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  • Paulo Jorge Pereira

Inês Henriques lê "Em Açúcar de Melancia", de Richard Brautigan

Um excerto de "Em Açúcar de Melancia", publicado por Richard Brautigan em 1968, é a escolha feita por Inês Henriques no regresso às leituras aqui no blog.



No "Dictionary of Literary Biography" escrito por Robert Novak pode ler-se que Richard Gary Brautigan "é muitas vezes visto como a ponte entre o movimento da 'Beat Generation' de finais dos anos 50 e a revolução da juventude na década de 60". Nascido em Tacoma (Washington), a 30 de janeiro de 1935, Brautigan conheceu uma infância recheada de dificuldades, algo que não lhe permitiu frequentar a escola com regularidade - os pais separaram-se oito meses antes do seu nascimento, a mãe teria vários relacionamentos e seria mesmo vítima de violência doméstica, tendo Richard e duas meias irmãs passado por tempos de miséria, fome e viagens constantes. Mesmo assim, no final de 1950, Brautigan terminou a formação na escola em Eugene, no Oregon, chegando a escrever para o jornal escolar e ali publicar os primeiros poemas, além de praticar basquetebol com sucesso (media 1,93 metros, algo que o tornava uma arma letal próximo do cesto).

A primeira viagem para São Francisco aconteceu em 1954, quando ainda não chegara aos 20 anos. No final do ano seguinte, porém, foi preso por arremessar uma pedra contra a janela de uma esquadra - não tinha dinheiro para comer e a detenção garantia-lhe que seria alimentado. Sob o argumento de que apresentava comportamento errático, a polícia obrigou-o a ser internado no Oregon State Hospital onde lhe diagnosticaram paranoia esquizofrénica e depressão e o submeteram à temível terapia dos eletrochoques. Foi nesta fase que iniciou a escrita de "The God of the Martians", várias vezes rejeitado por diferentes editoras, recebendo alta apenas a 19 de fevereiro de 1956. Pouco tempo depois, voltou a rumar a São Francisco, algo que iria alterar para sempre a sua vida. Começou por escrever poesia e distribuí-la pelos transeuntes nas ruas, aproveitando ainda para declamar em vários cafés locais. A estreia editorial registou-se em 1957 com o poema "The Return of the Rivers", seguindo-se "The Galilee Hitch-Hikers" (1958) e "Lay the Marble Tea" (1959). Casado com Virginia Alder entre 1957 e 1970 (deixaram de viver juntos em 1962, na sequência do comportamento agressivo de Brautigan, devido a depressão e alcoolismo), seria pai de Iante Elizabeth Brautigan em 1960 (mais tarde, ela própria seguiria o exemplo de Brautigan, com quem passou a maior parte da infância, tornando-se escritora além de educadora. "You Can't Catch Death: A Daughter's Memoir", seu primeiro livro, relata precisamente os tempos passados com o pai).

Sob influência de escritores como Jack Kerouac ou Charles Bukowski, a sua escrita iria transformá-lo num dos vultos da chamada contracultura nos anos 60, situação que lhe permitiu vender milhões de exemplares das suas obras. Tal como "A Confederate General from Big Sur", "Trout Fishing in America" foi escrita em 1961, mas só teria publicação seis anos mais tarde, altura em que foi também apresentado "All Watched Over by Machines of Loving Grace". De 1968 são os contos "Em Açúcar de Melancia", de que se apresenta um excerto aqui pela voz de Inês Henriques, mas Richard Brautigan foi também romancista e poeta. No ano seguinte, face ao êxito que o seu trabalho conquistara na Costa Oeste dos Estados Unidos, o escritor Kurt Vonnegut mostrou exemplos da sua escrita à editora Delacorte Press e esta reeditou os livros referidos e ainda "The Pill Versus the Springhill Mine Disaster" (1968). Brautigan teve então oportunidade de publicar mais de duas dezenas de contos, ao longo de quase dois anos, nas páginas da revista Rolling Stone.

"The San Francisco Weather Report" surgiu em 1969, "Rommel Drives on Deep Into Egypt" é de 1970 e, no ano seguinte, Brautigan deixou por algum tempo a poesia e publicou "The Abortion: an Historial Romance 1966". Regressou aos poemas com trabalhos como "Loading Mercy with a Pitchfork" (1975), antes de "Sombrero Fallout: a Japanese Novel" (1976) e "Dreaming of Babylon: a Private Eye Novel" (1977), tendo este último ano sido assinalado pelo seu casamento com Akiko Yoshimura (Brautigan conhecera-a em Tóquio no ano anterior, mas separaram-se em 1980). Manteve relacionamentos com outras mulheres nos anos que se seguiram, mas as marcas do álcool e da depressão exerciam um peso excessivo na sua vida. "June 30th, June 30th" (1978) ,"The Tokyo-Montana Express" (1979) e "So the Wind Won't Blow it All Away" (1982) foram alguns dos livros que apresentou antes de os mais próximos começarem a notar-lhe sinais de profunda depressão. Radicara-se na localidade californiana de Bolinas, tornando-se cada vez mais raras as suas deslocações para participações em cerimónias públicas.

A morte de Richard Brautigan, ocorrida provavelmente a 16 de setembro de 1984, depois de um telefonema para a amiga Marcia Clay, resultou de suicídio. O seu corpo só foi descoberto a 25 de outubro por Robert Yench, amigo e detetive privado.


Edições Snob/Tradução de Sara Veiga/Ilustrações de Pedro Simões


Poesia, romance e contos: foi com a escrita nestes géneros que Brautigan se tornou um dos mais influentes nomes do movimento da contracultura nos Estados Unidos.

Inês Henriques tem presença regular e soma a sétima participação aqui no blog. Estreou-se a 27 de abril com "Perto do Coração Selvagem", de Clarice Lispector; voltou a 10 de maio e leu um excerto de "A Disciplina do Amor", de Lygia Fagundes Telles; no último dia de maio apresentou parte de "351 Tisanas", obra de Ana Hatherly; a 28 de junho, propôs literatura de cordel, com um trecho do livro "Clarisvânia, a Aluna que Sabia Demais", escrito por Luís Emanuel Cavalcanti e a 22 de agosto apresentou um excerto da obra "Contos de Amor, Loucura e Morte", escrita por Horacio Quiroga.

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