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  • Paulo Jorge Pereira

"O Quinteto de Buenos Aires", de Manuel Vázquez Montalbán

Na edição portuguesa são 18 os livros que compõem a série Pepe Carvalho, o imortal detetive privado nascido da arte do escritor catalão Manuel Vázquez Montalbán. Depois de um primeiro exemplo dessa série com "Os Mares do Sul", publicado em 1979, hoje o convite fica feito para a leitura da obra "O Quinteto de Buenos Aires", datado de 1997.



Nascido a 14 de junho de 1939 numa zona pobre de Barcelona, El Raval, Manuel Vázquez Montalbán iria dedicar à escrita parte substancial da sua vida, quer como poeta/escritor, quer enquanto jornalista. Mas a vida nunca foi fácil, quer para Montalbán, quer para a família: o pai, um operário que era militante do Partido Socialista Unificado de Cataluña e defendera a causa republicana contra Franco, foi preso durante a guerra civil e só conheceu o filho quando este já tinha cinco anos. A mãe era modista, mas também tinha convicções políticas na área do anarco-sindicalismo. Montalbán foi um aluno com desempenho de elevada qualidade e, na Universidade, estudaria Filosofia e Jornalismo. Foi como estudante universitário que conheceu a futura historiadora Anna Sallés, com quem se casou em dezembro de 1961 (seriam pais de Daniel Vázquez Sallés em 1966 e este, por sua vez, deu-lhes dois netos, Daniel e Marc). Militante da Frente de Liberación Popular e, mais tarde, da Iniciativa per Catalunya, sempre contra o franquismo, Montalbán foi, em 1962, condenado por um tribunal militar a três anos de prisão e a mulher a seis meses, pois apoiaram uma greve dos mineiros das Astúrias em plena ditadura franquista. Porém, uma amnistia em função da morte do Papa João XXIII permitiu-lhe cumprir apenas ano e meio de cadeia, tempo que usou para escrever o seu primeiro livro, um manual de Jornalismo intitulado "Inquérito sobre a Informação", mas também dois outros de poesia e os primeiros passos de um futuro romance. Sobrevive com pequenos trabalhos para editoras e, em 1965, entra no semanário ilustrado Siglo XX, mas este dura apenas oito meses. Seguiram-se a Hogares Modernos e, a partir de 1969, a revista Triunfo, através da qual conquista dimensão como jornalista profissional.

Ao longo dos anos irá trabalhar para muitas outras publicações - Solidaridad Nacional, Tele/eXprés, Por Favor, El País e Interviú. Entretanto, desenvolve a sua personalidade literária e, em 1967, publica "Una Educación Sentimental", livro de poemas, sendo "Movimientos sin Éxito" o sucessor em 1969. Afasta-se do empenhamento político ativo e publica "Recordando a Dardé". Pepe Carvalho, um detetive privado que é um ex-comunista e um ex-agente da CIA, a sua criação de maior sucesso, ganhou vida em 1972 com "Eu Matei Kennedy", seguindo-se "Tatuagem", dois anos mais tarde. E, conforme contou o próprio escritor no diário El País de 22 de fevereiro de 1997, o livro foi publicado na Planeta depois de receber proibição na Seix Barral. Até "Milénio II. Nos Antípodas", Montalbán publica duas dezenas de livros com as histórias dos casos investigados por Pepe Carvalho (na edição portuguesa os livros são 18), mas que são muito mais do que isso - são, como contou, "mais do que retratos da transição espanhola, viagens desde a idade da inocência da década de 60 até à idade de todos os empregos precários e desempregos estáveis, esta globalizada idade do desespero".

Torna-se um escritor admirado e muito solicitado para as mais diferentes iniciativas, a tal ponto que chega a afirmar: "Até aos anos 70 vivi para escrever; a partir de então escrevi para viver." Vai escrevendo e diversificando géneros (poesia, romance, ensaio) e ganham relevo os livros da série Pepe Carvalho: "A Solidão do Manager" (1977), "Os Mares do Sul" (1979), de que aqui se apresenta um trecho, "Assassinato no Comité Central" (1981), "Os Pássaros de Banguecoque" (1983), "A Rosa de Alexandria" (1984), "Histórias de Carvalho I" e "Histórias de Carvalho II" (na edição portuguesa - a edição espanhola é de 1987 e tem por título "Asesinato en Prado del Rey"), "As Termas" (1986), "O Avançado-centro foi Assassinado ao Entardecer" (1988). Mas também "La vida Privada del Doctor Betriu" (1983), "El Pianista" (1985), "El Matarife" (1986), "Los Alegres Muchachos de Atzavara" (1987), "Pigmalión" (também de 1987), "Cuarteto" (1988) ou "Galíndez" (1990). E nunca deixa de lado o detetive Pepe Carvalho, nem outras histórias: a "O Labirinto Grego" (1991) segue-se "Autobiografia do General Franco" (1992), o regresso ao detetive no rescaldo dos Jogos Olímpicos de Barcelona com "Sabotagem Olímpica" (1993), "O Irmão Mais Novo" e "Roldán, nem Vivo, nem Morto" (ambos de 1994); nova interrupção para "O Estrangulador" (ainda de 1994) e outro regresso a Pepe Carvalho com "O Prémio" (1996), "La Muchacha que Pudo ser Emmanuelle" (1997) e "Quinteto de Buenos Aires" (ainda de 1997), do qual aqui se apresenta um excerto. É uma década preenchida com distinções variadas e sempre a escrever: "O César o Nada" (1998), "El Señor de los Bonsáis" (1999) e o regresso à série Pepe Carvalho com "O Homem da Minha Vida" (2000). Mas é também um tempo delicado em que Montalbán tem de submeter-se a uma delicada operação ao coração que deixa marcas e irá cobrar um preço muito elevado.

Sobretudo por causa das histórias do detetive Pepe Carvalho, a obra de Montalbán foi traduzida para mais de duas dezenas de idiomas. Publica "Eric e Enede" (2002) e viaja para a Austrália em pesquisa relacionada com obras seguintes. Prepara-se para o regresso a Espanha e, numa escala em pleno aeroporto de Banguecoque, sofre um ataque cardíaco fulminante que o vitima a 18 de outubro de 2003. Por isso, quando o detetive volta com mais dois livros ("Milénio I. Rumo a Cabul" e "Milénio II. Nos Antípodas"), em 2004, é já sem a presença do criador Manuel Vázquez Montalbán.

No passado dia 5, a obra de Montalbán já foi aqui referenciada com a leitura de um trecho do livro "Os Mares do Sul".


Editorial Caminho/Tradução de Cristina Rodriguez e Artur Guerra


A delicada operação ao coração a que teve de submeter-se cobrou uma fatura muito elevada anos mais tarde: quando se encontrava no aeroporto de Banguecoque, em 2003, numa escala no regresso de pesquisa que fora fazer à Austrália, Montalbán sofreu fulminante ataque cardíaco que lhe roubou a vida.

No já referido artigo de 1997 no El País, Montalbán deixa a sua perspetiva sobre a pergunta que orienta todas as novelas policiais - quem é o assassino? E a sua explicação pode ser surpreendente, mas não deixa de ser verdadeira: "Não faz parte da deontologia de um detetive privado sancionar com o aparato repressivo à frente e, além disso, uma vez que estamos a falar de literatura, todo o escritor sabe que o verdadeiro assassino do seu romance é ele mesmo. O escritor é a rapariga do bar e o amante da rapariga do bar, o gangster e o polícia, o homossexual e o fascista, o marxista e o heterossexual, a vítima e o assassino."

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