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  • Paulo Jorge Pereira

Fernando Soares lê "Os Macacos", de Jacques Brel

É uma canção, no original em francês chama-se "Les Singes" ("Os Macacos"), mas aqui o poema é dito com a mestria que só a voz e a interpretação mágicas de Fernando Soares lhe conseguem conferir.



"Ne Me Quitte Pas" ou "La Valse à Mille Temps": títulos de duas das canções e interpretações lendárias de Jacques Romain Georges Brel e conhecidas à escala planetária. Mas há muito mais no seu trabalho musical e não só para descobrir, assim como um percurso de vida nem sempre marcado pelo sucesso e doloroso no final prematuro. Aqui apresenta-se, pela voz muito especial do Fernando Soares, com o poema/canção "Les Singes".

Brel nasceu em Schaerbeek, na região bruxelense, a 8 de abril de 1929, iria notabilizar-se como cantor e compositor, embora não deixasse de desempenhar outros papéis como os de realizador e ator. Depressa contrariou a tendência que a família parecia desenhar para a sua vida - o pai tinha uma fábrica de cartão - e, aos 15 anos, já estava envolvido na criação de um grupo de teatro escolar. Já escreve poesia e compõe as primeiras músicas a meio dos anos 40, mas há um desvio importante no seu caminho que o aproxima ainda mais da música e do amor. A entrada num grupo católico de apoio aos mais desfavorecidos leva-o a mostrar os seus dotes em diferentes recitais e, além disso, permite-lhe conhecer Thérèse Michielsen, mais conhecida por Miche, com quem se casa em 1950, vindo o casal a ter três filhas: Chantal, France e Isabelle. Ainda assim, a vida não é o que pretende, uma vez que o trabalho na fábrica paterna é demasiado enfadonho para um espírito tão irrequieto e aventureiro. Por isso, depois de atuações em bares locais e até de gravar um primeiro disco, decide deixar para trás o quotidiano cinzento de Bruxelas e tenta a sua sorte em Paris. Aqui, o cenário passa a ser outro a partir do momento em que Jacques Canetti, um caça-talentos que é também irmão do Nobel da Literatura de 1981, Elias Canetti, ouve a sua demonstração de génio absoluto. Ganha direito a apresentar-se no café de que é proprietário o irmão do Nobel e, no final dos anos 50, já é figura de cartaz com outro nome maior da canção francesa: Charles Aznavour.

Começara um exaustivo desfile pelo mundo, apresentara o disco de estreia em 1954 e já suscitara as atenções da grande Juliette Gréco, travando conhecimento com influências marcantes que a acompanham como Gérard Jouannest ou François Rauber. Outra enorme influência, além de forte amizade, é Georges Pasquier, um percussionista mais famoso como Jojo, cujo apoio será marcante. Mas, se o êxito começa e os prémios chegam às suas mãos, Miche volta para a Bélgica e passam a viver distanciados.

Ao longo do seu trajeto como invulgar intérprete que parecia dar a vida em cada ocasião no palco, um hábito iria persegui-lo: vomitar antes de cada atuação. Jouannest e Raubert contribuem de forma decisiva para que o seu estilo ganhe outra dimensão e o sucesso atinge tal escala que as solicitações para atuar ao vivo nunca deixam de crescer, forçando-o a um desgaste físico e mental que deixará marcas profundas. De 1966 é a sua decisão de não regressar aos palcos para cantar e Rooubaix, a 16 de maio de 1967, torna-se o cenário da sua derradeira atuação em público.

Uma incursão no teatro leva-o a ser ator em peças como "O Homem da Mancha", sendo elogiado pela intepretação da figura de D. Quixote. Mas nem só o teatro o atrai e nos anos seguintes trabalha como ator em diversos filmes, além de realizar dois. Fora do mundo da Cultura, Jacques Brel é um apaixonado pela vida no mar e decide voltar a interromper o seu percurso musical e literário, adquirindo um veleiro que irá levá-lo, entre outras viagens, aos Açores e à ilha Hiva' Oa, integrante do arquipélago

das Marquesas, então parte da Polinésia francesa. Só que os problemas de saúde começam a manifestar-se e a debilitá-lo. Apesar de uma passagem pela capital francesa, aproveitando para deixar registo do seu álbum final (Brel) que se tornará um dos mais bem sucedidos no seu caminho.

O ano de 1978 será fatídico. De volta ao hospital por causa do tumor num pulmão e cuja extração não resolvera as dificuldades, a sua saúde torna-se cada vez pior e, devido a embolia pulmonar, acaba mesmo por morrer, a 9 de outubro de 1978, com apenas 49 anos.



"Tenho menos medo da morte do que de me tornar um velho cretino", afirmou Brel.

Com uma voz poderosa e enorme experiência, o ator, escritor, encenador e diseur Fernando Soares continua a hipnotizar audiências e a promover a leitura como poucos com experiências diversificadas enquanto ator, em cinema, televisão, teatro, poesia, mas também com trabalho como encenador em contexto prisional, associativo, sénior, e nos projetos teatrais e de poesia em todos os graus de ensino. É, também, autor, professor e formador.

Aqui no blog estreou-se a 20 de março no Especial Alice Vieira Faz Anos com a leitura do poema "São Um Perigo As Palavras". A 27 de abril regressou com a leitura de um excerto de um livro de crónicas de José Saramago, "Deste Mundo e do Outro". No 1.º de Maio, Fernando Soares apresentou um trecho da obra "Sombra Silêncio", escrito por Carlos Poças Falcão. Três dias depois apresentou uma leitura cujo autor preferiu não identificar. No dia 10 trouxe o trabalho literário de Nelson Ferraz. A 12 foi a vez de apresentar Joaquim Pessoa com "Dos Pássaros e dos Homens". No dia 15 trouxe-nos "A Espantosa Realidade das Coisas", poema de Alberto Caeiro, um dos heterónimos pessoanos.

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