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  • Paulo Jorge Pereira

"O Pequeno Livro dos Medos", de Sérgio Godinho

Publicado em estreia no ano de 1991, "O Pequeno Livro dos Medos" mostra-nos como um genial cantor e escritor de canções pode também dirigir-se a um público infantojuvenil através da escrita e dos desenhos.



E se um genial cantautor escrevesse e ilustrasse também livros para crianças? Ou romances? Pois bem, Sérgio Godinho também integra essa lista e o exemplo que hoje aqui se apresenta vem da obra infantil "O Pequeno Livro dos Medos", estreada no começo dos anos 90 e reeditada em 2007. Voltou a este tipo de escrita com "O Primeiro Gomo da Tangerina" antes de publicar contos ("Vidadupla", em 2014) e dois romances: "Coração Mais Que Perfeito" (2017) e "Estocolmo" (2019).

Mas foram a música e a poesia que tornaram mais conhecido o artista Sérgio de Barros Godinho, nascido no Porto a 31 de agosto de 1945. A música já estava na sua família em função dos conhecimentos que pais e tio sempre revelaram. Mas a família também lhe proporcionou, por exemplo, a ligação ao teatro ou a atração pelos livros, estimulada por uma avó alfarrabista. Irrequieto e inconformado, a viver no claustrofóbico ambiente da ditadura e com a sombra sinistra da guerra colonial a pesar-lhe sobre os ombros, Godinho aproveitou para sair do país com apenas 20 anos, sem sequer acabar Economia. Andaria à boleia pela Europa, como contou em entrevista a Anabela Mota Ribeiro. Em solo suíço iria estudar Psicologia, mas essa fase durou apenas dois anos, porque o seu irrequietismo levou-o a mudar novamente, então em direção a solo holandês. Na entrevista já citada, lembrou os tempos em que trabalhou como estivador no porto de Amesterdão ou quando, de barco, atravessou o oceano e foi até à Jamaica.

Próxima paragem: Paris. Aqui esteve bem no epicentro do Maio de 68, cantou nas fábricas ocupadas, apanhou com gás lacrimogéneo nos olhos. A falta de dinheiro levou-o para vários papéis como, por exemplo, o de rececionista em hotéis de prostituição, como relata na referida entrevista. Entraria no universo teatral e participaria em "Hair". Foi também na capital francesa que descobriu outros cantores portugueses exilados como José Mário Branco ou Luís Cília com quem iria colaborar, tal como sucedeu com Fausto.

De 1971 são os seus primeiros trabalhos discográficos, mas também uma viagem ao Brasil em que foi preso e torturado em plena ditadura militar (nos anos 80 voltaria a ser preso, então sob a acusação de posse de droga). Estava integrado na companhia teatral Living Theatre, tendo todos sido presos, e só as pressões internacionais asseguraram a libertação de quem compunha o grupo.

No ano seguinte voltaria a mudar, rumando a Vancouver, no Canadá, então se casando com Sheila Charlesworth. Quando tomou conhecimento da Revolução em Portugal decidiu regressar ao país e desempenhar papel fundamental como cantor de intervenção política e compositor de sucesso com um jeito inimitável de jogar e brincar com as palavras como se fosse simples.

Além da participação em bandas sonoras de diferentes filmes ou até a criar alguns para a RTP, Godinho escreveu canções que se tornaram emblemáticas e que integram o património coletivo dos portugueses. E não faltam parcerias com outros génios musicais como Chico Buarque, Milton Nascimento ou Ivan Lins.

Dom Quixote


No passado dia 25 de Abril, Sérgio Godinho foi condecorado pelo Governo com a Medalha de Mérito Cultural.

Nos últimos anos, dedicou-se a numerosos espectáculos, variadas colaborações e a dar novas cores a reportório mais antigo sem nunca perder de vista a ambição de inovar.

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