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  • Paulo Jorge Pereira

"As Inseparáveis", de Simone de Beauvoir

Professora, romancista, ensaísta, filósofa, símbolo do feminismo, causa em que se empenhou de corpo e alma, Simone de Beauvoir escreve em "As Inseparáveis" sobre a sua amiga de infância, Élisabeth Lacoin, conhecida como Zaza. Mas em registo de ficção.



Nesta obra, a história é verdadeira, mas o registo é de ficção: Simone de Beauvoir chama-se Sylvie e a amiga não se chama Élisabeth, mas Andrée. A relação de proximidade entre as amigas foi interrompida de forma trágica, porque Élisabeth Lacoin perdeu a vida aos 21 anos, mas Simone não deixou de homenageá-la, aproveitando livros como "Memórias de uma Menina Bem-Comportada" e "Os Mandarins" para a projetar em diferentes personagens.

Professora, romancista, ensaísta, filósofa, símbolo do feminismo, causa em que se empenhou de corpo e alma, Simone de Beauvoir formou com Jean-Paul Sartre um dos mais famosos casais do século XX, mas não foram casados. Não só não foram casados como mantiveram uma relação de caráter aberto, dois elementos que representaram para muitos uma coexistência escandalosa. Beauvoir e Sartre marcaram a História como intelectuais de invulgar dimensão. Brilhantes na escrita e nas reflexões, os dois foram tratados quase como estrelas de cinema em muitas ocasiões e ele, professor, criador, ícone maior e impulsionador do Existencialismo, filósofo, romancista e dramaturgo, chegou mesmo a vencer o Nobel da Literatura em 1964, galardão que rejeitou.

Simone Lucie Ernestine Marie Bertrand de Beauvoir nasceu em Paris a 9 de janeiro de 1908, morrendo também na capital francesa a 14 de abril de 1986. Conheceu Sartre na Sorbonne, e chegou a ser pedida em casamento no ano de 1929, mas recusou e combinaram que o seu relacionamento seria aberto, admitindo casos com outras pessoas. Da sua obra literária e ensaística, "O Segundo Sexo", dedicado à análise da opressão sofrida pelas mulheres às mãos dos homens, é o seu título mais famoso.

Espírito livre, sempre disponível para se bater pelos direitos das mulheres, escreve frases como "É pelo trabalho que a mulher vem diminuindo a distância que a separava do homem, somente o trabalho poderá garantir-lhe uma independência concreta" ou "Que nada nos defina. Que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância."

Jean-Paul Charles Aymard Sartre, nascido na capital francesa a 21 de junho de 1905 e ali falecido a 15 de abril de 1980, nunca pretendeu ser distinguido com galardões e, por essa razão, recusaria o Prémio Nobel da Literatura em 1964. Muito antes disso já revelara brilhantismo como estudante na Sorbonne, mais tarde seria professor liceal de Filosofia entre parte da década de 30 (passou cerca de um ano em Berlim, numa fase em que Hitler despontava) e o começo dos anos 40 e começaria a escrever, estreando-se com "A Náusea" (1938). Participa na II Guerra Mundial, chega a ser aprisionado pelos nazis, envolve-se com a Resistência e será amigo do escritor Albert Camus (mas afastam-se de modo irrmediável depois de este publicar uma obra em que ataca com contundência o comunismo. Irá dirigir revistas e envolver-se ainda mais na escrita, sobretudo de ensaios e teatro, na política e na Filosofia. Será um dos contestatários ao colonialismo gaulês, erguendo a voz para que haja uma Argélia livre.

Pelo tempo fora continua a escrever, a viajar com Simone de Beauvoir (Brasil, Cuba, China e União Soviética são alguns dos seus destinos), revisora fortemente crítica dos seus escritos, mas também a aprofundar os seus conceitos filosóficos até morrer. Simone de Beauvoir, que acabara de sair de uma hospitalização, sofre profundo golpe, chega a desmaiar em casa e acaba por ter de ser internada de novo até recuperar.


Quetzal/Tradução de Sandra Silva


Sylvie Le Bon de Beauvoir, filha adotiva da autora, escreve o posfácio desta obra.

Não sendo uma obra da autora, "Sartre e Beauvoir: A História de uma Vida em Comum", aqui apresentado por Inês Henriques a 30 de setembro, centra-se num dos casais mais famosos do século XX.

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