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  • Paulo Jorge Pereira

Especial Feira do Livro: Armando Liguori Junior lê "O Poeta Fernando"

É com "O Poeta Fernando", um exemplo extraído da sua mais recente obra, "Eu Poderia Estar Matando", que Armando Liguori Junior regressa às leituras por aqui.



Armando Liguori Junior, ator e jornalista de formação, acaba de publicar "Eu Poderia Esstar Matando", aqui lendo hoje "O Poeta Fernando", mass tem outros livros publicados: três de poemas ("A Poesia Está em Tudo" – Editora Patuá 2020; "Territórios" – Editora Scortecci 2009; o recente "Ser Leve Leva Tempo", que já aqui apresentou; e um de dramaturgia: "Textos Curtos para Teatro e Cinema (2017) – Giostri Editora). Atualmente mantém um canal no YouTube (Armando Liguori), dedicado a leituras literárias, especialmente de poesia. Estreou-se nas leituras aqui para o blog com "Se te Queres Matar Porque Não te Queres Matar?", de Álvaro de Campos, a 15 de julho de 2020, seguindo-se "Continuidades", de Walt Whitman, a 7 de agosto e "Matteo Perdeu o Emprego", de Gonçalo M. Tavares, a 11 de setembro, várias leituras do meu "Murro no Estômago" (a 16 de outubro de 2020 e a 5 de setembro de 2021). Em 2021, a 12 de fevereiro, apresentou "Pelo Retrovisor", de Mário Baggio, seguindo-se "A Gaivota", de Anton Tchekhov, a 27 de março, Dia Mundial do Teatro; "A Máquina de Fazer Espanhóis", de Valter Hugo Mãe, a 5 de maio, Dia Mundial da Língua Portuguesa; e, a 10 de junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, com leituras de "Cheira Bem, Cheira a Lisboa", de César de Oliveira, e um trecho de "Viagem", de Miguel Torga. A 26 de outubro surgiu "O Medo", de Carlos Drummond de Andrade, e Niels Hav com "Em Defesa dos Poetas" foi o passo seguinte, a 28. Antes de hoje, Armando Liguori Junior apresentara "Algo Está em Movimento", de Affonso Romano de Sant'Anna, a 30 de outubro de 2021. A 2 de março de 2022 leu "O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá", de Jorge Amado, e no dia 6 apresentou "A Máquina", de Adriana Falcão. "As Coisas", de Arnaldo Antunes, foi a proposta de 13 de março.

A 5 de maio, Dia Mundial da Língua Portuguesa, leu "Ser Leve Leva Tempo". A 13, Armando Liguori Junior deixou outro exemplo de talento ao ler "Pássaro Triste", do seu livro "Toda Saída É de Emergência". No dia 19, Cecília Meireles e o poema "Escolha o seu Sonho" foram as propostas. Seguiu-se um excerto de "Macunaíma", de Mário de Andrade, a 27 de maio. De 3 de junho é a proposta de leitura de "Sapatos", de Rubem Fonseca. A 4 de novembro leu "Samadhi", de Leila Guenther. De dia 24 é "Carta a Meus Filhos sobre os Fuzilamentos de Goya", de Jorge de Sena. "O Gato e o Pássaro", de Jacques Prévert", foi a leitura de 29 de novembro. A 13 de janeiro trouxe um poema de Cristina Peri Rossi. A 5 de maio, no Especial sobre o Dia Mundial da Língua Portuguesa, aqui voltou o seu "Ser Leve Leva Tempo". A 18 de maio voltou "O Medo", de Carlos Drummond de Andrade.


"Ser Leve Leva Tempo" é o título do trabalho poético que Armando Liguori Junior publicou antes de "Eu Poderia Estar Matando".

Na origem de um universo complexo, formado por diferentes temáticas e numerosos heterónimos, está um dos principais nomes da poesia lusófona e figura central do movimento modernista, Fernando António Nogueira Pessoa, nascido no quarto andar do número 4 do Largo de São Carlos, o edifício em frente ao Teatro Nacional de São Carlos, a 13 de junho de 1888, em Lisboa. A infância foi atribulada, pois, com apenas cinco anos, Pessoa perdeu o pai, Joaquim de Seabra Pessoa, vítima de tuberculose, e também o irmão Jorge, no ano seguinte. Com dificuldades financeiras, a mãe, Maria Madalena, mudou-se para o número 104 da rua de São Marçal e iria casar-se com João Miguel Rosa a 30 de dezembro de 1895. Viveu durante nove anos na cidade sul-africana de Durban, pois ali o seu padrasto desempenhava a missão de cônsul. Tornou-se fluente também em inglês, foi um estudante notável numa escola católica irlandesa, criou o pseudónimo Alexander Search, começou a escrever poesia em inglês e perdeu uma irmã, Madalena Henriqueta, que morreu com dois anos. Volta a Lisboa com a família para férias e aqui nasce João Maria, quarto filho do segundo casamento da mãe. Visitam os Açores e Tavira para contactar com familiares, mas o jovem Fernando, sentindo que a mãe lhe dedica menos atenção, começa a ficar distanciado do resto da família. De tal forma que fica em Lisboa algum tempo mesmo depois de os outros familiares voltarem para Durban. Quando regressa, estuda durante o dia na área de Letras com o objetivo de se tornar universitário, mas à noite está na Durban Commercial School. Com o nome de David Merrick faz tentativas de escrita de contos e, em 1903, falha a entrada na Universidade do Cabo, embora seja agraciado com o prémio Rainha Vitória porque o seu ensaio em inglês obtém a melhor classificação entre mais de oito centenas de candidatos. Passa outro ano na escola em solo sul-africano e aprofunda conhecimentos de Literatura antes de viajar sozinho para Lisboa onde irá viver com uma avó e duas tias.

