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  • Paulo Jorge Pereira

Especial Feira do Livro: Agostinho Costa Sousa lê "As Velas Ardem Até ao Fim", de Sándor Márai

Passou mais de 40 anos no exílio, deixando a Hungria no final dos anos 40 e mantendo sempre o tom crítico contra o regime comunista. Um trecho do livro "As Velas Ardem Até ao Fim", publicado em 1942 e escrito por Sándor Márai, regressa como proposta de leitura de hoje, agora pela voz de Agostinho Costa Sousa.



Nasceu húngaro, a 11 de abril de 1900, na cidade de Kassa, hoje Kosice e parte da Eslováquia. Chamou-se Sándor Károly Henrik Grosschmid e só mais tarde passaria a ser conhecido como Sándor Márai. O mundo ainda não conhecera as duas Grandes Loucuras Mundiais de horror e morte e o jovem, filho de um advogado e de uma professora, teve uma infância feliz, interrompida com a eclosão do conflito que durou entre 1914 e 1918. Nessa Europa ainda mal refeita do ódio e de um banho de sangue, Márai afastou-se do regime de Miklós Horthy (mais tarde aliado da Alemanha nazi até 1944, altura em que a Hungria foi invadida pelas tropas de Hitler e Horthy preso - seria libertado no final da guerra e testemunha nos julgamentos de Nuremberga, vivendo em Portugal a partir de 1948) e trocou o seu país pela Alemanha em 1919, morando em Berlim e em Frankfurt. Começou logo a trabalhar como jornalista e seria correspondente em Paris de uma publicação germânica durante os anos da República de Weimar. Com 24 anos teria a sua estreia literária num percurso que inclui dezenas de obras. Voltou à Hungria várias vezes, mas, após a II Guerra Mundial, com a subida ao poder do regime comunista, Márai afastou-se em definitivo e radicou-se nos Estados Unidos. Regressou à Europa e passou períodos da sua vida na Suíça e em Inglaterra, no começo dos anos 50. Durante 15 anos desenvolveu a sua atividade profissional na rádio Europa Livre, saiu em 1967 e, no ano seguinte, viveu em Palermo, na Sicília. Ainda em 1968 acaba por regressar aos Estados Unidos e fixa-se em San Diego.

Tinha já muitos livros publicados quando deixara a Hungria no final da década de 40 e, enquanto o governo proibia a circulação da sua obra no país, esta tornava-se um sucesso. O preço a pagar foi o exílio, mantendo sempre o seu tom crítico com o regime comunista. Foi sempre escrevendo e a admiração dos leitores cresceu à medida que aumentava os exemplos da sua poesia, mas também de romances e peças de teatro. "Rebeldes" é de 1930, mas não faltam exemplos variados do seu trabalho literário: "The Confessions" (1934), "Divórcio em Buda" (1935), "A Herança de Eszter" (1939), "Conversa em Bolzano" (1940). "As Velas Ardem Até ao Fim", de que aqui se apresenta um trecho, foi publicado em 1942. Mas a vasta lista engloba também "A Mulher Certa", "A Ilha", "A Irmã" ou "A Gaivota", tendo a sua obra merecido traduções para dezenas de idiomas ao longo das décadas.

Defensor da liberdade de pensamento e de escolha, Márai cuidou da mulher depois de esta adoecer e durante o longo período de sofrimento a que o mal a submeteu. Talvez pelas duas razões, a ideia de que as escolhas deviam ser suas até às últimas consequências e o facto de não querer estar sujeito à dor que tanto apoquentara a mulher, Sándor Márai suicidou-se com um tiro na cabeça a 22 de fevereiro de 1989, aos 88 anos. Já não teve oportunidade de assistir à queda do Muro de Berlim e do comunismo.


Publicações D. Quixote/Tradução de Mária Magdolna Demeter


Escreveu e publicou dezenas de livros e viveu muitos anos nos Estados Unidos, mas morreu antes da queda do Muro de Berlim: Sándor Márai já não assistiu ao descalabro do comunismo que o obrigara a exilar-se.

Esta é a segunda leitura de um trecho deste livro de Sándor Márai por aqui, depois de eu ter apresentado a primeira a 30 de janeiro. Agostinho Costa Sousa reside em Espinho e socorre-se da frase de Antón Tchekhov: "A medicina é a minha mulher legítima, a literatura é ilegítima" para se apresentar. "A Arquitetura é a minha mulher legítima, a Leitura é uma das ilegítimas", refere. Estreou-se a ler por aqui a 9 de maio com "A Neve Caindo sobre os Cedros", de David Guterson, seguindo-se "As Cidades Invisíveis", de Italo Calvino, a 16 do mesmo mês, mas também leituras de obras de Manuel de Lima e Alexandra Lucas Coelho a 31 de maio. "Histórias para Uma Noite de Calmaria", de Tonino Guerra, foi a sua escolha no dia 4 de junho. No passado dia 25, a sua escolha recaiu em "Veneno e Sombra e Adeus", de Javier Marías.

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