O criador da editora Companhia das Letras, Luiz Schwarcz, volta a ser o protagonista de hoje, remetendo para a sua própria vida com "O Ar que me Falta", apresentado em Lisboa, na Fundação José Saramago, a 18 de outubro de 2021.
Nascido em 1956 na cidade de São Paulo, Luiz Schwarcz iria dedicar a vida aos livros, especializando-se no papel de editor, desempenho que começou na Brasiliense. Formado em Administração de Empresas na Fundação Getúlio Vargas, estava a entrar na casa dos 30 anos quando fundou, ao lado da mulher, a historiadora e antropóloga Lilia Moritz Schwarcz, a Companhia das Letras. A editora iria tornar-se um negócio de enorme sucesso não apenas no Brasil, mas em termos universais, e o próprio Luiz Schwarcz acabaria por dedicar-se também à escrita - livros para os mais novos como "Minha Vida de Goleiro" (1999) e "Em Busca do Thesouro da Juventude" (2003), mas também dedicados aos adultos como "Discurso sobre o Capim" (2005), "Linguagem de Sinais" (2005) e este "O Ar que me Falta" (2021).
Explica o autor, num vídeo gravado para a editora Companhia das Letras como promoção da obra, que "O Ar que me Falta" é "a história de três silêncios: o silêncio do meu avô, que viveu e morreu no campo de Bergen-Belsen, durante o Holocausto; o silêncio proveniente da culpa do meu pai de ter escapado do trem que os levava para esse campo de concentração e o silêncio da depressão que eu herdei não se sabe como". São, no fundo, conforme admite o próprio escritor, "três gerações que carregaram um peso muito especial, mas, basicamente, é a narrativa que mostra como se forma uma vida como a minha".
No livro, Luiz Shwarcz escreve: "Antes mesmo da imagem da íris verde do meu pai, minha depressão apareceu como um som. O som das pernas dele, batendo na cama sem parar, no quarto ao lado, onde meu pai penava para dormir. A íris verde, em contraste com a esclera sempre humedecida e avermelhada - que enchia de água a bolsa inferior dos olhos, onde as lágrimas ficavam represadas -, passou a ser a sua principal imagem, alguns anos depois do som grave que vazava das paredes, pá, pá, pá, pá, pá... Aquele barulho seco, quase o oposto complementar dos olhos molhados, ele não conseguia esconder ou controlar."
Companhia das Letras
Sobre "O Ar que me Falta" escreve Mia Couto na contracapa: "Talvez Luiz Schwarcz não tivesse cumprido a promessa de devolver ao pai a vida que lhe faltava. Mas ele oferece-nos neste livro a coragem, a verdade e a beleza de que tanto necessitamos."
O livro de Luiz Schwarcz foi apresentado em Lisboa, na Fundação José Saramago, a 18 de outubro de 2021, numa conversa com o autor que foi conduzida por Isabel Lucas. Entre o público no auditório estavam escritores como Gonçalo M. Tavares e Juan Gabriel Vásquez. Propus aqui uma primeira leitura da obra a 9 de novembro de 2021. E aqui uma segunda, a 1 de junho de 2023.
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