos jovens em 1908 proibiu John de voltar a ver a namorada até que fizesse 21 anos -, ficaria para sempre grato ao homem da igreja pelos cuidados que lhe dedicara. Nessa fase aprendeu latim, grego e até finlandês, algo que seria fundamental para as suas criações de idiomas nos livros que escreveu.
Com 21 anos, Tolkien pediu a Edith que se casassem, algo que concretizaram em 1916, um ano depois de ele se licenciar em Literatura de Língua Inglesa, e teriam quatro filhos: John Francis (nascido em 1917 e falecido em 2003), Michael Hilary (1920/84), Christopher John (1924/2020) e Priscilla Anne (nascida em 1929 e ainda viva). Esse foi também o ano em que o jovem teve de ir combater na I Guerra Mundial, experiência traumática que o marcaria para sempre. Depois de sobreviver ao verdadeiro massacre em que se transformou a batalha de Somme (mais de meio milhão de mortos), Tolkien acabaria por contrair tifo, voltando a Inglaterra para convalescer em 1918. Nessa fase começou a escrever aquilo a que chamou "O Livro dos Contos Perdidos" e, um ano mais tarde, recebeu a designação "O Silmarillion".
Com o fim do conflito mundial, J.R.R. Tolkien pôde, enfim, dedicar-se ao trabalho académico como docente e a estreia literária, então em colaboração com E.V. Gordon, concretizou-se em 1925 através da escrita de "Sir Gawain & the Green Knight". Três anos mais tarde, deu início ao seu primeiro sucesso, no qual já se definiam os traços do mundo maravilhoso de Bilbo: chamava-se "O Hobbit" e foi publicado em 1937. Foi o êxito desse livro e o convite para que desenvolvesse mais ideias do género que fizeram com que o escritor empenhasse uma dúzia de anos do seu génio criativo a criar uma série de histórias que partem do roubo do anel de Gollum por parte de Bilbo. O processo até à publicação, contudo, sofreu uma série de avanços e recuos, pelo que os dois primeiros livros apenas saíram em 1954. No ano seguinte seria publicado "O Regresso do Rei". Nessa altura já fizera parte da equipa responsável pelo New English Dictionary, além de ensinar nas universidades de Leeds, Oxford e Merton.
Aos poucos, com especial relevo a partir dos anos 60 porque a obra chegou aos Estados Unidos e ganhou a admiração da Academia, fascinada com aquela criação tão rica e prodigiosa do ponto de vista da imaginação, o mundo passou a conhecer hobbits, anões, elfos, orcs, trolls, feiticeiros como Gandalf e Saruman, princesas, reis, rainhas, épicas batalhas, episódios sombrios e de luz intensa. Tornou-se alvo da atenção de gente ligada ao cinema e à televisão, recebendo diferentes propostas para que o seu trabalho tivesse adaptações audiovisuais, mas sempre rejeitando até que, em 1969, cedeu os direitos à United Artists. Para trás estavam a escrita e publicação de outros livros como "Mestre Gil de Ham" (1949), "As Aventuras de Tom Bombadil" (1963), "Sobre Histórias de Fadas" (1965) e "Smith of Wootton Major" (1967). Estavam também a chegar os tempos mais difíceis da existência do escritor: em 1971, a adorada Edith, com quem esteve casado ao longo de 55 anos, morreu. O desgosto afasta-o da casa que partilharam durante décadas em Bournemouth e Tolkien passa a viver isolado em Oxford, perto da universidade onde ensinara. Os filhos procuraram compensar a dor imensa da perda da mulher, mas o escritor nunca mais voltou a ser o mesmo. A 28 de agosto de 1973, uma indisposição assaltou-o, forçando-o a ser internado por causa de uma úlcera com hemorragia. No hospital descobriram-se outras complicações e, aos 81 anos, a 2 de setembro, J.R.R. Tolkien deixou de pertencer ao mundo dos vivos. Mas a sua influência a gerações de apaixonados por literatura fantástica não mais irá desaparecer.
Após a sua morte, o filho Christopher encarregou-se de publicar mais de uma dezena de obras sobre o trabalho do pai, também alvo de diferentes documentários e adaptações nos mais variados formatos. E Peter Jackson regressou às mitologias de Tolkien com outros três filmes: "O Hobbit: Uma Jornada Inesperada" (2012), "O Hobbit: A Desolação de Smaug" (2013) e "O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos" (2014).
Harper Collins Brasil
Os livros de Tolkien estão traduzidos em mais de meia centena de idiomas e foram vendidas acima de 200 milhões de cópias do seu trabalho.
Nascida em Goiás, Laís Pazzetti Machado é graduada em Filosofia pela Universidade Federal de São Carlos, e mestranda em História pela Universidade Federal de Minas Gerais. Sua principal área de interesse é a antiguidade grega, o que a levou a escrever "Sonhos Helenos, Contos Gregos", seu primeiro livro de contos e poemas pela editora Multifoco, que tem como protagonistas os personagens da guerra de Tróia, além de personagens históricos e originais em pequenos momentos, em suas inquietações, dúvidas e sonhos, que dizem tanto sobre eles quanto os seus momentos de glória. A sua primeira participação aqui no blog foi precisamente a ler um trecho desse livro de estreia, a 20 de outubro do ano passado.
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