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Paulo Jorge Pereira

Margarida Azevedo lê "Se Numa Noite de Inverno um Viajante", de Italo Calvino

É com Italo Calvino, um dos mais importantes autores italianos do século passado, que Margarida Azevedo apresenta nova leitura aqui no blog: desta vez, um excerto do famoso "Se Numa Noite de Inverno um Viajante".



É de ficção, contos e ensaio que se faz a obra de Italo Calvino, escritor que marcou o século XX italiano de modo inesquecível com o seu trabalho. No livro "Se Numa Noite de Inverno um Viajante" (1979), há um Leitor e dez começos de romances que não chegam a concluir-se. Filho de cientistas italianos que estavam de passagem por Cuba, Calvino nasceu na ilha, em Santiago de las Vegas, a 15 de outubro de 1923. De regresso a Itália, a família fixou-se em San Remo, mais tarde em Turim, e Italo Calvino até começou o curso de Agronomia, mas acabaria licenciado em Letras. Porém, a chegada da II Guerra Mundial alterou-lhe os planos de forma drástica - recrutado pela Mocidade Fascista de Benito Mussolini em 1940, foi capaz de escapar às garras de tão sinistra entidade e decidiu juntar-se à Resistência Comunista, escondendo-se nas montanhas da Ligúria. Só retomou e concluiu a licenciatura em 1947, ano da publicação do seu primeiro livro: "Il Sentiero dei Nidi del Ragno" (O Atalho dos Ninhos de Aranha). Entretanto, trava conhecimento com os escritores Cesare Pavese e Elio Vittorini. A filiação ao Partido Comunista permitiram-lhe trabalhar no jornal L'Unità desde 1945 e na editora Einaudie (passou ainda por publicações como Il Garibaldino ou La Repubblica), mas a invasão de Budapeste por tropas soviéticas em 1956 e os crimes de Estaline levaram-no, no ano seguinte, a afastar-se do partido. Fê-lo por meio de uma missiva que ganhou fama, na qual se demarcava do comunismo da então URSS e reclamava que ganhasse um sentido democrático. Estivera na União Soviética em 1952 e, sete anos depois, também visitou os Estados Unidos. Em colaboração com Elio Vittorini, editou a revista Il Menabó di Letteratura. Entre 1952 e 1959 escreve a trilogia formada pelos livros "O Visconde Cortado ao Meio", "O Barão Trepador" e "O Cavaleiro Inexistente".

Numa viagem a Cuba conhece Che Guevara e iria casar-se com a tradutora argentina Esther Judith Singer, a quem conhecera na cidade de Paris em 1962, precisamente na capital cubana, dois anos mais tarde. Mais conhecida como Chichita Calvino, viria a traduzir grande parte da obra do marido, ajudando-o a ampliar o universo de leitores.

De 1963 é "Marcovalco", seguindo-se "As Cosmicómicas" (1965), "O Castelo dos Destinos Cruzados" (1969) e "Os Amores Difíceis" (1970). Pelo meio, em 1965, quando já tinham residência fixa em Paris, Esther e Italo foram pais de Giovanna, a filha que vive hoje em Nova Iorque. Na capital francesa - da qual Calvino dizia ser o local onde tinha uma espécie de "casa de campo" (expressão usada no documentário "Italo Calvino: Un Uomo Invisibile"), uma vez que, embora ali escrevesse diversos livros, todas as suas relações de trabalho estavam em Itália - tem uma empregada doméstica portuguesa e conhece uma série de personalidades do mundo literário, tornando-se mesmo amigo de escritores como Julio Cortázar. Continua a escrita e publica "As Cidades Invisíveis" (1972), recebendo por ele o Prémio Antonio Ferlinelli. Decorrem sete anos até ser publicado "Se Numa Noite de Inverno um Viajante" e "Palomar" (1983) é a sua última obra publicada ainda em vida.

A 19 de setembro de 1985, aos 61 anos, vítima de hemorragia cerebral, Calvino morreu em Siena. Chichita passou a viver em Roma, onde morreu em 2018, com 93 anos. "Sob o Sol-jaguar" (1988), "O Caminho de San Giovanni" (1990) e o livro de literatura infantil "Perde Quem Fica Zangado Primeiro" (1998) são já póstumos.

Editora D. Quixote/Tradução de José Colaço Barreiros


"Quando posso estar num lugar como um homem invisível sinto-me muito bem", afirmou no documentário "Italo Calvino: Un Uomo Invisibile".

Margarida Azevedo nasceu a 5 de dezembro de 1984 e é licenciada em Ciências da Comunicação. A terminar o mestrado em Edição de Texto é fascinada pelas artes e o cruzamento interdisciplinar. Fundadora do (Diz)Sonâncias e cofundadora do Covidarte está desde cedo profissionalmente ligada à música, à escrita, à comunicação e à produção de eventos. Editou o livro Orfeu e os seus avôs em busca do Tósão (2019) e o zine Mecónio pela Dark Owl e tem contos publicados.

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