Apesar de ter sido concluído em 1940, último ano de vida do autor, "Margarita e o Mestre", de Mikhail Bulgakov, só seria conhecido em 1966, depois de censura e perseguições do poder do Kremlin ao escritor.
Embora tenha sido terminado em 1940, poucos dias antes da morte de Mikhail Afanasevitch Bulgakov, o seu autor, "Margarita e o Mestre" só viria a ser do domínio público em 1966, numa fase em que a antiga União Soviética procedia a uma espécie de degelo dos milhões de crimes do estalinismo. Nascido em Kiev, a 15 de maio de 1891, Bulgakov começou por licenciar-se em Medicina e aplicar-se na profissão, sendo mesmo voluntário pela Cruz Vermelha na I Guerra Mundial. Tal como o irmão, Mikhail serviu no Exército Branco, foi médico de campanha e jornalista. A sua vida mudaria a partir de 1913, após o casamento com Tatiana Lappa, optando Bulgakov por se concentrar na escrita em exclusivo em 1919, mesmo que a censura exercesse um efeito pernicioso sobre as suas obras.
O casal passa a viver em Moscovo a partir de 1921 e o autor começa a trabalhar com diversas publicações, além de surgirem os seus primeiros livros. Separa-se de Tatiana e casa-se uma segunda vez, agora com Lhubov Beloziórskaia. O primeiro sucesso vem do teatro com a peça "Os Dias dos Turbins" (1926), mas, entre 1922 e 1927, o escritor não parara, dedicando-se sobretudo aos contos contidos em "Memórias de um Jovem Médico", mas também a "O n.º 13", "Uma História Chinesa" e "As Aventuras de Tchichikov". "A Guarda Branca", "Obra do Diabo", Os Ovos Fatídicos", "Coração de Cão" e "O Apartamento de Zoika" são outros livros que aprimorou nesta fase.
Estaline admite mesmo o seu acesso ao Teatro de Arte de Moscovo no papel de encenador assistente: vive-se o ano de 1930 e Bulgakov fora, até então, perseguido pelas autoridades e alvo de apreensão de diversas obras, sempre sob a acusação de comportamentos anti-soviéticos. De 1932 é o seu terceiro casamento e a noiva é Yelena Chilóvskaia, servindo de modelo para a personagem de Margarita na obra de que hoje aqui se apresenta um trecho.
Indomável e ousado, nunca deixa de ridicularizar o regime de Estaline que proíbe a sua saída da União Soviética a meio dos anos 30, pouco depois de concluir "Romance Teatral". Não se deixa abater e prossegue o que vinha escrevendo desde 1928 com "A Ilha Púrpura", apostando no teatro. "A Fuga", "A Cabala dos Devotos" (cujo nome seria, mais tarde, "Molière"), "Adão e Eva", "Beatitude", "Aleksandr Pushkin" e "Ivan Vasilievitch" são outros trabalhos dedicados aos palcos.
A doença afeta-o de forma devastadora e, já cego, dita à mulher alguns dos capítulos de "Margarita e o Mestre".
Coleção Público Mil Folhas
Cego na parte final da sua vida, Bulgakov teve de ditar vários capítulos da sua obra principal à mulher no apartamento em Moscovo.
Sem conseguir recuperar do hereditário problema nos rins, Mikhail Bulgakov morre a 10 de março de 1940. O apartamento em Moscovo em que foi concluído o livro que hoje aqui se apresenta tornou-se o Museu Bulgakov em 2000.
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