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  • Paulo Jorge Pereira

Mariana Lopes lê "Levantado do Chão", de José Saramago

Prémio Camões em 1995 e único português agraciado com o Nobel da Literatura (1998), o primeiro romance foi publicado em 1947 e chamava-se "Terra do Pecado". Hoje a proposta volta a ser sobre "Levantado do Chão" e chega de uma leitora do Alentejo: Mariana Lopes.



Com "Levantado do Chão", em 1980, Saramago traçara o retrato das enormes desigualdades e da exploração dos mais desfavorecidos pelos mais ricos no Alentejo durante a ditadura e até à Revolução do 25 de Abril. Sobre esta obra, o próprio autor escreveria: "Um escritor é um homem como os outros: sonha. E o meu sonho foi o de poder dizer deste livro, quando terminasse: 'Isto é um livro sobre o Alentejo'. Um livro, um simples romance, gentes, conflitos, alguns amores, muitos sacrifícios e grandes fomes, as vitórias e os desastres, a aprendizagem da transformação, e mortes. É, portanto, um livro que quis aproximar-se da vida, e essa seria a sua mais merecida explicação". De 1982 vem o seu primeiro grande sucesso com a publicação de "Memorial do Convento", mas outros livros seus foram merecendo elogios: "O Ano da Morte de Ricardo Reis" (1984), "A Jangada de Pedra" (1986) e "História do Cerco de Lisboa" (1989) são só alguns exemplos.

Serralheiro mecânico, desenhador, administrativo, tradutor, editor, jornalista, argumentista - bem pode dizer-se que José Saramago foi um homem dos sete ofícios. Desenvolveu o gosto pela leitura na Biblioteca do Palácio Galveias, mas só nos anos 80 passou a viver do trabalho como escritor. O cinema também se interessou pelos seus livros como o exemplificam as adaptações d'"A Jangada de Pedra (2002), "Ensaio sobre a Cegueira" (2008) ou "O Homem Duplicado" (2014). Nascido na Azinhaga a 16 de novembro de 1922, morreu a 18 de junho de 2010. Comunista até ao fim.

Por outro lado, "Deste Mundo e do Outro" reúne as crónicas que José Saramago escreveu para o jornal A Capital entre 1968 e 1969 e cuja edição de estreia aconteceu em 1971. Uma obra essencial para compreender todo o trabalho literário do Nobel português, conforme o próprio explicou: "De todo o modo, os factos estão à vista: entre a primeira linha da primeira crónica e a última linha do último romance, parece ser discernível um fio contínuo ligando tudo, ao mesmo tempo que se identifica uma lógica condutora que em tudo reconhece um sentido", referiu.

Se já era objeto de admiração em Portugal e pelo mundo fora, os seus livros ganharam dimensão universal após o Nobel, recebido em 1998. Antes, porém, em abril de 1992, foi alvo de Sousa Lara, então subsecretário de Estado da Cultura no Governo de Cavaco Silva, que retirou "O Evangelho Segundo Jesus Cristo", muito atacado pela Igreja Católica, da lista de candidatos a um galardão literário europeu. No ano seguinte, o escritor, casado com a jornalista Pilar del Río desde 1988, cortou relações com o poder político e fixou residência na ilha espanhola de Lanzarote. Só em 2004, com Durão Barroso como chefe do Governo, o assunto foi superado. Três anos mais tarde, nasceu a Fundação José Saramago (desde 2012 tem sede na Casa dos Bicos, em Lisboa), dedicada à promoção da Literatura, mas também a defender valores como os Direitos Humanos e o ambiente. Controverso e muitas vezes criticado pelas posições assumidas, Saramago distribuiu o trabalho literário por romances, contos, crónicas, teatro, poesia, viagens, memórias e livros para crianças.

"Cadernos de Lanzarote II" foi a obra escolhida por Elisabete Jesus para apresentar um trecho de um livro de José Saramago a 29 de setembro, mas já havia outros exemplos: a primeira aconteceu quando li um excerto da obra "Levantado do Chão", a 20 de abril; a 11 de junho, pela voz do jornalista Ricardo Figueira, surgiu "Caim"; "O Ano da Morte de Ricardo Reis" teve aqui uma presença inicial quando a estudante Jet Vos, terceira classificada no Concurso Nacional de Leitura, apresentou um trecho, a 29 de agosto do ano passado; depois da leitura de setembro referida em cima, a 30 de dezembro li uma passagem da obra "Memorial do Convento". Mais recente, de 20 de janeiro, foi a minha leitura de um pouco do livro "História do Cerco de Lisboa". E "O Ano da Morte de Ricardo Reis" regressou quando li um trecho a 5 de fevereiro. Outro regresso, neste caso do livro "Cadernos de Lanzarote", surgiu pela voz de Fernanda Silva a 24 de março. A 27 de abril, Fernando Soares leu uma crónica do livro "Deste Mundo e do Outro".


Editorial Caminho


"E esta outra gente quem é, solta e miúda, que veio com a terra, embora não registada na escritura, almas mortas, ou ainda vivas? A sabedoria de Deus, amados filhos, é infinita: aí está a terra e quem a há de trabalhar, crescei e multiplicai-vos. Crescei e multiplicai-me, diz o latifúndio. Mas tudo pode ser contado doutra maneira", escreve Saramago.

Mariana Lopes chega aqui pela ação inestimável de um dos muitos heróis em segredo desta pandemia: o bibliotecário itinerante António Bento Ramires, de Redondo, que aqui já ajudara a 15 de abril com a leitura de poesia popular, enviada por Maria Brás Calado, de Santa Susana. E assim voltamos a ter à nossa disposição a leitura de um excerto do livro "Levantado do Chão". E que bem que o faz!

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