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  • Paulo Jorge Pereira

José Manuel Teixeira da Silva lê "As Fábulas", de Fiama Hasse Pais Brandão

Aqui se recupera o momento em que o professor, escritor e fotógrafo, José Manuel Teixeira da Silva, selecionou "As Fábulas", de Fiama Hasse Pais Brandão, multipremiada escritora a quem a Censura visou diversas obras antes do 25 de Abril.



Como escritora, Fiama Hasse Pais Brandão tocou múltiplos instrumentos - da poesia ao teatro, passando por ensaio, tradução e ficção. Fiama nasceu a 15 de agosto de 1938 em Lisboa, vivendo numa quinta em Carcavelos enquanto estudava ali bem próximo na Saint Julian's School. Seria aluna de Filologia Germânica na Faculdade de Letras de Lisboa, ajudando a criar o Grupo de Teatro de Letras em 1965 ao lado do futuro marido, o poeta Gastão Cruz. Nessa altura já escrevia crítica teatral e estagiara no Teatro Experimental do Porto. Mas também já se estreara, no final dos anos 50, na cena literária com a publicação de "Em Cada Pedra um Voo Imóvel", que receberia o Prémio Adolfo Casais Monteiro, destacando-se ao participar na revista/movimento Poesia 61 com "Morfismos". A sua curiosidade levou-a a desenvolver investigação e pesquisa em áreas como a Linguística ou o século XVI português. Ao mesmo tempo que escrevia em diferentes géneros, Fiama empenhava-se nas traduções das obras de autores como Brecht, Tchekhov, Updike, Artaud ou Novalis. Progressista e apoiante dos movimentos pela democracia e contra a existência de presos políticos, colaborou em revistas como Seara Nova, Cadernos do Meio-Dia, Vértice, Hífen, Colóquio-Letras, entre outras. Sob vigilância da PIDE, por quem foi presa durante algumas horas quando fazia greve de fome em plenas lutas estudantis, diversas obras suas acabaram por ser atingidas pela ação da Censura que proibiu livros como "O Testamento", "O Museu", "A Campanha", "Quem Move as Árvores", "O Golpe de Estado" ou "Auto da Família".

Em 1970 integra, na Fundação Calouste Gulbenkian, o seminário teatral de Adolfo Gutkin e quatro anos mais tarde, outra vez ao lado do marido, Gastão Cruz, contribui para a criação do Grupo Teatro Hoje, encenando mesmo a peça "Mariana Pineda" (Federico García Lorca). Ao longo das décadas seguintes continuaria a escrever e a publicar, afirmando-se como um dos mais importantes vultos da poesia desde Fernando Pessoa.

No domínio da obra poética publicou, entre outros, "Morfismos" (1961), "Barcas Novas" (1967), "O Texto de João Zorro" (1974), "Novas Visões do Passado" (1975), "Homenagemàliteratura" (1976), "Área Branca" (1979), "F de Fiama" (1986), "Três Rostos" (1989), "Epístolas e Memorandos" (1996), "Cenas Vivas" (2000) e "As Fábulas" (2002), este último aqui apresentado. Para teatro escreveu "Os Chapéus de Chuva" (1960), "A Campanha" (1965), "Quem Move as Árvores" (1979), "Poe ou o Corvo" (1979), "Teatro-Teatro" (1990) e "Noites de Inês-Constança" (2005). Do domínio da prosa são "Em Cada Pedra um Voo Imóvel" (1957), "O Retratado" (1976), "Falar Sobre o Falado" (1989), "Movimento Perpétuo" (1990) e "Sob o Olhar de Medeia" (1998). No ensaio está publicado "O Labirinto Camoniano e Outros Labirintos" (1985).

Entre os galardões com que foi agraciada destacam-se o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores (1996 e 2000), o Prémio PEN Clube Português de Poesia (1986 e 2001) e de Novelística (2006), mas também o Prémio da Crítica da Associação Portuguesa de Críticos Literários (2005).

Vítima de cancro, morreria a 19 de janeiro de 2007.


Assírio & Alvim


"Ao longo de 30 anos, a poesia de Fiama Hasse Pais Brandão mais não fez do que aprofundar as relações entre a linguagem e o mundo, entre as palavras e a vida, entre as imagens linguísticas e as imagens reais", defendeu o marido e também poeta, Gastão Cruz, citado pela agência Lusa quando Fiama faleceu.

Nascido no Porto, em dezembro de 1959, José Manuel Teixeira da Silva vive em Vila Nova de Gaia, onde é professor. Tem dois filhos, escreve poesia, alguma prosa, faz fotografia. É autor de um blog e tem também um site onde pode saber-se mais sobre as suas atividades.

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