Leituras arrepiantes de Edgar Allan Poe: o poema "Só" e um pequeno trecho do conto "O Poço é o Pêndulo" - estas são as propostas de Sandra Escudeiro no seu regresso às leituras por aqui.
Talvez "O Corvo" (The Raven), publicado em 1845, seja o seu poema com maior divulgação e mais conhecido, mas Edgar Allan Poe foi muito mais do que poeta - a sua atração pelo insólito, pelo mistério e pelo terror levaram-no mesmo a criar um novo género na literatura: o do conto policial, exercendo influência nas gerações seguintes de escritores. Nascido em Boston, a 19 de janeiro de 1809, Edgar Allan Poe era filho dos atores itinerantes David Poe Jr e Elizabeth Arnold Hopkins. Poe tinha um irmão mais velho (William Henry) e teria uma irmã mais nova (Rosalie), sendo a mãe vítima desse parto (o pai saíra de casa quando ele tinha apenas um ano e, no ano seguinte, a sua mãe morreu). Os irmãos foram separados (William foi viver com família na região do interior dos Estados Unidos, Rosalie foi entregue para adopção e o pequeno Edgar ficou entregue a John Allan, comerciante escocês que fizera fortuna, e à sua mulher (Francis).
Com a sua nova família rumou à Escócia, estudou em Glasgow e, mais tarde, na cidade de Londres. O ano de 1820 assinala o seu regresso aos Estados Unidos e os estudos prosseguiram em Richmond, no Estado da Virgínia. De 1823 são os seus primeiros poemas, mas três anos depois, quando entrou na Universidade local, os conflitos com o pai adotivo e a perigosa relação com o álcool já marcavam o seu dia a dia e foi mesmo expulso do espaço universitário. "Tarmelão e Outros Poemas", a sua estreia literária a publicar, é de 1827 e, dois anos mais tarde, passa a viver com a tia e uma prima, publicando "Al Aaraf". No ano seguinte acede à Academia de West Point, mas, ao fim de oito meses, acaba expulso sob acusações de indisciplina. "Poemas" sai em 1831 e "Manuscrito Encontrado numa Garrafa" assegura-lhe um prémio do Saturday Visitor (1833). Passa a desempenhar o papel de editor literário no Southern Literary Messenger e casa-se com a prima, Virginia Eliza Clemm Poe, que tinha apenas 13 anos. "Assassinatos na Rua Morgue", o seu primeiro trabalho no universo do policial, data de 1841.
Ao mesmo tempo que vai publicando, os problemas começam a agravar-se. Afetado no seu desempenho pela influência das bebidas alcoólicas, é despedido do seu trabalho. Tenta superar os obstáculos com uma mudança para Nova Iorque e, mais tarde, rumo a Filadélfia. Publica "The Narrative of Arthur Gordon Pym" e, durante algum tempo, transmite uma ideia de regeneração, volta a Nova Iorque e desenvolve intensa atividade para diversas publicações (Burton's Gentleman's Magazine, Evening Mirror, Broadway Journal) e, em simultâneo, aumentando a sua obra. Porém, a desgraça persegue-o e a mulher morre em 1847, vítima de tuberculose. Poe desmorona no plano anímico, tornando a ceder aos fatais encantos das bebidas. Procura aproximar-se da poeta Sarah Helen Whitman, mas sem resultados. Tenta suicidar-se com excesso de medicamentos. Falha. Já em Richmond, recupera a relação antiga que mantivera com Sarah Elmira Royster. Mas fim está próximo e poucos estranham que, após viagem entre Richmond e Baltimore, em 1849, deambule ébrio e sem rumo, perdendo-se sob os efeitos da embriaguez. Quando é encontrado à deriva e conduzido a um hospital para internamento, é já demasiado tarde: resiste durante alguns dias, mas acaba por falecer a 7 de outubro de 1849.
Na lista de livros de Poe há ainda que incluir títulos como "Poemas" (1831), "Berenice" (1835), "Histórias Extraordinárias" (1837), "A Queda da Casa de Usher" (1839), "O Retrato Oval", "O Poço e o Pêndulo" (de que aqui se apresenta um trecho) e "O Escaravelho de Ouro (todos de 1842), "O Coração Revelador" (1843), "Filosofia da Composição" (1845) ou "O Barril de Amontillado (1846).
Editalma
A atração de Poe por universos obscuros, climas de suspense e ambientes de terror levou-o a escrever nesses registos e a assumir-se como influência maior para as gerações seguintes de escritores nas áreas do policial e do mistério.
Sandra Escudeiro, que se identifica como "uma amante da Leitura", nasceu em 1973 e vive em Vila Nova de Famalicão. É a dinamizadora do "Clube de Leitores", na biblioteca escolar da Escola Básica de Ribeirão, onde trabalha há 11 anos. Por outro lado, é também artesã e, em part time, dedica-se à trapologia desde 2009. Inspira-se na literatura e nos seus autores, idealiza e constrói bonecos exclusivos em trapos designados "Bonecos Urbanos", aqui surgindo as "Figuras Literárias", isto é, bonecos que caracterizam os mais importantes escritores, diversas personagens das histórias infantis bem como outros seres idealizados na imaginação da criadora. Podem acompanhar aqui o seu maravilhoso trabalho: bonecosurbanos.blogspot.com.
Esta é a sua quinta presença aqui no blog. Tudo começou com a leitura do poema "A Espantosa Realidade das Coisas", de Alberto Caeiro, heterónimo de Fernando Pessoa, a 15 de junho; seguiram-se "O Limpa-Palavras", de Álvaro Magalhães, a 26 desse mês; "Canção na Massa do Sangue", de Jacques Prévert, a 30 de julho; e "Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres", de Clarice Lispector, faz hoje um mês.
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