Aos 17 anos, tenta o curso superior de Letras, mas deixa-o ao fim de um ano sem sucesso. Passa para uma aprendizagem por conta própria, "devorando" na Biblioteca Nacional livros sobre disciplinas que o fascinavam: Filosofia, Literatura, Sociologia e Religião. Não tardou a aventurar-se no universo da escrita - primeiro, pelo lado da crítica (1912); depois, pela via da prosa criativa (uma parcela do "Livro do Desassossego", publicada no ano seguinte); e logo com a publicação de poemas (1914). A vida pessoal tinha contornos de saltimbanco, uma vez que tanto precisava de viver com familiares como de se isolar em quartos alugados. No capítulo profissional, não era dos livros que extraía rendimento - em vida publicou apenas "Mensagem" e três obras em inglês -, mas sim do trabalho como tradutor e a escrever cartas comerciais em inglês ou francês. Vai participar em tertúlias literárias no café A Brasileira (mas também no Martinho da Arcada) com amigos como Almada Negreiros, Mário de Sá-Carneiro ou António Botto, transformando-se em elemento preponderante do Modernismo que, em 1915, participa na revista Orpheu (dirige mesmo o segundo e último número em parceria com Mário de Sá-Carneiro) e, em 1924, ajuda a lançar a Athena - aqui publica poesia em seu nome, mas também nos dos heterónimos Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis. Pelo meio conhece Ofélia Queirós que ficará na biografia do poeta como a única namorada da sua vida. Conhecem-se em maio de 1920, quando a então jovem de 19 anos entra no escritório onde trabalha Pessoa para ser datilógrafa, mas a morte do padrasto, o regresso a Lisboa da mãe do poeta e a questão de Ofélia passar a viver mais longe representam demasiado peso, pelo que a relação parece acabada em novembro de 1920. A mãe morre em 1925 e Pessoa passa a viver na rua Coelho da Rocha, aqui produzindo milhares de páginas de obra dispersa e variada: poesia, textos filosóficos e políticos (chega a escrever contestação e críticas a Salazar e à ditadura), teatro, contos (alguns deles policiais), crítica literária, traduções e até horóscopos. Sim, porque na referida carta de 1935 a Adolfo Casais Monteiro, o poeta escreve sobre o seu gosto por astrologia e pelo ocultismo: "Creio na existência de mundos superiores ao nosso e de habitantes desses mundos, em experiências de diversos graus de espiritualidade, subtilizando até se chegar a um Ente Supremo, que presumivelmente criou este mundo."

Escreve sempre muito, muitas vezes no café Martinho da Arcada, e em diferentes superfícies, sejam cadernos ou anúncios, na parte de trás de cartas, em panfletos, papel com o selo das firmas para as quais trabalha ou simples folhas soltas. Charles Robert Anon e Jean Seul serão outros dos nomes que integram a extensa lista de heterónimos. Em 1929, retoma o relacionamento e as cartas trocadas com Ofélia, mas é um amor platónico. As bebidas alcoólicas tornam-se uma companhia constante na vida de Pessoa, algo que acabará por apressar-lhe o fim. Internado no hospital de São Luís dos Franceses a 29 de novembro de 1935, o poeta morre no dia seguinte, aos 47 anos.

A obra assinada por Fernando Pessoa ou pelos seus heterónimos já aqui teve várias presenças: eu li um excerto do "Livro do Desassossego", assinado por Bernardo Soares, a 9 de abril de 2020; mais tarde, a 15 de junho, nova leitura de parte da obra com assinatura de um heterónimo, dessa vez com "A Espantosa Realidade das Coisas", na voz de Sandra Escudeiro; a 15 de julho foi vez de Armando Liguori Junior apresentar "Se Te Queres Matar Porque Não Te Queres Matar?", de Álvaro de Campos; com assinatura do próprio Pessoa, "Ó Sino da Minha Aldeia", inserido na obra "Ficções do Interlúdio", foi a leitura proposta por José António de Carvalho a 21 de agosto. E também com um dos 44 poemas da obra "Mensagem", publicada em 1934, um ano antes da morte do poeta, se compôs nova presença pessoana por aqui. Neste caso trata-se do poema "O Mostrengo", inserido na segunda parte do livro.

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