Depois de Clarice Lispector, que homenageou no dia em que a escritora completaria 100 anos, Inês Henriques mantém-se na América do Sul e propõe um excerto do livro "Os Sete Loucos", do argentino Roberto Arlt.
Julio Cortázar chamou-lhe "mestre" e considerou-o "um dos nossos maiores profetas", mas também outros escritores sul-americanos, como o compatriota Sábato e o uruguaio Onetti, manifestaram sempre respeito pela sua obra e pela sua memória, dando decisivo contributo para que muitos se interessassem pelo trabalho de Roberto Emilio Godofredo Arlt, jornalista, escritor de romances, teatro e contos e, por vezes, inventor, nascido a 26 de abril de 1900 em Buenos Aires, Argentina. A mãe, a austro-húngara Ekatherine Lobstraibitzer, e o pai, o prussiano Karl Arlt, tinham trocado a pobreza na Europa por uma tentativa de melhorar a sua condição na América do Sul. Passou por uma infância sobressaltada pelos tiranos abusos do pai, perderia duas irmãs devido à tuberculose, seria expulso da escola com oito anos e, aos 16, fugiria de casa para se dedicar a uma aprendizagem solitária. De repente, viu-se a viver várias vidas em apenas uma com os diferentes papéis que interpretou: de um jornal local ao porto, mas também numa biblioteca, a fazer de soldador, mecânico, pintor ou até a trabalhar com ladrilhos. Porém, iria mesmo enveredar pelo jornalismo e publicar o primeiro romance em 1926 com o título "El Juguete Jabioso".
Seis dos seus livros, entre os quais "Os Sete Loucos", de que aqui se apresenta um trecho, tiveram direito a adaptações cinematográficas - na obra mencionada, o guião foi escrito por Electra Mirta Arlt, filha do escritor e da sua primeira mulher, Carmen Antinucci, que viria a ser docente, investigadora, tradutora e escritora premiada, tendo morrido com 91 anos em 2014. Mas Arlt também escreveu muitas peças de teatro e livros de contos. A 25 de maio de 1940, quando já estava separado da primeira mulher, casou-se no Uruguai com Elisabeth Mary Shine de quem teve um filho que já não conheceu, uma vez que foi vítima fatal de uma paragem cardíaca a 26 de julho de 1942.
Editora Cavalo de Ferro/Tradução de Rui Lagartinho e Sofia Castro Rodrigues
Afirma Gonçalo M. Tavares sobre os livros de Roberto Arlt: "Cada página diz coisas fortes, nenhuma página é desperdiçável."
Inês Henriques tem presença regular e soma a nona participação aqui no blog. Estreou-se a 27 de abril com "Perto do Coração Selvagem", de Clarice Lispector; voltou a 10 de maio e leu um excerto de "A Disciplina do Amor", de Lygia Fagundes Telles; no último dia de maio apresentou parte de "351 Tisanas", obra de Ana Hatherly; a 28 de junho, propôs literatura de cordel, com um trecho do livro "Clarisvânia, a Aluna que Sabia Demais", escrito por Luís Emanuel Cavalcanti, a 22 de agosto apresentou um excerto da obra "Contos de Amor, Loucura e Morte", escrita por Horacio Quiroga, a 15 de setembro leu um trecho de "Em Açúcar de Melancia", de Richard Brautigan, a 18 de novembro voltou com "Saudades de Nova Iorque", de Pedro Paixão, e na última quinta-feira, 10 de dezembro, prestou a sua homenagem a Clarice Lispector no dia em que a escritora faria 100 anos, lendo um conto do livro "Felicidade Clandestina".
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