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  • Paulo Jorge Pereira

"Siddartha", de Hermann Hesse

O ano de 1946 foi mágico para Hermann Hesse, autor de "Siddartha" e um dos que conseguiram fugir à loucura e ao horror do nazismo: foi distinguido com o Prémio Goethe e, pouco tempo depois, soube que iria juntar-lhe o Nobel da Literatura.



Nasceu alemão, na cidade de Calw (região de Karlsruhe, Estado de Baden-Württemberg), a 2 de julho de 1877, mas iria naturalizar-se suíço em 1923. Futuro escritor de sucesso, Hermann Hesse contrariou a tendência excessivamente religiosa da família e optou por dedicar-se à escrita, não se limitando à poesia e escolhendo também os caminhos do ensaio, do conto e do romance. "Cantos Românticos" é de 1898, seguindo-se "Uma Hora Depois da Meia-Noite" (1900), "Textos e Poemas Póstumos de Hermann Lauscher" (1901), "Francisco de Assis", "Bocaccio" e "Peter Camenzind" (todos de 1904). A partir deste último, Hesse concentrou atenções dos leitores e o sucesso passou a ser marca habitual nas suas publicações. Entretanto, o casamento com Maria Bernoulli levou-o a mudar-se para junto do lago Constança, perto da fronteira da Alemanha com Áustria e Suíça.

Nem a mudança, nem o facto de ser pai (Bruno nasce em 1905) o inibem, contudo, de escrever e publicar: "Sob a Roda" (1906), "Do Lado de Cá" (1907), "Vizinhos" (1908) ou "Gertrud" (1910), todos exemplos do seu trabalho literário. Pelo meio, em 1909, nasce Heiner, o segundo filho. Uma viagem à Índia, em 1911, ano do nascimento de Martin, terceiro e último filho, irá influenciá-lo de forma vincada, deixando-o impressionado com o universo espiritual daquele país. Apresenta "Por Estrada" (1911), "Vias Tortuosas" (1912) e "Viagem à Índia" (1913), este um sinal bem evidente das marcas deixadas pela referida deslocação. Seguem-se "Rosshalda" (1914), mas a I Guerra Mundial causa estragos no seu estado psicológico e será um seguidor do famoso Carl Jung a ocupar-se dos seus problemas.

"Na Estrada" e "Três Histórias da Vida de Knulp" (ambos de 1915) surgem antes de "Demian", "Fábulas" e "O Regresso de Zaratustra", todos de 1919. Outra mudança regista-se em 1920 quando o casal e os filhos passam a viver em território suíço - esse é também o ano em que escreve "Siddartha", livro de que aqui se lê um excerto. Entretanto, a pintura também integra o seu quotidiano e, nesse ano de mudança, publica "Olhar sobre o Caos", "Poemas do Pintor", "O Último Verão de Klingsor" e "Klein e Wagner". Nunca deixa de escrever, embora o casamento entre em crise e, em 1923, Hesse se afaste da mulher - mas não fica só durante muito tempo, pois no ano seguinte casa-se com Ruth Wenger (acabarão por separar-se em 1927). Continua a escrever e a publicar: "A Cura" (1925), "Livro de Imagens" (1926), "O Lobo das Estepes" e "Viagem a Nuremberga" (os dois de 1927), "Considerações" e "Crises" (ambos de 1928), "Uma Biblioteca da Literatura Universal" e "Consolação da Noite" (os dois de 1929), "Narziss und Goldenmund" (1930). Em 1931 casa-se com aquela que será a sua mulher até ao final da vida: Ninon. Viviam juntos desde 1927.

Aproximam-se de novo os anos sombrios do horror de um conflito mundial e Hesse prossegue na escrita como se fosse infatigável: "Peregrinação ao Oriente" (1932), "A Árvore da Vida" (1934), "Livro de Fábulas" (1935), "Horas no Jardim" (1936), "Novos Poemas" e "Folhas de Memórias" (ambos de 1937). Com a eclosão da II Guerra Mundial a 1 de setembro de 1939, a escrita de Hermann Hesse também estagna. Profundamente desiludido com o comportamento dos alemães, o escritor defende sempre os judeus e contesta os nazis e estes vão banindo as suas obras do acesso ao público. Só regressa com "O Jogo das Contas de Vidro", em 1943, antes de "Pistas Oníricas" e "O Ramo Florido" (os dois de 1945, ano do fim da guerra).

O ano de 1946 não é apenas o da publicação de "Guerra e Paz. Considerações Sobre a Guerra e a Política a Partir de 1914", mas sobretudo aquele em que junta ao Prémio Goethe o Nobel da Literatura. Nem a consagração o trava, embora o ritmo passe a ser diferente e aumentem os intervalos entre novas publicações: "Prosa Tardia" é de 1951, "Encantamentos" surge em 1955, "Gradini. Poemas Velhos e Novos" publica-se em 1961.


Coleção Público/Tradução de Pedro Miguel Dias


O autor classificou o livro como "um poema indiano".

Na parte final da sua vida está mais atento à pintura e à correspondência abundante que lhe chega por causa da fama resultante do Nobel. Aos 85 anos, a 9 de agosto de 1962, Hermann Hesse morre na localidade de Montagnola. A terceira mulher, Nino Hesse, sobrevive-lhe apenas durante quatro anos, falecendo a 22 de setembro de 1966.

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