Diplomata e poeta, o trabalho literário de Nizar Qabbani é hoje recordado como escolha de Fernando Soares. Assim se fica a saber mais sobre alguém que nasceu na Síria e cuja vida foi marcada por várias tragédias.
Nascido na capital da Síria (Damasco) em 1923, Nizar Qabbani seria diplomata depois de se formar em Direito e, com esse estatuto, teria oportunidade de viajar pelo mundo. De Beirute a Londres, do Cairo a Pequim e Madrid, os caminhos de Qabbani nunca fizeram, contudo, que perdesse a forte ligação às suas origens em Damasco. Tornando-se um poeta famoso e admirado costumava dizer: "Todas as crianças têm o cordão umbilical cortado à nascença, mas eu continuo a tê-lo em ligação ao útero one começa e acaba a criação." Tinha 16 anos quando se estreou a escrever poemas, mas o primeiro livro, "The Brunette Said to Me", só surgiu cinco anos mais tarde, em 1944.
Desde a década de 40, quando criou uma editora em Beirute, que o autor ia vendo crescer a falange de admiradores. Desta altura destacam-se "Qalat li al Samra" (A morena disse-me), de 1942, "Anti li" ("És Minha"), de 1950, ou "Habibati" ("Minha Querida"), de 1961. Este é o período mais fértil do seu trabalho literário, sob inspiração da mulher. Porém, em 1967, no decurso da designada Guerra dos Seis Dias, quando Israel ocupou a faixa de Gaza e a península do Sinai, passa a ser mais desenvolvida a sua vertente política. Entretanto, em 1979, um bombardeamento matou Balqis, a sua mulher de origem iraquiana, e isso contribuiu, de modo decisivo, para que a sua escrita se transformasse em algo de índole ainda mais interventiva no capítulo político - é o momento de assumir fortes críticas a todos os que representam qualquer forma de poder e "Marginal Notes on the Book of Defeat" é disso um belo exemplo (mais tarde, os seus livros chegariam mesmo a ser proibidos.
No fundo, era quase um regresso ao passado, num reforço de identificação com o pai que combateu o ocupante francês até ser preso sob a acusação de ser um dos líderes da resistência.
Entre a diplomacia e o mundo literário, Nizar Qabbani acabaria por dedicar-se à segunda por inteiro a partir de 1996. O tio, Abu Khalil, foi outra importante fonte de inspiração, tendo por base os seus diferentes papéis como poeta, cantor, bailarino, compositor ou ator. "Há gerações que os Qabbani se perdem pelo primeiro par de olhos bonitos que veem", confessa, quando questionado acerca das razões para escrever sobre o amor.
Mas, se os homens tinham margem de manobra para quase tudo, inclusive para escrever poesia erótica, como sucedeu a Qabbani, as mulheres sofriam sob forte pressão. Reflexo disso mesmo foi o trágico suicídio de Wissal, sua irmã, então com apenas 15 anos (1973), porque não lhe foi concedida autorização para se casar com o namorado que dizia ser a sua paixão. Mas as marcas da tragédia na vida do poeta não se ficariam por aqui: perderia um filho de 25 anos por causa de um ataque cardíaco em Beirute (1981) e a sua segunda mulher devido a um bombardeamento.
Foi nessa altura que resolveu viajar para Londres e ali permanecer até à morte, devido a ataque cardíaco, em 1998.
Qabbani morreu em Londres, vítima de ataque cardíaco, pouco depois de completar 75 anos.
Com uma voz poderosa e enorme experiência, o ator, escritor, encenador e diseur Fernando Soares continua a hipnotizar audiências e a promover a leitura como poucos com experiências diversificadas enquanto ator, em cinema, televisão, teatro, poesia, mas também com trabalho como encenador em contexto prisional, associativo, sénior, e nos projetos teatrais e de poesia em todos os graus de ensino. É, também, autor, professor e formador. Aqui no blog estreou-se a 20 de março de 2021 no Especial Alice Vieira Faz Anos com a leitura do poema "São Um Perigo As Palavras". A 27 de abril regressou com a leitura de um excerto de um livro de crónicas de José Saramago, "Deste Mundo e do Outro". No 1.º de Maio, Fernando Soares apresentou um trecho da obra "Sombra Silêncio", escrito por Carlos Poças Falcão. Três dias depois apresentou uma leitura cujo autor preferiu não identificar. No dia 10 trouxe o trabalho literário de Nelson Ferraz. A 12 foi a vez de apresentar Joaquim Pessoa com "Dos Pássaros e dos Homens". No dia 15 trouxe-nos "A Espantosa Realidade das Coisas", poema de Alberto Caeiro, um dos heterónimos pessoanos. Voltou a 21 de maio com "Os Macacos", de Jacques Brel. A 29 de maio brindou-nos com "Uma Pequenina Luz", de Jorge de Sena. No dia 2 apresentou "Palavras, Paroles", de Jacques Prévert. A 8 de junho leu o poema "A Lesson in Drawing", de Nizar Qabbani. E outras leituras se seguiram...
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