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Paulo Jorge Pereira

Alexandra Jacob lê "O Meu Soneto", de Florbela Espanca

Desta vez, Alexandra Jacob recorre à obra de Florbela Espanca e lê "O Meu Soneto" como sugestão para hoje.



Tinha apenas oito anos e já escrevia poesia. Flor Bela de Alma da Conceição Espanca nasceu em Vila Viçosa, a 8 de dezembro de 1894. Era filha ilegítima e o pai só a reconheceu depois de ela se suicidar com apenas 36 anos - para trás ficava uma curta vida recheada de peripécias de sofrimento como três casamentos, dois divórcios ou a morte violenta do irmão, Apeles Demóstenes da Rocha Espanca, num acidente de aviação em 1927. Apesar de viver pouco tempo, a escritora deixou marcas profundas na sociedade, não apenas através dos seus livros, mas também por causa do seu espírito de ser humano livre e sem receios de se mostrar pioneira. Por exemplo, seria uma das primeiras mulheres no curso liceal em Portugal. Ávida leitora, estudou Letras em Évora e foi uma de 14 mulheres, entre 347 alunos, a matricular-se no curso de Direito da Universidade de Lisboa. Antes, em 1913, casara-se com Alberto de Jesus Silva Moutinho, de quem fora colega na escola. Desenvolve as primeiras tentativas de publicar o seu trabalho literário em 1916 e trabalha como jornalista (Modas & Bordados, um suplemento do jornal O Século, mas também Notícias de Évora e A Voz Pública). Entretanto, o casamento não estava de acordo com o que sonhara e Florbela sofre mesmo um aborto que lhe causa danos. Começa o afastamento do marido, publica "Livro de Mágoas", obra de estreia em 1919, e passa a viver com António José Marques Guimarães, oficial da GNR, a partir de 1920. Do ano seguinte é a sua saída da Faculdade, o primeiro divórcio, o casamento com Marques Guimarães, a passagem para o Porto e, quando o marido se torna chefe de gabinete do ministro do Exército, o regresso à capital.

A qualidade do seu trabalho poético desperta atenções e a revista Seara Nova publica-lhe um soneto em 1922. No ano seguinte, com os custos suportados pelo pai, sai a segunda obra com a sua assinatura: "Livro de Sóror Saudade". Ensina Português para obter algum dinheiro e divorcia-se pela segunda vez em 1925, casando-se com Mário Pereira Lage, um médico com quem já vivia desde o ano anterior. Instalam-se no Porto, Florbela mantém colaborações com jornais, embora sinta enormes dificuldades para publicar novos livros. Faz traduções para duas editoras (Civilização e Figueirinhas), mas a sua vida regista novo abalo terrível com a morte do irmão, a 6 de junho de 1927. Dedica-lhe um livro de contos, "As Máscaras do Destino", que só irá sair um ano após a sua morte. Agravam-se os sintomas de neurose que já a apoquentavam e, em 1928, faz a primeira tentativa de suicídio que não produz resultados. Escreve "Diário do Último Ano", que se junta a "Charneca em Flor", ambos sem editora para publicação. Está muito à frente do seu tempo na linguagem de tom erótico que utiliza em vários poemas e nas atitudes de emancipação feminina. Mantém as colaborações com diferentes publicações - O Primeiro de Janeiro, revista Civilização e Portugal Feminino são apenas exemplos - mas, pouco antes da saída de "Charneca em Flor", repete por duas vezes a tentativa de se suicidar. É-lhe diagnosticado um edema pulmonar e Florbela decide que terá êxito na tentativa seguinte de suicídio: acontece no dia do seu aniversário, a 8 de dezembro de 1930, com uma overdose de barbitúricos. Mais prosa, poesia e várias coletâneas seriam publicadas depois da sua morte.





A sua vida inspirou um filme de Vicente do Ó com Dalila do Carmo, Ivo Canelas, Albano Jerónimo, Anabela Teixeira e António Fonseca, lançado em 2012 e que passou na RTP como minissérie. Antes, em 1978, já a RTP apresentara um programa sobre o seu percurso na série "As Palavras Herdadas". A poesia de Florbela Espanca está também disseminada pela música de nomes como Trovante, Mariza, Nicole Borguer ou Fagner.





Florbela Espanca foi tema de leitura aqui no blog logo a 2 de abril com a leitura de "Ser Poeta", incluído no livro "Charneca em Flor".


Editora Martin Claret


"Se passar do dia dos meus anos morrerei de velha", terá Florbela afirmado a uma amiga próxima pouco antes de se suicidar.

Eis como Alexandra Jacob resume o seu percurso de vida: "O ano 74, Outubro, cheguei, engatinhei e em passinhos caminho até hoje. Piracicabana, bacharel em Direito, estou com amigos em trabalhos no Salão de Arte Contemporânea da cidade. Curadora, compositora, eis o que há para saber, o amor às letras me trouxe aqui."

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