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Paulo Jorge Pereira

Elisabete Jesus lê "Fome", de Knut Hamsun

De Nobel da Literatura em 1920 a colaborador e admirador dos nazis na Noruega, preso e odiado no pós-II Guerra Mundial: entre extremos decorreu a vida de Knut Hamsun, escritor cujo livro "Fome" é hoje aqui apresentado no regresso de Elisabete Jesus.



"Fome" tornou-se uma das obras mais conhecidas do norueguês Knut Hamsun, nascido numa família humilde a 4 de agosto de 1859. Com uma infância abalada pela doença do pai e a proximidade de um tio que não lhe permitia conviver com outras crianças, o pequeno Knut recorreu à leitura para não se sentir tão só. Os primeiros empregos foram exigentes e apenas em 1877 chegaria a estreia literária com o livro "O Enigmático". Porém, as dificuldades, sobretudo de índole financeira, avolumavam-se e Hamsun chegou a passar quatro anos nos Estados Unidos, divididos em dois diferentes períodos de dois anos com um regresso a Oslo pelo meio.

De 1890 é o seu livro com maior sucesso, "Fome", de que hoje aqui se apresenta um trecho. Seguiu-se passagem por Paris, onde aprofundou a obra literária, e a fase em que viveu na Finlândia, prosseguindo a escrita de livros. Em 1906 divorciou-se da sua primeira mulher, Bergljot Gopfertin, tornando a casar-se em 1909, neste caso com a atriz Marie Andersen. A partir de 1917 passou a viver no sul da Noruega, mal saindo de casa e dedicando-se com cada vez mais empenho à escrita. Os anos 30 e a II Guerra Mundial vão revelá-lo como apoiante de Hitler e dos nazis, sobretudo através de opiniões manifestadas em artigos disseminados pela imprensa.

Quando a guerra acabou, quer Knut, quer a mulher, foram presos, tendo ela ficado detida ao longo de três anos. O escritor acabou por passar por doença do foro psiquiátrico, sendo internado num lar. Submetido a julgamento em 1947, nem o advogado o convenceu a alegar problemas ligados à idade avançada para escapar a condenações, mas agiu precisamente ao contrário, defendendo as suas convicções e a admiração por Hitler e pelos nazis. Morreria em Norholm, a 19 de fevereiro de 1952.

O seu trabalho literário engloba uma vasta obra: "O Enigmático" (1877), "Burgueses" (1878), "Em Tournée" e "Pecado" (os dois de 1886), "Da Vida Intelectual na América Moderna" (1889), "Fome" (1890), "Mistérios" (1892), "Terra Nova" e "O Redator-Chefe" (ambos de 1893), "Pan" (1894), "Às Portas do Reino" (1895), "O Jogo da Vida" (1896), "Siesta" (1897), "Os Fogos do Poente" e "Vitória" (os dois de 1898), "No País Maravilhoso", "A Rainha Tamar" e "Mata de Corte" (todos de 1903), "O Sonhador", "O Monge Vendt" e "O Coro Selvagem" (os três de 1904), "Vida de Lutas" (1905), "Sob a Estrela de Outono" (1906), "Rosa" e "Benoni" (ambos de 1908), "Um Vagabundo Toca em Surdina" (1909), "A Vida Violenta" (1910), "A Última Alegria" (1912), "Filhos da Época" (1913), "A Cidade de Segelfoss" (1915), "Os Frutos da Terra" (1917) - livro que iria assegurar-lhe o Nobel -, "A Língua em Perigo" (1918), "As Mulheres da Bomba" (1920), "Último Capítulo" (1923), "Vagabundos" (1927), "Augusto, o Marinheiro" (1930), "E A Vida Continua" (1933), "A Ronda Acabada" (1936) e Pelos Atalhos Fechados" (1949).

Dos dois casamentos resultaram cinco filhos: Victoria, nascida em 1902; Tore (nasceu em 1912, foi editor, escritor e pintor e, devido a ligações a um partido de extrema-direita, foi detido durante cinco meses no pós-guerra. Morreria em 1995); Arild (foi voluntário nas Waffen-SS, passando ano e meio na prisão após a II Grande Guerra. Morreu em 1988); Ellinor (atriz nascida em 1916 que foi casada com o realizador alemão Richard Schneider-Edenhohen e, por causa do posicionamento anti-nazi, teve de fugir com o marido às garras da Gestapo. Sofreu de bulimia e com o divórcio do marido após o conflito mundial, tendo sido submetida a duas lobotomias nos anos 50 - em função disso, passou os restantes 34 anos de vida num lar, falecendo em 1987) e Cecilia, nascida em 1917 e cuja morte se registou em 1985.


Cavalo de Ferro/Tradução de Liliete Martins


Nobel da Literatura em 1920, a colaboração com os nazis na sua Noruega natal levou Knut Hamsun a ser preso e condenado no pós-guerra. E também o votou ao desprezo do povo norueguês.

Nascida em Vila Nova de Gaia, Elisabete Jesus é licenciada em História pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, aqui se tornando ainda Mestre de História Moderna. Professora e investigadora de História desde 2002, realiza colaboração com a Porto Editora desde essa altura, desempenhando papel como coautora de manuais escolares para estudantes em patamares variados das respetivas aprendizagens. Começou a escrever para um público infantojuvenil a partir de 2014 com a publicação d'"A Minha História de Portugal". Seguiram-se "A Minha História dos Descobrimentos (2015) e "A Minha História da Europa" (2019). A sua estreia em leituras aqui no blog aconteceu a 21 de junho quando apresentou um excerto da obra "O Cão que Comia a Chuva", de Richard Zimler. A 29 de outubro leu um pouco de "Cadernos de Lanzarote II", de José Saramago. A 1 de fevereiro participou no Especial que aqui dedicámos ao Dia Mundial da Leitura em Voz Alta com um trecho da obra "As Horas", de Michael Cunningham. No dia 11 de maio, Elisabete Jesus apresentou "Tropel", de Manuel Jorge Marmelo.



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