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  • Paulo Jorge Pereira

Ana Rocha de Sousa lê "Murro no Estômago", de Paulo Jorge Pereira


Hoje assinalam-se dois anos sobre a publicação do segundo livro que publiquei, intitulado "Murro no Estômago". A atriz e realizadora Ana Rocha de Sousa, premiada no Festival de Cinema de Veneza, lê um excerto desse meu segundo livro, onde estão histórias de vítimas/sobreviventes de violência doméstica e experiências de quem combate o flagelo.



Os números da violência doméstica têm rostos. E vozes. Quando me dirigi à Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), no verão de 2019, fi-lo para que essas vozes pudessem ser ouvidas. Para que as histórias fossem contadas tal qual aconteceram. Porque, por muito que seja escrito e contado sobre violência doméstica, ainda há muita gente convencida de que só acontece aos outros ou que não nos diz respeito. Na APAV encontrei não só compreensão pelo trabalho do cidadão e jornalista que se lhe dirigia, mas também o entendimento de que é preciso contar, informar, esclarecer - quanto mais se falar do assunto, mais perto estaremos de acabar com os casos de violência doméstica.

As vítimas/sobreviventes - ou, como diz o Daniel Cotrim, as "verdadeiras especialistas em violência doméstica" - são as protagonistas de todo este caminho. Disse-lhes, desde o início do processo, que este livro é, acima de tudo, delas: da sua coragem, da sua resistência, da sua insuperável capacidade para ultrapassar todo o mal que sobre elas se abateu e voltar a viver. A forma comovente como me acolheram e me fizeram sentir que estava em família é algo que nunca vou esquecer. Assim como as lágrimas e o sofrimento espelhado pelos seus olhos à medida que recordavam, uma vez mais, tudo o que passaram. O livro é uma homenagem a todas as que aceitaram contar os seus casos e a tantas outras que, todos os dias, sofrem em silêncio, esperando que possa contribuir para se libertarem e denunciarem o que se passa.

Mas "Murro no Estômago" não ignora todo o trabalho feito em redor de quem é atingido pela violência doméstica, seja ela sob a forma física e/ou psicológica. E por isso estão lá as experiências de que quem combate o flagelo sem dar tréguas nas mais variadas áreas. Com erros e imperfeições, com memórias terríveis e por vezes trágicas, mas também com a noção de que estão a agir para salvar vidas. E que, muitas vezes, conseguem salvá-las.

No final do livro estão informações e contactos que podem estabelecer a diferença. Foi também para isso que o escrevi: quis que fosse uma forma de fazer a diferença. Porque nenhuma forma de violência ou de discriminação é aceitável e temos de ser bem firmes nessa afirmação. Todos os dias. Em todas as áreas da sociedade. Em Portugal e no mundo.


Editora 20|20/Influência


Com o filme "Listen", Ana Rocha de Sousa recebeu o Leão do Futuro, o Prémio Especial do Júri na secção Horizontes e, paralelos ao Festival de Veneza, acumulou Bisato d'Oro, Sorriso Diverso Veneza, Casa Wabi e HFPA.

Nascida em Lisboa a 28 de outubro de 1978, Ana Rita Rocha de Sousa iria dedicar-se a uma carreira artística não apenas no audiovisual, mas também nas artes plásticas. Estreou-se em cinema pela mão de João Botelho com a participação no filme "No Dia dos Meus Anos" (1991) e, no teatro, fez parte do grupo que integrava, entre outros, Nuno Lopes e Carla Chambel na aprendizagem com António Feio. Entrou em diversas peças e licenciou-se em Pintura na Faculdade de Belas-Artes de Lisboa. Para a televisão fez inúmeros trabalhos e participou em séries e telenovelas como "Riscos", "Morangos com Açúcar", "Inspetor Max", "Jornalistas", "Médico de Família", "Alves dos Reis", "A Raia dos Medos", "A Senhora das Águas", "Um Estranho em Casa", "Sonhos Traídos", "Mistura Fina" ou "Jura".

Entretanto, tomou a decisão de ir estudar para Londres e fazer um mestrado em cinema na London Film School, dirigida pelo realizador Mike Leigh. Nesse contexto realizou diversas curtas-metragens como "No Mar", "Laundriness" ou "Minha Alma and You". Muito interessada em temas de cariz social, pouco depois de ter sido mãe, em 2014, Ana Rocha de Sousa investigou o processo de retirada de crianças a famílias portuguesas por parte dos serviços sociais do Reino Unido por aquilo que consideram "riscos futuros" e realizou a sua primeira longa metragem: "Listen" esteve no centro das atenções na edição de 2020 do Festival de Veneza, no qual a realizadora viu o seu trabalho elogiado e distinguido com uma multiplicidade de prémios, entre os quais o Leão do Futuro.

As leituras em voz alta de excertos do livro "Murro no Estômago" por parte de diversas personalidades públicas foram pensadas como forma de despertar consciências para a necessidade de acabar com a violência doméstica. Aqui fica, de novo, o meu agradecimento do fundo do coração a Ana Rocha de Sousa pela generosidade e prontidão com que respondeu ao convite.

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