Vencedora do Booker Prize em 1987 e de vários outros galardões, Penelope Lively e o seu "Destinos Paralelos" é a escolha para hoje de Maria João Martins. A escritora, de 87 anos, vive em Londres, tendo uma vasta obra para adultos e também para crianças.
Literatura para crianças, ficção, contos, não-ficção: Penelope Lively tem tocado todos estes instrumentos literários ao longo de uma longa e multipremiada carreira. Em 2016, numa entrevista a Susanna Rustin para o diário The Guardian, confessou que já não esperava escrever mais livros, mas, de repente, a visita a uma exposição sobre Pompeia com o genro desencadeou um manancial de pequenas histórias que ganharam a forma de um novo livro de contos, "The Purple Swamp Hen and Other Stories". Segundo a escritora, "estava sem escrever algo do género nos últimos 20 anos", mas não se sentia pronta para uma obra de maior fôlego e acabara de publicar "Ammonites and Leaping Fish", pelo que o regresso aos contos acabou por ser uma solução interessante.
Lively começara por ter sucesso com a escrita para os mais pequenos, no princípio da década de 70, destacando-se com "The Ghost of Thomas Kempe" (ganhou com ele a Carnegie Medal em 1973) e "A Stitch in Time". Nascida a 17 de março de 1933 como Penelope Margaret Low no Egipto, de onde só saiu rumo a Inglaterra com o divórcio dos pais após a II Guerra Mundial para viver com avós e ser criada por uma ama/governanta. Lively iria licenciar-se em História no St. Anne's College na Universidade de Oxford. Tinha paixão por livros desde que aprendera a ler com somente quatro anos e daria por si a ler ao longo da vida nas mais diferentes situações, conforme contou na conversa com a jornalista Susanna Ruskin: "a dar de comer aos filhos, enquanto preparava almoços e jantares e, como isto não chegava, ainda visitava a biblioteca local acompanhada pelos filhos pelo menos uma vez por semana". Aos 24 anos casara-se com o professor Jack Lively - ele morreria com 69 anos em 1998, após 41 anos de vida conjugal - e tiveram uma filha e um filho. Enquanto o marido fazia o seu percurso profissional no mundo académico, Penelope iria escrever nos tempos livres entre a saída dos filhos para a escola e o seu regresso a casa. O seu primeiro livro para adultos chegaria apenas em 1977 com o título "The Road to Lichfield", logo finalista do Booker Prize. Continuou a escrever para mais jovens e mais crescidos e o seu prestígio literário foi recebendo reconhecimento. Em 1984 voltou a ser finalista do Booker Prize, então com "According to Mark", mas só três anos mais tarde, graças a "Anel de Areia" ("Moon Tiger" no original), conseguiria a distinção. Na entrevista de 2016 a Susanna Rustin, a escritora confessou que "The Ghost of Thomas Kempe" era o seu livro favorito e que o premiado "Moon Tiger" fora, durante muito tempo, aquele de que menos gostava devido ao desgaste que teve de suportar em inúmeras palestras e conferências para falar sobre ele. Além de continuar a escrita nos mais variados géneros, Penelope Lively apresentou na BBC Radio 4 um programa sobre literatura infantil, escrevendo também para rádio e televisão, além de publicar artigos em vários jornais e revistas. Atenta à atualidade, confessou preocupação à jornalista do Guardian, sentindo-se chocada com a forma como o Reino Unido se lançava para o abismo do Brexit. E disse-o em 2016, numa altura em que o processo estava apenas no começo...
Em Portugal, além de "Anel de Areia", estão publicados livros como "Destinos Paralelos", "Como Tudo Começou", "A Fotografia", "Álbum de Família" ou "Consequências".
Tradução de Marlene Campos (Livraria Civilização Editora)
Penelope Lively foi casada com o professor Jack Lively, que morreu em 1998, tem um filho e uma filha, além de quatro netos. Aos 87 anos, vive em Londres e sentiu-se chocada com a forma como o Reino Unido se lançou para o abismo do Brexit.
Jornalista, escritora e professora convidada da Universidade Carlos III de Madrid, onde leciona a disciplina de História Social da Moda, Maria João Martins participa pela segunda vez aqui no blog, depois da estreia a 16 de maio com a leitura da obra "O Delfim", escrita por José Cardoso Pires.
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