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Paulo Jorge Pereira

Armando Liguori Junior lê "Macunaíma", de Mário de Andrade

Um livro que contém um "herói sem qualquer caráter" e, até, "preguiçoso", mas é uma obra-prima da Literatura brasileira: "Macunaíma", de Mário de Andrade, é a proposta de leitura hoje apresentada por Armando Liguori Junior.



Foi a cidade de São Paulo que, a 9 de outubro de 1893, serviu de cenário ao nascimento de Mário Raul de Moraes Andrade, futuro autor de romances, poemas, ensaios, contos, crónicas e críticas, também com invulgar talento para música e fotografia. Seria personalidade marcante e farol do movimento modernista, além de se revelar um exímio pianista, deixando espantados os professores do Conservatório. Porém, sofreu profundo abalo em 1913, na sequência da morte do irmão Renato, então com 14 anos. Foi uma fase muito delicada, durante a qual teve mesmo de afastar-se da paixão pela música no Conservatório e encontrar refúgio psicológico numa fazenda do interior. No regresso já perdera qualidades e passou a concentrar-se na preparação para ser docente de música.

O ano de 1917 tem sabor agridoce: morre o pai, Carlos Augusto, e o escritor estreia-se a publicar com "Há Uma Gota de Sangue em cada Poema", embora assine com o pseudónimo Mário Sobral. Continua o percurso literário e, em 1922, passa a ser professor catedrático de História da Música, exercendo funções no Conervatório Dramático e Musical paulista. Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade, Menotti del Picchia e Anita Malfatti são seus companheiros no designado Grupo dos Cinco, cuja atividade se concentra no movimento modernista. Dedica particular atenção ao folclore e à Cultura brasileira e a publicação de "Macunaíma" será um exemplo desse empenho profundo.

Ao mesmo tempo que desenvolve os seus livros continua o trajeto noutras direções: de 1934 a 1938 exerce como diretor do Departamento de Cultura na cidade de São Paulo, seguindo-se mudança para o Rio de Janeiro, cidade em que assumirá o papel de catedrático de Filosofia e História da Arte, mas também como diretor do Instituto de Artes da Universidade do Distrito Federal. No regresso a São Paulo, em 1940, passa a desempenhar tarefas como elemento do Serviço de Património Histórico e Artístico Nacional. Não abranda na escrita e publicação de livros e, com apenas 51 anos, a 25 de fevereiro de 1945, acaba por morrer, depois de ter sido vítima de um ataque cardíaco.

Do trabalho literário de Mário de Andrade, além de "Macunaíma" (1928), hoje aqui proposto por Armando Liguori Junior e adaptado ao grande ecrã em 1969, com realização de Joaquim Pedro de Andrade e o ator Grande Otelo como protagonista, fazem parte títulos como estes: "Há uma Gota de Sangue em cada Poema" (1917); "Paulicéia Desvairada" (1922); "A Escrava que não É Isaura" (1925); "Primeiro Andar" (1926); "Clã do Jabuti" e "Amar, Verbo Intransitivo (ambos de 1927); "O Aleijadinho de Álvares de Azevedo" (1935); "Poesias" (1941); "O Movimento Modernista" (1942); "O Empalhador de Passarinhos (1944). Com publicação póstuma são "Lira Paulistana" (1946); "Contos Novos" (1947); "Poesias Completas" (1955) e "O Banquete" (1978).


Adaptado ao Cinema em 1969 pelo realizador Joaquim Pedro de Andrade, "Macunaíma" teve como protagonista o ator Grande Otelo.

Armando Liguori Junior, ator e jornalista de formação, tem vários livros publicados; três de poemas ("A Poesia Está em Tudo" – Editora Patuá 2020; "Territórios" – Editora Scortecci 2009; o recente "Ser Leve Leva Tempo", que já aqui apresentou a 5 de maio, Dia Mundial da Língua Portuguesa; e um de dramaturgia: "Textos Curtos para Teatro e Cinema (2017) – Giostri Editora). Atualmente mantém um canal no YouTube (Armando Liguori), dedicado a leituras literárias, especialmente de poesia. Estreou-se nas leituras aqui para o blog com "Se te Queres Matar Porque Não te Queres Matar?", de Álvaro de Campos, a 15 de julho de 2020, seguindo-se "Continuidades", de Walt Whitman, a 7 de agosto e "Matteo Perdeu o Emprego", de Gonçalo M. Tavares, a 11 de setembro, várias leituras do meu "Murro no Estômago" (a 16 de outubro de 2020 e a 5 de setembro de 2021). Em 2021, a 12 de fevereiro, apresentou "Pelo Retrovisor", de Mário Baggio, seguindo-se "A Gaivota", de Anton Tchekhov, a 27 de março, Dia Mundial do Teatro; "A Máquina de Fazer Espanhóis", de Valter Hugo Mãe, a 5 de maio, Dia Mundial da Língua Portuguesa; e, a 10 de junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, com leituras de "Cheira Bem, Cheira a Lisboa", de César de Oliveira, e um trecho de "Viagem", de Miguel Torga. A 26 de outubro surgiu "O Medo", de Carlos Drummond de Andrade, e Niels Hav com "Em Defesa dos Poetas" foi o passo seguinte, a 28. Antes de hoje, Armando Liguori Junior apresentara "Algo Está em Movimento", de Affonso Romano de Sant'Anna, a 30 de outubro do ano passado. A 2 de março leu "O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá", de Jorge Amado, e no dia 6 apresentou "A Máquina", de Adriana Falcão. "As Coisas", de Arnaldo Antunes, foi a proposta de 13 de março. A 5 de maio, Dia Mundial da Língua Portuguesa, leu "Ser Leve Leva Tempo". A 13, Armando Liguori Junior deixou outro exemplo de talento ao ler "Pássaro Triste", do seu livro "Toda Saída É de Emergência". No dia 19, Cecília Meireles e o poema "Escolha o seu Sonho" foram as propostas.

A apresentação do livro "Ser Leve Leva Tempo" aconteceu há poucas semanas e pode ser recordada aqui.

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