Prémio Nobel da Literatura em 1983, William Golding realizou um longo e diferenciado percurso até que o galardão lhe chegasse às mãos. Hoje, a proposta de leitura passa por um trecho do seu primeiro romance, "O Deus das Moscas".
Nascido na Cornualha a 19 de setembro de 1911, na aldeia de Saint Columb Minor, William Gerald Golding era filho de uma lutadora pelos direitos das mulheres e de um professor primário, tendo começado a ler com apenas sete anos. Estudante da Marlborough School e do Brasenose College, em Oxford - o pai queria vê-lo formado em Ciências Naturais e, durante dois anos, esse pareceu ser o seu futuro. Porém, ao fim desse tempo, o jovem William decidiu que era na Literatura que se encontrava a sua vocação e trocou de curso. Ainda estudava Literatura Inglesa quando se estreou a publicar, então com um livro de poesia intitulado "Poems" (1934). Foi ator, conferencista, marinheiro em pequenas embarcações, músico e docente, neste caso ensinando na Bishop Wordsworth's School, em Salisbury, a partir de 1939. Porém, a eclosão da II Guerra Mundial alterou-lhe os planos e Golding decidiu mesmo combater o mal nazi, tornando-se membro da Royal Navy em 1942. Nesse papel estaria presente em momentos marcantes como o afundamento do couraçado alemão Bismarck, a 27 de maio de 1941, e ao desembarque na Normandia, a 6 de junho de 1944. Desmobilizado após o conflito, William Golding voltou ao ensino e pôde, enfim, dedicar-se à escrita, publicando em 1954 o seu primeiro romance: "O Deus das Moscas", de que aqui se apresenta a leitura de um trecho. História passada num imaginário futuro, relata os acontecimentos e a criação de uma sociedade que vai da justiça à anarquia por parte de crianças sobreviventes à queda de um avião que as levara de Inglaterra, em conjunto com adultos, em fuga de uma guerra nuclear.
O livro, depois de recusado por diversos editores, seria um sucesso e iria trazer-lhe grande notoriedade. De tal forma que Golding abandonou o ensino em 1961, passando a dedicar-se apenas à escrita e escrevendo mais uma dúzia de romances como "Os Herdeiros" (1955), "Pincher Martin" (1956), "The Brass Butterfly" (1957), "Em Queda Livre" (1959), "A Pirâmide" (1967), "O Deus Escorpião" (1971), "Darkness Visible" (1979) e "Ritos de Passagem" (1980), conquistando com esta obra o Booker Prize. Mas a consagração maior haveria de chegar em 1983 com a atribuição do Prémio Nobel da Literatura.
Texto Editores/Tradução de Manuel Marques
"O Deus das Moscas" foi passado ao grande ecrã em duas versões diferentes: uma, de 1963, realizada por Peter Brook; outra, com realização de Harry Hook, é de 1990.
Armado cavaleiro pela rainha Isabel II em 1988, continuou a escrever e a publicar obras como "Fogo no Porão" (1989). A sua morte registou-se em Perranarworthal, a 19 de junho de 1993, numa fase em que trabalhava no romance "A Duas Vozes", publicado de forma póstuma. Mais tarde, em 2009, o professor universitário John Carey publicou uma biografia do autor, "The Man Who Wrote Lord of The Flies", depois de ter acesso a outro material escrito por Golding, incluindo notas autobiográficas deixadas à sua mulher, Ann. Nesses textos, Golding confessava como, aos 18 anos, tentara violar uma adolescente três anos mais nova. A história foi publicada pelo jornal Sunday Times, acrescentando-se que a rapariga, de nome Dora, lutara e fugira durante um passeio dos dois, mas, dois anos mais tarde, a relação acabou por consumar-se. A informação consultada por Carey continha ainda a indicação deixada por Golding no sentido de que teria passado por fases de abuso do álcool.
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